2008 – A imprensa e os arquivos da Memória
29 Junho, 2013 at 3:00 pm Deixe um comentário
A memória é o essencial, visto que a literatura está feita de sonhos e os sonhos fazem-se combinando recordações *
Com Gutenberg e a imprensa (cerca de 1450), a escrita ascende a uma outra plataforma, amplificando a memória colectiva a tal ponto que já não é passível de ser fixada (decorada) na íntegra, no que se traduz numa nova revolução, iniciando o declínio da “arte da memória”, tal qual valorizada pela escolástica.
O texto escrito torna-se hegemónico a nível do movimento científico, dando origem, a partir sensivelmente do século XVIII, à “sociedade leitora”, a par do surgimento do conhecimento enciclopédico, procurando concretizar a quimera de concentrar numa única obra todo o conhecimento da humanidade, em múltiplas artes da cultura, artes e ciência.
Começam, também no século XVIII, a ser criados os primeiros “depósitos da memória”, que assim começa a materializar-se, nomeadamente com os arquivos centrais como a Casa de Sabóia em Turim ou em São Petersburgo. Com a Revolução Francesa surgem os Arquivos Nacionais, em 1790; em Inglaterra, o Public Record Office nasce, em Londres, em 1838, passando a estar disponíveis para consulta pública documentos constitutivos da memória nacional.
Em paralelo, são inaugurados os primeiros museus públicos: o Louvre, cerca de 1750, o Pio-Clementino (Vaticano – cerca de 1770), o Prado (Madrid – 1785) ou o de Berlim (1830).
Também por esta época (década de 1830), dá-se outra revolução na memória “social”, com o aparecimento da fotografia (introduzida por Louis Daguerre e Joseph Nicéphore Niepce), possibilitando, pela primeira vez, “conservar o tempo” em imagens…
Antecedendo a derradeira fractura revolucionária, com origem a partir de 1950, com o início da memória electrónica, precursora da sociedade da informação ou da actual sociedade em rede, desde 1993, com a abertura da Internet ao domínio público, acelerando bruscamente o fluxo de informação e a socialização.
Bibliografia consultada
– “Memória e sociedade contemporânea: Apontando tendências”, Ângela Maria Barreto, Revista ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina, Florianópolis, v.12, n.2, p. 161-176, jul./dez., 2007
– “A Informação escrita: do manuscrito ao texto virtual”, Rita de C. R. de Queiroz
* Jorge Luis Borges
(publicado originalmente em 18.06.2008)
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