Archive for 29 Junho, 2013

100.ª edição do “Tour de France”

29 Junho, 2013 at 8:00 pm Deixe um comentário

2008 – Memória dos materiais de escrita

MVR-10

A escrita é guardiã fiel da memória. Deste modo ela torna presentes as coisas antigas, atesta as novas e, comprovando-as, delas dá testemunho a fim de que, no decurso dos tempos futuros, não caiam no esquecimento *

Com o final do Império romano do ocidente (final do século V d.C.), surge uma nova instituição, a Ordem monástica, assumindo o papel primordial a nível de transmissão da cultura, concentrando as tarefas de ensino e de escrita. Durante a Idade Média, os monges copistas, trabalhando no scriptorium de cada mosteiro e abadia, transcreviam ou copiavam textos, manuscritos, inicialmente sobre rolos de papiro e, mais tarde, em pergaminho, possibilitando o surgimento dos primeiros livros (“codex”).

Os rolos de papiro apresentavam vários inconvenientes, quer em termos de custo, quer pela sua fragilidade, assim como pelo facto de apenas serem utilizáveis de um dos lados, sendo, por outro lado, de difícil consulta e manuseamento.

Graças à sua resistência e grande capacidade de se manter inalterado ao longo de séculos, o pergaminho – feito a partir da pele de animais – constituir-se-ia como suporte básico de escrita durante toda a Idade Média, quer a nível de livros, quer de documentos. Tornaram-se então famosos os palimpsestos – etimologicamente, derivando das palavras gregas palin (“outra vez”) e psan (“raspar”) –, traduzindo que o pergaminho fora raspado (para apagar o texto inicial) e reescrito.

Sabeis como procede o copista. Primeiro, começa por limpar a gordura do pergaminho com um raspador para retirar as maiores impurezas; depois, com a pedra-pomes, faz desaparecer completamente os pêlos e os ligamentos” (Hildeberto de Lavardin, início do século XII, citado por PERNOUD, Régine – La plume et le parchemin, Paris, Denoel, 1983, p. 76).

A pele dos animais (principalmente ovinos e caprinos) recebia ainda um banho de cal, sendo depois esticada em bastidores, onde, sob tensão, secava, após o que podia ser ainda polvilhada com cal, para que a tinta aderisse melhor, e, também, polida com pedra-pomes, para amaciar a sua superfície.

Só a partir do século XV o pergaminho perderia a primazia, perante a crescente utilização do papel, criado na China há cerca de 2000 anos, introduzido no Ocidente pelos árabes apenas cerca de 1150. Cânhamo, capim e palha foram também materiais para escrita utilizados pela humanidade.

Até ao século XIX produzia-se papel com base em trapos velhos (farrapos) lavados, deixados a apodrecer durante semanas, e depois desfeitos. A polpa assim obtida era então mergulhada em água e moldada em formas, sendo ainda prensada, banhada em cola e estendida para secagem.

O papel produzido a partir da pasta de celulose apenas surgiria em meados desse século, passando então a madeira a ser a principal matéria-prima para fabrico de papel. Apenas a partir da década de 60 do século XX o eucalipto se tornou amplamente utilizado como principal fonte de fibra.

Eram diversos os instrumentos utilizados na escrita pelos escribas, desde o esquadro, régua, compasso e estilete (para marcação das margens e das linhas das folhas), passando pelos primordiais cálamo (caneta feita de cana fina e oca, utilizada desde a Antiguidade) e penas de ave, principalmente de ganso (usadas a partir do século IV d.C.) – que ditaria a sua lei até à Idade Contemporânea, com a invenção dos aparos de metal.

As tintas utilizadas, essencialmente metalo-gálicas – compostas por sal metálico (sulfato de cobre ou de ferro) e ácido gálico, de nozes de galha (excrecências formadas nas folhas ou ramos de carvalho) –, podiam ser de “cor” (destinadas à decoração dos manuscritos e às letras iniciais – obtidas a partir da adição de corantes), ou “negras” (efectivamente, com uma tonalidade variando entre o castanho amarelado e o preto, para escrita dos textos, quer em livros, quer em documentos). Nas iluminuras era também usada a folha de ouro, aplicada com minúcia sobre o pergaminho.

