Archive for 23 Janeiro, 2006
BLASFÉMIAS – 1 MILHÃO DE VISITANTES
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Os meus Parabéns à equipa do Blasfémias.
UMA VITÓRIA ANUNCIADA
Cavaco Silva obteve mais de 50 % dos votos, garantindo a eleição para o cargo de Presidente da República, ocupado, pela primeira vez em 31 anos, por um representante do centro-direita do espectro político português.
Todas as sondagens pré-eleitorais o indicavam; todas as projecções realizadas ontem o apontavam. Era uma vitória anunciada… mas, como agora se conclui, não “inevitável”.
Não é agora altura para procurar minorar a “tangencial” vitória de Cavaco Silva – para já (números ainda provisórios), com uma vantagem de cerca de 64 000 votos sobre o somatório dos restantes candidatos (ou seja, cerca de 32 000 votos acima do número mínimo para ser eleito); a legitimidade do vencedor é inquestionável. Tal como ontem afirmou, a maioria presidencial “dissolve-se” no próprio dia da eleição… tal como as “minorias presidenciais”.
Os portugueses decidiram em consciência; Cavaco Silva será o Presidente de todos os portugueses. Independentemente das diferenças de opinião, é mais que altura de todos “puxarmos” para o mesmo lado!
Tal como o indicavam as tendências das sondagens realizadas no decurso da campanha eleitoral (com uma clara erosão das percentagens que lhe eram atribuídas) a vitória de Cavaco foi difícil, acabando por aproximar-se bastante do que seria a sua votação mínima expectável (com um patamar mínimo que se intuia poder situar-se na ordem dos 49 %); alcançou 50,6 %, o suficiente para derrotar a “esquerda”.
Não entendo a “desunião” da esquerda (com 5 candidatos, dispersando votos entre si) como factor responsável pela derrota. Julgo que o facto do espectro de candidatos ser alargado terá contribuído, ainda assim, para que a abstenção não fosse ainda mais elevada.
O principal responsável pela derrota é, inequivocamente, o Partido Socialista (tal como nas eleições autárquicas com uma opção errada em termos de candidato). “A posteriori” é bem mais fácil perceber a dimensão do erro cometido; a derrota de Mário Soares (recolhendo apenas 14 % dos votos) é esmagadora! Não seria contudo difícil avaliar, logo à partida, que a opção Soares (ainda mais, depois do episódio com Manuel Alegre) não seria bem compreendida nem aceite pelos portugueses.
Ainda assim, uma palavra de apreço para o voluntarismo de Mário Soares, traído por um sonho anacrónico de “regresso ao passado”. Apesar da expressão da derrota, não merece ver diminuído o seu papel de estadista. O “fair-play” com que aceitou o desfecho é também digno de menção.
Votei em Manuel Alegre, porque entendia que – dos candidatos a estas eleições – era o que reunia condições que faziam dele o candidato com perfil mais adequado às funções de Presidente da República. Alegre, tendo uma expressiva votação (mais de 20 %), tem uma “vitória de Pirro”, uma vez que ficou a décimas (as décimas “a mais” conquistadas por Cavaco) do grande objectivo.
Deverá não obstante compreender o siginificado desta votação; começou por ser um voto de protesto contra a opção socialista, adquiriu alguma dinâmica de “esperança” que levou a que os indecisos “caíssem” preferencialmente para “o seu lado”. Mas, e assim o entendo pessoalmente, foi uma votação com especificidades próprias; esta “minoria” esgotou-se ontem; que Alegre não seja tentado a extrapolações indevidas dos resultados que obteve.
Jerónimo de Sousa sustém o peso relativo do eleitorado comunista (excendendo mesmo, com os seus 8,6 %, a votação da CDU nas legislativas), beneficiando do seu “perfil simpático”, e também da relativamente “boa imprensa” de que dispõe.
Francisco Louçã é – depois de Soares – o grande derrotado da noite eleitoral, “quedando-se” pelos 5,3 % (a determinada altura, pareceu chegar a estar no limiar da votação mínima para receber a comparticipação estatal, atribuída aos candidatos com mais de 5 % dos votos… o que terá sido um “grande susto”). O seu discurso repetitivo, com alguma “arrogância”, começa a cansar o eleitorado; esta sua campanha acaba por ser, de alguma forma, um “espelho” do que foi a campanha de Paulo Portas nas últimas legislativas.
Garcia Pereira teve uma votação residual (0,4 %), sem expressão, muito abaixo das percentagens do PCTP/MRPP.
Uma palavra final para o comportamento de José Sócrates ao longo de todo este processo. Não posso avaliar, em consciência, se Sócrates realmente “desejaria” este desfecho. Mas, o que parece claro é que é o responsável por uma estratégia errada, sendo portanto da sua responsabilidade, em primeira análise, a derrota da esquerda. O Partido Socialista pareceu “desistir cedo demais” de lutar pela vitória, parecendo “menorizar” a importância destas eleições. Não conseguindo mobilizar António Guterres primeiro, nem, de seguida, António Vitorino, deixou-se enredar na teia da candidatura de Manuel Alegre, o que levou os portugueses a não perdoarem a sua opção de última hora por Mário Soares.
O seu discurso de ontem foi “politicamente correcto”; o que é importante a partir de hoje é trabalhar pelo futuro de Portugal, num quadro de perfeita normalização institucional, com um Presidente que deverá exercer um papel de “árbitro imparcial”. Em democracia, o povo tem sempre razão; é essa a sua lógica subjacente inatacável. Sócrates esteve bem dizendo que a opção de Manuel Alegre foi legítima e que o Partido Socialista é plural. Ficou muito mal que a sua intervenção se tivesse sobreposto à de Manuel Alegre (mal estiveram também as televisões, privilegiando as palavras do Primeiro-Ministro, em detrimento das do candidato…); é difícil crer que tal tenha acontecido por casualidade.



