Archive for 5 Novembro, 2011
«O Pânico Grego»
«A minha declaração inicial de intenções (coisa na moda) é sobre referendos: fui contra todos! Sou contra todos! O referendo é um instrumento que colhe um momento, em vez de um processo; impede a consensualização, dando todo o poder ao vencedor; e encerra todas as perversidades da demagogia e do irracionalismo, o contrário do que pretende na democracia representativa. […]
Posto isto, que já não é pouco, acho absolutamente indecoroso e inacreditável o modo como o diretório da Europa lidou com Papandreu. Aqueles que por tudo e por nada defenderam e fizeram referendos (lembram-se de Sakozy e do “não” francês à Constituição Europeia?, ou da importância que Merkel dá às eleições nos estados alemães?), reagiram indignados à hipótese de ouvir os gregos.
A posição de Papandreu era desesperada. Como analisava no “FT” o professor de Yale Stathis Kalyvas, ou tinha uma morte lenta com as sucessivas greves e mini-insurreições, ou se suicidava com eleições, ou tentava reanimar-se ganhando apoio num referendo. Escolhera esta via, com a mesma legitimidade com que outros governantes europeus – a sua maioria – a escolheriam. E a Europa responde-lhe: quer queiras ou não, tens de aplicar a receita, mesmo sem o apoio de um único grego! E se não fores tu, é outro! Ele, claro, cedeu, mas a Europa mostrou o seu lado mais negro. […]
Os líderes europeus poderiam, ao menos, fingir que pensam. Infelizmente, não chegam a esse patamar: perante qualquer dificuldade, entram em pânico – e esta torna-se a principal causa do pânico nos mercados. […]»
(Henrique Monteiro, Expresso, 05.11.2011)