Bibliografia consultada

– “Monumentos de Escrita – 400 anos da história da Sé e da cidade de Viseu (1230 – 1639)”, Roteiro da Exposição, Maria do Rosário Barbosa Morujão e Anísio Miguel de Sousa Saraiva, pp. 17 a 19

– “A Informação escrita: do manuscrito ao texto virtual“, Rita de C. R. de Queiroz)

* Fr. Gonçalo, “Uisensis dictus episcopus”, Alcobaça, 1176 – Instituto dos Arquivos Nacionais – Torre do Tombo – Mosteiro de Alcobaça, 1ª incorp., Documentos Particulares, M.º 1, Doc. 13

(publicado originalmente em 22.06.2008)

29 Junho, 2013 at 7:00 pm Deixe um comentário

2008 – Memória da escrita

MVR-10

Sempre que os homens sentiram a necessidade de conservar os instantes que a história comporta, a escrita se fez lei. Em todos os tempos, o homem que soube escrever foi rei *

Há mais de dois milhões de anos que a humanidade começou a comunicar por via da articulação de sons.

Não obstante o homem exprimir o seu pensamento e procurar comunicar através de meios gráficos há cerca de 20 000 anos (desde a arte rupestre, com inscrições e pinturas cavernas, a partir do Paleolítico superior), apenas cerca de 30 a 40 séculos a.C. seria criado o primeiro código de escrita, inventado pelos Sumérios, permitindo dar os primeiros passos na fixação da linguagem oral de uma forma perene, ao mesmo tempo que vinha permitir a comunicação através do tempo e do espaço.

Desde as origens da escrita – cuja difusão, com início nas civilizações da Mesopotâmia, Egipto, China antiga e América pré-colombina, está primordialmente associada à evolução da memória –, foram utilizados diversos suportes, como placas de argila, pedra e madeira, rolos de papiro, pergaminho, antes do papel, que só chegaria à Europa cerca de 1150 e apenas a partir do século XV adquiriria a primazia.

Cerca de meados do quarto milénio a.C., os Sumérios, ocupando a Mesopotâmia – geralmente considerada a civilização mais antiga da humanidade, constituindo-se, durante cerca de 1500 anos, no grupo cultural dominante no Médio Oriente – introduziram a escrita cuneiforme (caracteres em forma de “cunha”, inscritos em tábuas de argila por via de estiletes, inicialmente com um sistema pictográfico, em que imagens ou objectos expressavam ideias), o que estaria associado a uma produção literária bastante evoluída, a par de um desenvolvido sistema jurídico, culminando no Código de Hamurabi, o mais remoto de que há conhecimento (cerca de 1800 a.C.).

Juntamente com a escrita cuneiforme, a escrita hieroglífica egípcia tornar-se-ia num dos mais importantes contributos para o desenvolvimento dos sistemas de escrita, na transição para o uso de sinais de escrita com valor fonético, surgindo a escrita semítica como o protótipo da escrita alfabética (formada por 22 símbolos).

O alfabeto fenício, adoptado pelos gregos cerca de 900 a.C., sendo objecto de adaptação até ao século IV a.C. (originando o alfabeto jónico, com 24 letras), tornar-se-ia na origem directa de todas as escritas alfabéticas ocidentais.

O alfabeto latino, derivado do grego, compreendia inicialmente apenas 16 letras, só posteriormente tendo sido introduzidas as letras g, h, j, k, q, v, x e y. O latim, difundido no mundo ocidental pelos romanos, originaria diversas línguas românicas, que começaram a ser traduzidas de forma escrita a partir do século IX d.C. No caso do português, apenas seria observável sob a forma escrita a partir da segunda metade do século XII.

