O FLAGELO DO DOPING (IX)
1 Setembro, 2006 at 12:35 pm Deixe um comentário
Também em Portugal se verificaram alguns casos mediáticos de doping.
O mais antigo remonta a 1969, quando Joaquim Agostinho foi desclassificado da Volta a Portugal em bicicleta, cuja vitória seria alcançada por Joaquim Andrade. Agostinho reincidiria no início da década de 70, já depois de ter conquistado três vitórias consecutivas na prova, entre 1970 e 1972.
Esse record de vitórias apenas seria batido por Marco Chagas, tetra-vencedor da prova, em 1982, 1983, 1985 e 1986… mas também Marco Chagas seria abalado pelo doping: em 1979, depois de ter alcançado o 1º lugar, seria desclassificado a favor de Joaquim Sousa Santos, já a prova tinha terminado; voltaria a ser penalizado em 1984 (vitória de Venceslau Fernandes) e em 1987 (vitória de Manuel Cunha) – ver, em “entrada estendida”, uma entrevista recente de Marco Chagas, a propósito destes casos.
No futebol, os casos mais mediáticos foram os de Veloso (impedido de participar no Mundial de 1986 – alegadamente vítima lapso na recolha da amostra num jogo do Benfica), Kennedy (impedido de participar no Mundial de 2002) e, mais recentemente, de Abel Xavier.
(Em continuação, uma entrevista recente de Marco Chagas).
«Marco Chagas é dos desportistas que mais sentiu na pele os problemas do doping. Foi na época que correu que os controlos começaram a ser mais apertados. Devido a análises positivas perdeu uma volta a Portugal que tinha vencido e foi desclassificado em outra ocasião.
O seu primeiro problema foi na volta de 1979, quando era atleta do Lousa. Nesse ano ganhou a sua primeira Volta a Portugal mas foi desclassificado já depois da volta ter terminado. É um assunto que o deixa triste mas sobre o qual não tem receio de falar.
“Naquela altura havia muita indefinição e muita falta de cuidado também. Eu e o pessoal da minha geração pagámos muito caro isso porque até aos anos 70 o uso dessas substâncias era livre”, refere Marco Chagas, admitindo que nesse ano tomou coisas que não devia ter tomado.
“Nós achávamos sempre que estávamos dentro da lei. Ainda hoje a fronteira é muito ténue. Só que naqueles tempos não tínhamos médicos nem ninguém que nos apoiasse ou que nos dissesse o que se podia ou não tomar. Normalmente eram os massagistas que diziam que o outro tinha dito que se podia tomar. Nós fomos um bocado cobaias disso”.
O erro serviu-lhe de emenda e garante que a partir dai nunca mais tomou nenhuma substância ilegal. O que não o impediu de ser desclassificado mais uma vez devido a análises de doping positivas.
“Foi a maior injustiça que me podiam ter feito”, diz, garantindo que, conscientemente, nunca tomou nada que tivesse efedrina e muito menos norefedrina, substância que acusou nas voltas a Portugal de 1984 e 1987, em que foi desclassificado. “Eu muitas vezes nem vitaminas tomava”, garante.
Luís Horta, um dos mais reconhecidos especialistas portugueses na matéria, tem uma justificação que Marco Chagas considera que pode ser a razão para o que lhe aconteceu.
Nessa altura (anos 80) começaram a vir para Portugal as primeiras tabletes energéticas e alimentos líquidos compostos feitos na hora. João Rocha, que era presidente do Sporting e tinha negócios nos Estados Unidos, mandou vir produtos desses para a equipa de futebol e posteriormente para a secção de ciclismo.
“Hoje está provado que no início esses concentrados alimentares tinham uma composição demasiado rica, incluindo os derivados da efedrina”, diz o ciclista recordando que as substâncias que levaram à sua desclassificação hoje são legais.»
(via “O Mirante“)
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