Posts filed under ‘Semana da História’
ESTADO SOBREVIVE AO DECLÍNIO DA NAÇÃO (V)
.Mesmo depois desta multiplicação de estados, há povos, ou comunidades sociais baptizadas como tais, que procuram uma forma de organização política própria que lhes assegure a sua individualidade, a sua autonomia, a sua afirmação nacional e internacional. Hoje distinguem-se os kosovares, os tutsis, os tibetanos, os chechenos, os curdos, os timorenses, como ontem se referiam os magiares, os ruténios, os checos, os gregos, os angolanos, os argelinos, os judeus e os árabes. Ou, ao contrário, povos separados que se uniram recentemente, como os alemães e os vietnamitas. É a história que não pára e prepara o fôlego para o novo milénio..
O futuro do Estado-Nação é, no entanto, menos promissor do que a sua história nos últimos cinco séculos. No próximo milénio, a justaposição de vários planos, sub e sobrenacionais, exigirá ao Estado-Nação uma grande capacidade de adaptação: processos de regionalização, relações interestaduais, integração em grandes espaços económico-estratégicos, eis dinamismos que não deixarão o plano nacional em repouso. No futuro, a nação será uma comunidade que os cidadãos escolhem e não uma identidade que lhes é imposta. O Estado, nascido de um contrato constitucional democrático, como pretendiam os enciclopedistas, terá mais condições de afirmação, no novo milénio, do que a nação, entidade prévia à vontade dos cidadãos e instância subordinadora destes. O plano do Estado-Nação é ainda o mais adequado para a conquista e o exercício das liberdades públicas e individuais..
.Estado sobrevive ao declínio da nação. (José Medeiros Ferreira) . Notícias do Milénio
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ESTADO SOBREVIVE AO DECLÍNIO DA NAÇÃO (IV)
.Foi com efeito a Primeira Guerra Mundial que promoveu a noção de Estado-Nação à categoria de critério universal para o bem fundado da organização internacional dos povos.
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Há momentos em que até as nações imperiais querem libertar-se da dimensão imperial para se autocentrarem no seu Estado-Nação. Ninguém melhor do que Kemal Ataturk para nos explicar o caso da Turquia, presa do tecido Império Otomano e do omnissocial califado. Disse Ataturk em 1923: .A nação turca sofre demasiado por ter ignorado a sua própria nacionalidade. Os diferentes povos que compunham o Império Otomano emanciparam-se, utilizando precisamente os seus sentimentos nacionalistas. Pelo nosso lado, nós passámos a compreender o que somos . uma nação estrangeira diferente dessas nações . exactamente no momento em que fomos expulsos por elas….
Eis a melhor síntese histórica sobre as relações entre império e nação feita no período em que os grandes impérios davam lugar aos Estados-Nação na organização do sistema internacional. Finlandeses, lituanos, letónios, polacos, estónios, ucranianos, checos, eslovacos, eslovénios encontraram, ora na religião, ora na língua, ora na tradição, ora na luta política, os fundamentos da sua liberdade e da sua independência, consolidados por estados que também terão as suas tentações totalitárias. Na orla mediterrânica e do golfo Pérsico floresceram as nacionalidades libertas do Império Otomano..
.Estado sobrevive ao declínio da nação. (José Medeiros Ferreira) . Notícias do Milénio
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ESTADO SOBREVIVE AO DECLÍNIO DA NAÇÃO (III)
.No entanto, quer o desmembramento dos grandes impérios no fim da Primeira Guerra Mundial, quer a multiplicação de Estados independentes depois da segunda, deixaram órfãos vários povos que procuram um abrigo para sua protecção através dos direitos das minorias em estados que lhes são, ou foram, hostis. E se o povo judaico alcançou o seu Estado com o fim do mandato britânico, já os palestinianos tiveram mais dificuldades em encontrar um território reconhecido. Do mesmo se queixaram povos como os arménios e os curdos, e ainda hoje os timorenses procuram na identidade maubere um traço distintivo da sua personalidade como povo..
