Archive for 20 Janeiro, 2006
DECLARAÇÃO DE VOTO
As ilações que retiro das reflexões anteriores traduzem-se numa opção de voto, que aqui deixo expressa, por um princípio de transparência que julgo devido a quem faz o favor de me ler (numa altura em que seria porventura “mais fácil” optar por não expressar esse sentido de voto ou, alternativamente, optar pela adesão à corrente aparentemente vitoriosa(!)). Não se trata de um apelo ao voto num candidato, mas tão só de uma espécie de “declaração de interesses”.
Porque vou votar Manuel Alegre?
– Porque estas eleições são “demasiado” importantes (muito mais do que se possa pensar!).
– Porque os resultados eleitorais dependem do voto (dos portugueses que decidam mobilizar-se, fazendo o “esforço” de se deslocarem às assembleias de voto, para exercerem o seu direito de cidadania), não sendo determinados pelas sondagens. E, em particular, nestas eleições, cada voto “conta”!
– Porque as funções presidenciais se centram na representação do país, na política externa, no acompanhamento (“suivi” na expressão em francês, traduzindo uma dualidade que integra também alguma componente de “fiscalização”) da acção do Governo. Manuel Alegre é hoje, a meu ver, o candidato com o perfil claramente mais adequado a estas funções.
– Porque as eleições presidenciais se destinam a eleger um Presidente da República e não um Governo. Durante a campanha eleitoral (uma campanha “morna”, sem grande debate de ideias), subsistiu a sensação de que o Presidente pode conduzir o país “para a frente”, tomando decisões; em Portugal, o órgão executivo é o Governo. Ao Presidente compete apreciar e validar essas decisões, mas não procurar de alguma forma influenciar a política governamental; é, acima de tudo, um moderador e um “árbitro” imparcial. Manuel Alegre, integrando o Partido Socialista, beneficia hoje da independência e autonomia necessárias para exercer uma magistratura de acompanhamento, sem ser “paternalista”, mas também sem “afrontar” / “bloquear” a acção governativa.
– Porque Portugal – depois dos anos atribulados que tem passado, com sucessivas alterações de Governo e, necessariamente, de políticas governamentais e, mais que isso, de orientações estratégicas (parecendo em alguns períodos não ter definido qualquer rumo futuro) – necessita, mais do que nunca nos últimos 10 anos, de garantir estabilidade. Manuel Alegre é o candidato que melhores garantias de estabilidade pode dar ao país, o que melhor pode contribuir para a “governabilidade”, evitando mais atrasos na evolução de Portugal, que não tem condições para continuar a ser um país “adiado”.
Os portugueses decidirão em consciência e, como é habitual dizer-se, a sua vontade será soberana; o candidato eleito será o Presidente de todos os portugueses. Independentemente das diferenças de opinião, é mais que altura de todos “puxarmos” para o mesmo lado!
ELEICÕES PRESIDENCIAIS – SONDAGENS (CONT.)
Porém, numa análise “mais fina” – ressalvo desde já que não sou, de forma alguma, “especialista” em sondagens, mas há alguns elementos que parecem relevar do “bom senso” – o que nos dizem as sondagens?
Será necessário começar por pensar que se trata de estudos “laboratoriais”, pressupondo condições “estáveis”, não podendo prever o impacto que teria, por exemplo, um hipotético Domingo de intempérie. A própria selecção das amostras, obedecendo necessariamente a regras estatísticas, não poderá de alguma forma enfermar de (involuntário) “enviesamento”, por via da enorme dificuldade em prever o comportamento dos potenciais abstencionistas (o comportamento do eleitorado “urbano” e do litoral é necessária e historicamente diverso do eleitorado “rural” e do interior)?
Até que ponto o desfasamento entre a data de realização dos estudos e a sua publicação (todos, com pelo menos 2 dias de antecedência – ou seja, um mínimo de 4 dias de antecedência face ao acto eleitoral) poderá afectar a tendência de evolução das sondagens durante o período de campanha (com Cavaco a ver a sua votação projectada a reduzir-se quase diariamente)? Poderá essa tendência prosseguir para além do período de realização dos estudos? Poderá, ao invés, a anunciada vitória de Cavaco e, por outro lado, a aparentemente garantida derrota de Soares, desmobilizar alguma parte do eleitorado? Qual?