(Para saber mais, pode consultar o texto de base bibliográfica a este artigo: “A Informação escrita: do manuscrito ao texto virtual“, Rita de C. R. de Queiroz)

* Georges Jean, “La escritura: memoria de la humanidad”, tradução Enrique Sánchez Hormigo, Ediciones B, S. A., Barcelona, 1998

(publicado originalmente em 21.06.2008)

29 Junho, 2013 at 5:00 pm Deixe um comentário

2008 – A imprensa e os arquivos da Memória

MVR-10

A memória é o essencial, visto que a literatura está feita de sonhos e os sonhos fazem-se combinando recordações *

Com Gutenberg e a imprensa (cerca de 1450), a escrita ascende a uma outra plataforma, amplificando a memória colectiva a tal ponto que já não é passível de ser fixada (decorada) na íntegra, no que se traduz numa nova revolução, iniciando o declínio da “arte da memória”, tal qual valorizada pela escolástica.

O texto escrito torna-se hegemónico a nível do movimento científico, dando origem, a partir sensivelmente do século XVIII, à “sociedade leitora”, a par do surgimento do conhecimento enciclopédico, procurando concretizar a quimera de concentrar numa única obra todo o conhecimento da humanidade, em múltiplas artes da cultura, artes e ciência.

Começam, também no século XVIII, a ser criados os primeiros “depósitos da memória”, que assim começa a materializar-se, nomeadamente com os arquivos centrais como a Casa de Sabóia em Turim ou em São Petersburgo. Com a Revolução Francesa surgem os Arquivos Nacionais, em 1790; em Inglaterra, o Public Record Office nasce, em Londres, em 1838, passando a estar disponíveis para consulta pública documentos constitutivos da memória nacional.

Em paralelo, são inaugurados os primeiros museus públicos: o Louvre, cerca de 1750, o Pio-Clementino (Vaticano – cerca de 1770), o Prado (Madrid – 1785) ou o de Berlim (1830).

Também por esta época (década de 1830), dá-se outra revolução na memória “social”, com o aparecimento da fotografia (introduzida por Louis Daguerre e Joseph Nicéphore Niepce), possibilitando, pela primeira vez, “conservar o tempo” em imagens…

Antecedendo a derradeira fractura revolucionária, com origem a partir de 1950, com o início da memória electrónica, precursora da sociedade da informação ou da actual sociedade em rede, desde 1993, com a abertura da Internet ao domínio público, acelerando bruscamente o fluxo de informação e a socialização.

Bibliografia consultada

– “Memória e sociedade contemporânea: Apontando tendências”, Ângela Maria Barreto, Revista ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina, Florianópolis, v.12, n.2, p. 161-176, jul./dez., 2007

– “A Informação escrita: do manuscrito ao texto virtual”, Rita de C. R. de Queiroz

* Jorge Luis Borges

(publicado originalmente em 18.06.2008)

29 Junho, 2013 at 3:00 pm Deixe um comentário

2008 – História da Memória

MVR-10

Chego aos campos e vastos palácios da memória onde estão tesoiros de inumeráveis imagens trazidas por percepções de toda a espécie. Aí está também escondido tudo o que pensamos, quer aumentando quer diminuindo ou até variando de qualquer modo os objectos que os sentidos atingiram. Enfim, jaz aí tudo o que se lhes entregou e depôs, se é que o esquecimento ainda o não absorveu e sepultou. *

Jacques LeGoff (na sua obra “História e Memória”) propõe algumas fases na “história da memória”:

1. Memória oral
2. Memória oral em que a memória escrita assume uma função específica
3. Fase medieval de equilíbrio entre as duas fontes de memória
4. Fase moderna, em que a memória escrita assume papel decisivo
5. Fase da memória em expansão.

Nas sociedades sem escrita, a memória oral consubstanciava-se na preservação da informação por especialistas, os chamados “homens-memória”, verdadeiros guardiões da história dos grupos ou comunidades, assumindo papel fundamental na transmissão do saber. A memória transmitia-se por via da aprendizagem, não sendo uma reprodução exacta “palavra por palavra”, mas antes uma evocação mais ou menos difusa.

Com o advento da escrita, a memória colectiva viria a sofrer uma verdadeira revolução, com o aparecimento de novas possibilidades de conservação da informação: primeiro, sob a forma de inscrição (de que constituem exemplos, entre outros, os obeliscos e estelas); mais tarde, por via de documentos escritos, possibilitando perenizar a informação, superando barreiras de tempo e espaço.