.Estado sobrevive ao declínio da nação. (José Medeiros Ferreira) . Notícias do Milénio
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ESTADO SOBREVIVE AO DECLÍNIO DA NAÇÃO (II)
.Essa fórmula do Estado-Nação recebeu forte alimento no rescaldo das duas guerras mundiais do século XX. Após a primeira guerra, é sobretudo o desmembramento dos grandes impérios, como o alemão, o austro-húngaro, o otomano e até o russo, que origina o fulgor e a multiplicação dos Estados-Nação no hemisfério Norte. Depois da Segunda Guerra Mundial, é o processo de auto-determinação encorajado pelas Nações Unidas que culmina com a descolonização e faz nascer o culto do Estado-Nação no hemisfério sul, no qual o Estado precede muitas vezes a construção da nação.
Mais perto do fim do século, o termo da Guerra Fria levou à unificação alemã e ao desmembramento de federações políticas como a URSS e a Jugoslávia, exacerbando nacionalismos e rivalidades étnicas e religiosas..
“Estado sobrevive ao declínio da nação” (José Medeiros Ferreira) . Notícias do Milénio
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ESTADO SOBREVIVE AO DECLÍNIO DA NAÇÃO (I)
.A criação do Estado foi uma das obras-primas da civilização europeia e um dos seus produtos mais copiados em outras partes do mundo.
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O elemento essencial dessa organização, ou dessa institucionalização, foi a progressiva centralização do poder, no sentido weberiano de .monopólio da força legítima., na instância do político, em desfavor das regalias de senhores feudais, ou de príncipes da Igreja, entre os séculos XIV e XVII.
Num segundo momento, o Estado desenvolve-se em luta contra a Igreja Católica e contra as várias reminiscências da ideia de império no continente europeu.
É na briga do Estado contra a forma imperial de organização dos povos, e de certa maneira contra a concepção monárquico-absolutista,que surge a fórmula do Estado-Nação. A Revolução Americana e a Revolução Francesa servem depois de matrizes para a emancipação colonial da América Latina e para a .revolução dos povos. de 1848..
“Estado sobrevive ao declínio da nação” (José Medeiros Ferreira) . Notícias do Milénio
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OUTRA ORDEM APARENTEMENTE OCIDENTAL (V)
.E foram precisamente o Japão e as potências marítimas europeias, com excepção de Portugal, os países que sofreram as maiores devastações territoriais.
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Terminada a II Guerra Mundial, .os povos. a que se refere a Carta das Nações Unidas depositavam a sua esperança na vontade de construir um mundo mais pacífico, sem impérios e sem guerras. Cedo essa esperança se desvaneceu e a ordem dos impérios deu lugar à ordem bipolar dominada pela corrida aos armamentos e pelo factor nuclear. Por fim, também esta ruiu, com a queda do Muro de Berlim, com o desaparecimento do Bloco de Leste e com a desagregação da União Soviética.
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O mundo é hoje estrategicamente unipolar face ao poder inigualável dos EUA; é multipolar, numa perspectiva económica, com quatro pólos fundamentais, se aceitarmos acrescentar a China ao grupo dos EUA, UE e Japão; é mais democrático e mais seguro, pois se algo se prevê hoje que possa ser excluído da globalização é a guerra. Mas o mundo é muito instável, talvez mais do que anteriormente, devido ao excesso de poder dos pequenos estados, das minorias e dos mais variados grupos que defendem de forma egoísta, radical e violenta, alguns interesses que erradamente consideram inegociáveis. Enfim, o mundo está a construir uma nova ordem aparentemente ocidental, que não está ainda baptizada nem estabilizada, mas que se deseja venha a satisfazer os mais nobres anseios da humanidade..
“Outra ordem aparentemente ocidental” (António Emílio Ferraz Sacchetti) . Notícias do Milénio
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OUTRA ORDEM APARENTEMENTE OCIDENTAL (IV)
.Na segunda metade do século XIX, enquanto se desenvolviam os impérios coloniais, a Europa viveu um período de guerras, de realinhamentos de fronteiras e redefinições de fidelidades, da unificação da Itália e da Alemanha e da formação dos impérios centrais.
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Mas foi também um período de guerras no resto do mundo, que continuou pelo século XX. Começou com a Guerra dos Bóeres (1889-1902), com a Russo-Japonesa (1904-1905), mas também com o assassínio do Rei Alexandre I da Sérvia (1903) e com a constante perturbação nos Balcãs: independência da Bulgária (1908), crise da Bósnia (1908-1909), Guerra Ítalo-Turca (1911-1912), Primeira e Segunda Guerra dos Balcãs (1912 e 1913) e o assassínio do príncipe herdeiro austro-húngaro Francisco Fernando e de sua esposa em Sarajevo, a 28 de Junho de 1914, origem da Grande Guerra.