Num cenário de grande incerteza (hoje mesmo, haverá talvez ainda 15 a 20 % de indecisos, com a sua redistribuição a constituir um “quebra-cabeças” para os responsáveis pelas sondagens), com particular incidência à esquerda do espectro eleitoral – o eleitorado socialista debate-se ainda com a indecisão entre votar Alegre, Soares, ou “ficar em casa” -, nada pode ser dado por garantido. Nem a vitória de Cavaco, nem a derrota de Soares (na relação de forças face a Alegre, bastaria uma “pequena” transferência de votantes entre um e outro, na ordem dos 4 %, para inverter a tendência).
Cavaco pode ainda vir a ampliar a margem que as sondagens hoje lhe atribuem e chegar, por exemplo, até aos 56 %. Mas, se porventura alguma parte do seu eleitorado der por adquirida a vitória e, se ao invés, o eleitorado de esquerda encarar estas eleições não como um “proforma”, mas como umas eleições importantes para o país, a surpresa pode acontecer ou, pelo menos, a incerteza poderá prolongar-se durante a noite, até final da contagem (a hipótese de um desfecho similar ao das eleições norte-americanas de há 5 anos, com um “empate técnico” entre Bush e Gore não pode ser colocada de parte! Ou, como sucedeu mais recentemente, uma situação análoga à verificada nas eleições na Alemanha… Ou seja, numa hipótese académica, o resultado das eleições de Domingo poderia até ficar eventualmente em suspenso – dependente de recontagens -, caso Cavaco viesse a ter uma votação muito aproximada aos 50,0 %…).
(a continuar)
ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS – SONDAGENS
Universidade Católica / RTP / Antena 1 / Público
Cavaco Silva – 52 %
Manuel Alegre – 19 %
Mário Soares – 15 %
Jerónimo de Sousa – 7 %
Francisco Louçã – 6 %
Garcia Pereira – 1 %
Eurosondagem / SIC / Rádio Renascença / Expresso
Cavaco Silva – 53,0 %
Mário Soares – 16,9 %
Manuel Alegre – 16,2 %
Jerónimo de Sousa – 7,2 %
Francisco Louçã – 5,8 %
Garcia Pereira – 0,9 %
Marktest – TSF / Diário de Notícias
09/1 10/1 11/1 12/1 13/1 14/1 15/1 16/1 17/1 18/1 19/1 20/1 Cavaco Silva 61,0 60,2 60,3 58,8 56,8 56,6 56,7 56,4 54,6 53,2 52,7 53,0 Manuel Alegre 11,5 13,1 13,9 13,8 15,6 16,0 18,2 19,5 18,4 19,0 19,2 20,6 Mário Soares 14,3 14,0 13,5 13,8 12,8 11,7 10,5 11,4 13,2 13,4 14,1 12,4 Jerónimo Sousa 6,9 7,2 5,3 6,0 6,5 6,0 6,8 5,5 6,4 7,2 7,2 7,0 Francisco Louçã6,1 5,5 6,7 7,2 7,8 9,3 7,3 6,8 6,6 6,3 6,1 6,5 Garcia Pereira 0,2 0,0 0,2 0,4 0,4 0,4 0,4 0,4 0,8 0,9 0,6 0,5
A avaliar pelas diferentes sondagens – com tendências claramente definidas e, de alguma forma, apresentando consistência entre si – Cavaco Silva deverá ser eleito Presidente da República, já à primeira volta. É o que dizem, sem excepção, todas as (inúmeras) sondagens realizadas ao longo dos últimos meses.
Não obstante o estreitamento da margem de Cavaco Silva relativamente à percentagem necessária para garantir a vitória (50 % dos votos, mais 1), em “condições normais” (que reflictam os pressupostos dos diversos estudos) não haveria a grande surpresa que os candidatos de esquerda ainda acalentam. A vantagem de Cavaco surge agora no limiar da margem de erro das sondagens, o que significa que muito dificilmente deixaria de alcançar a tal votação mínima.
Tudo parece portanto decidido. Até o 2º lugar de Manuel Alegre, que se foi “afastando” de Mário Soares (a única excepção é o estudo da Eurosondagem). Até as posições relativas de Jerónimo de Sousa e Francisco Louçã.
Assim será?
Porquê ir então votar no próximo Domingo? E em quem?…
(a continuar)
P. S. A visita ao Margens de Erro será hoje, necessariamente, “obrigatória”!