Grandes civilizações de eras antigas como as da Mesopotâmia, do Egipto, da China ou da América Pré-Colombina, serviram-se da memória escrita como marca de progresso. Já na época da Grécia antiga, os “mnemon” (“memórias-vivas”), que asseguravam a conservação da memória do passado relativamente a decisões judiciais, acabariam por vir a transformar-se, com a evolução da memória escrita, em arquivistas.

Na Idade Média, o conceito de memória evolui, passando a estar primordialmente associado à difusão da doutrina cristã, com a memória dos livros sagrados, dos Santos, e dos obituários, evocando os nomes de benfeitores. Por outro lado, a escrita, conjugando a memória e a alegoria personificante da divindade, torna-se o veículo privilegiado da relação do crente com Deus. Nesta fase, a memória escrita desenvolve-se ainda em paralelo, ou de forma complementar, com a memória oral. Os manuscritos serviam então, também, para ser aprendidos de cor…

Bibliografia consultada

– “Memória e sociedade contemporânea: Apontando tendências”, Ângela Maria Barreto, Revista ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina, Florianópolis, v.12, n.2, p. 161-176, jul./dez., 2007

– “A Informação escrita: do manuscrito ao texto virtual”, Rita de C. R. de Queiroz

* Santo Agostinho, “Confissões” (tradução de J. Oliveira Santos e A. Ambrósio de Pina), Braga, Livraria Apostolado, 11ª edição, 1984

(publicado originalmente em 17.06.2008)

29 Junho, 2013 at 1:00 pm Deixe um comentário

2008 – O que é a Memória?

MVR-10

Porque é frágil a memória dos homens e para que, com o tempo, não caiam no esquecimento os feitos dos mortais, nasceu o remédio da escrita para que, por meio dele, os factos passados se conservem como presentes para o futuro. *

O que é a memória?

As definições de memória falam-nos da função ou capacidade de captar, gravar/reter, armazenar/arquivar, classificar e, num segundo tempo, evocar/recuperar informação.

Em termos gerais, e de forma subjectiva, uma faculdade cognitiva de recordação ou lembrança.

Dizem-nos também que não existe uma única memória genérica, mas sim várias dimensões da memória, decorrendo de diferentes fontes / estímulos, desde os associativos, aos emocionais, passando pelos conceptuais.

E, noutro prisma, (i) Memória de procedimentos, entendida como a capacidade de reter e processar informações não verbalizadas, de que será um dos exemplos mais cabais “aprender a andar de bicicleta”; e (ii) Memória declarativa, associada à capacidade de verbalizar determinado facto, compreendendo vertentes diversas:

  • memória sensorial (tempo médio de percepção de um estímulo pelos nossos órgãos sensoriais, de 3 a 5 décimos de segundo) – visual ou auditiva (também passível de captação via outros sentidos);
  • memória de curto prazo, imediata, objecto de solicitação a todo o instante, permitindo reter – até durante um período de algumas dezenas de segundos – até cerca de 7 elementos distintos; e
  • memória de longo prazo, de cariz permanente (virtualmente, durante toda a vida) – contrariamente às anteriores, em que a informação percepcionada é rapidamente esquecida ou apagada –, com uma considerável capacidade de retenção ou armazenamento mental, a qual é depositária das nossas lembranças e aprendizagem, permitindo tirar proveito das experiências vivenciadas.
  • A memória, assim considerada como base do conhecimento, necessita portanto ser trabalhada / estimulada, facultando também a partilha entre indivíduos com essas vivências comuns, permitindo dessa forma a transmissão de experiências e valores entre gerações.

    * Arenga de 1260 (Viseu, Arquivo do Museu de Grão Vasco, PERG / 08)

    (publicado originalmente em 17.06.2008)

    29 Junho, 2013 at 11:00 am Deixe um comentário

    2008 – Memória

    MVR-10

    Conjunto de textos publicados a propósito do aniversário do Memória Virtual, retomando a sua matriz, tendo como tema em foco a Memória, em algumas das suas múltiplas vertentes.

    (Imagens via: 1 / 2 / 3)

    (publicado originalmente em 06.06.2008)

    29 Junho, 2013 at 9:00 am Deixe um comentário


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