Como consequência desta última, desapareceram os impérios centrais: o Império Austro-Húngaro e o Império Otomano, porque se desagregaram; o Império Alemão, porque passou a república, em Novembro de 1918, e já tinha perdido todas as colónias no ano anterior. Simultaneamente, por ter rebentado a Revolução Russa e ter sido proclamada a república, também este império desapareceu, em 16 de Março de 1917.
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Assim, sobreviveram à Grande Guerra apenas os impérios marítimos europeus e o Império Nipónico..
“Outra ordem aparentemente ocidental” (António Emílio Ferraz Sacchetti) . Notícias do Milénio
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OUTRA ORDEM APARENTEMENTE OCIDENTAL (III)
.Depois da iniciativa portuguesa começou a luta pelo domínio do mar, já que o usufruto das riquezas distantes dependeria do controlo do comércio marítimo.
Um exemplo desta competição foi, sem dúvida, a guerra entre a França de Napoleão e a Inglaterra de Jorge III. A clara diferença de mentalidades levou Napoleão a declarar o bloqueio continental à Inglaterra, tendo esta respondido com o bloqueio marítimo. A vitória acabou por caber aos ingleses e, a partir desta data e durante pouco mais de um século, Sua Majestade britânica .governou os mares. quase sem oposição.
Os impérios coloniais consolidaram-se. Os territórios ultramarinos acabaram por ser objecto de uma partilha entre as grandes potências europeias, nas conferências de Bruxelas, de 1876, e de Berlim, de 1884-85. Portugal foi muito prejudicado pelo facto de a ocupação efectiva prevalecer sobre os direitos de descoberta ou sobre os direitos históricos..
“Outra ordem aparentemente ocidental” (António Emílio Ferraz Sacchetti) . Notícias do Milénio
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OUTRA ORDEM APARENTEMENTE OCIDENTAL (II)
.Na transição da Idade Moderna para a Contemporânea, do século XVIII para o XIX, apareceu a noção de Estado e de Estado imperial. Os conceitos de soberania e de fronteira passaram a ter maior importância tanto na Europa como na demarcação dos impérios coloniais. Rapidamente, das guerras entre povos levadas a cabo por grandes exércitos passou-se às guerras entre estados, e entre alianças que eram, na realidade, constituídas para somar exércitos.
Por fim, o século XX ficará marcado pelo aparecimento da geopolítica, pelo confronto de ideologias e pelo mau emprego que estas fizeram das teorias geopolíticas, pelas guerras que foram grandes e mundiais, e pelo fim de todos os impérios.
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Vasco da Gama descobriu o caminho marítimo para a Índia e estabeleceu a ligação entre a Europa e outras civilizações avançadas do mundo. Álvares Cabral e seus marinheiros, exactamente a meio do milénio, foram os primeiros homens a tocar em quatro continentes, na mesma viagem (Europa, América, África e Ásia). D. Francisco de Almeida foi o responsável pelo primeiro governo europeu permanente fora da Europa.
Estava dado o primeiro passo para a globalização e foi criado um império diferente, baseado não na conquista territorial, como o espanhol, mas no poder marítimo e no comércio..
“Outra ordem aparentemente ocidental” (António Emílio Ferraz Sacchetti) . Notícias do Milénio
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OUTRA ORDEM APARENTEMENTE OCIDENTAL (I)
.Quando se aproximava o segundo milénio, a Europa estava a recuperar das derradeiras invasões: os cavaleiros magiares asiáticos, a que chamaram .flagelo húngaro., tinham sido contidos no território onde haviam de se organizar como reino; a penetração .viking. diluíra-se por diversos pontos da costa europeia e pelos estuários dos rios; a expansão muçulmana, mais consolidada na Península Ibérica, começava a ser repelida pela reconquista cristã.
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Na segunda metade do século XIV, em 1354, teve início o avanço otomano na Europa, a última das grandes invasões vindas de leste. E se hoje muito se fala da derrota dos príncipes sérvios no Kosovo, em 1389, a conquista de Constantinopla pelos turcos, em 1453, marcou o fim do Império Romano do Oriente e também o fim da Idade Média.
Em pleno renascimento e bem a meio do segundo milénio, os portugueses iniciaram a criação dos novos impérios..
“Outra ordem aparentemente ocidental” (António Emílio Ferraz Sacchetti) . Notícias do Milénio
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