UMBERTO ECO – O PÊNDULO DE FOUCAULT (IX)
“Só restava a calúnia, e aqui o rei tinha bom jogo. Boatos sobre os Templários, circulavam já há tempos.
Como seriam vistos estes “coloniais2 pelos bons franceses, que só os viam andar à sua volta a cobrar décimas e sem darem nada em troco, nem sequer – agora – o seu próprio sangue de guardiões do Santo Sepulcro? Franceses também, mas não completamente, quase pieds noirs ou, como se dizia na época, poulains.
Se calhar ostentavam costumes exóticos, sabe-se lá se entre si não falariam a língua dos mouros, a que estavam habituados. Eram, monges, mas davam espectáculo público dos seus costumes truculentos, e já anos antes o papa Inocêncio III tinha sido induzido a escrever uma bula. De insolentia Temploriorum.
Tinham feito voto de pobreza, mas apresentavam-se com o fausto de uma casta aristocrática, com a avidez das novas camadas mercantis, e com o atrevimento de um corpo de mosqueteiros.
É preciso pouco para se passar ao murmúrio alusivo: homossexuais, heréticos, idólatras que adoram uma cabeça barbuda que não se sabe donde virá, mas certamente não do panteão dos bons crentes, talvez partilhem dos segredos dos Ismaelitas, e negociem com os Assassinos do Velho da Montanha.
Filipe e os seus conselheiros de qualquer maneira tiraram partido destes boatos.”
P. S. Novos agradecimentos, ao Doce da Avozinha e ao Zone41.net.
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