Archive for Setembro, 2010
Do jornalismo aos media
Da autoria de Rogério Santos, foi ontem lançada a obra “Do jornalismo aos media. Estudos sobre a realidade portuguesa”:
«O livro tem capítulos sobre história do jornalismo e dos media (imprensa, rádio e televisão) em Portugal, digitalização e novos media (edição, blogues e videojogos). Destaques para a análise do jornalismo na passagem do século XIX para o XX, sobretudo do percurso profissional de vários jornalistas com notoriedade no panorama cultural da época, a história dos primeiros dez anos do canal televisivo SIC e a análise de congressos dos partidos políticos através das notícias da televisão. A história, a sociologia do jornalismo e a etnografia, com recurso a análise de conteúdo e observação participante, foram as ciências convocadas para estes textos. Outros capítulos reflectem a investigação do autor sobre tendências e mutações dos media nacionais nos últimos 35 anos».
Qual deveria ser o preço de um livro digital?

A prática actual é a de disponibilizar os livros digitais a um preço ligeiramente inferior (em apenas alguns poucos euros) às correspondentes edições em papel, o qual não deixará de ser entendido pelos leitores como excessivo.
A questão que se coloca é: «Qual deveria ser o preço de um livro digital?» – de forma a assegurar o equilíbrio de interesses de autores, editores, livreiros… e leitores. Ou, de outro modo, quanto é que o leitor estará disposto a pagar por um livro desmaterializado?
Estas foram as perguntas que a editora Bélial decidiu colocar aos utilizadores da sua recentemente lançada plataforma de difusão digital, em paralelo com a disponibilização – em regime de preço livre (ou seja, o leitor pagava o que entendia “justo”, ou, se o pretendesse, não pagava mesmo nada) – de duas obras literárias.
Os resultados da experiência foram os seguintes: do total de 334 descargas de livros, 155 deram lugar a pagamento, enquanto 179 foram realizadas a título gratuito. O preço médio dos downloads pagos foi de 4,72 €; o valor mais baixo pago pelos utilizadores foi de 1 € (8 casos), sendo os preços mais comuns de 5 € (46 casos) e 3 € (23 casos); o preço máximo pago foi de 15 €!
Há mesmo quem defenda que deveria ser dada esta possibilidade aos leitores de uma forma mais generalizada: apreciar um livro e pagar apenas na medida da satisfação obtida relativamente à obra – ou “ver primeiro e pagar depois”, em contraponto à lógica tradicional de “pagar para ver”, que nos é imposta pelo marketing.
Esta revolução da economia do livro conduzir-nos-ia novamente à questão inicial: supondo que gostei do livro que li, quanto deverei pagar? Qual será o preço justo? Qual o valor mínimo que deveríamos pagar ao autor? 1 €? 2 €?
Portugal – Chipre (Euro-2012 – Qualif.)
Portugal – Eduardo, Miguel, Bruno Alves, Ricardo Carvalho, Fábio Coentrão, Manuel Fernandes (78m – João Moutinho), Raul Meireles, Danny (61m – Liedson), Nani, Quaresma e Hugo Almeida (84m – Yannick Djaló)
Chipre – Antonis Georgallides, Elias Charalambous, George Merkis, Marios Elia (66m – Savvas Poursaitides), Constantinos Charalambides (76m – Marios Nikolaou), Constantinos Makridis, Marinos Satsias, Siniša Dobrašinović, Andreas Avraam, Efstathios Aloneftis (56m – Yiannis Okkas) e Michalis Konstantinou
0-1 – Aloneftis – 3m
1-1 – Hugo Almeida – 8m
1-2 – Konstantinou – 11m
2-2 – Raul Meireles – 29m
3-2 – Danny – 50m
3-3 – Yiannis Okkas – 57m
4-3 – Manuel Fernandes – 60m
4-4 – Andreas Avraam – 89m
Cartão amarelo – Elias Charalambous (67m)
Árbitro – Mark Clattenburg (Inglaterra)
No dia em que partiu José Torres, numa triste ironia, a selecção de Portugal relembra nesta altura o pós-Saltillo: uma equipa completamente à deriva, sem rumo, absolutamente desconcentrada, sem qualquer ligação entre os sectores, averbando um resultado absolutamente inacreditável e inaceitável.
Com o seleccionador suspenso (por 1 mês, pela Federação Portuguesa de Futebol; por 6 meses, pela Autoridade Anti-Dopagem de Portugal), na bancada, a selecção entrou em campo a perder, concedendo um golo ao adversário logo aos 3 minutos.
Mesmo conseguindo empatar apenas cinco minutos volvidos, continuariam ao longo de todo o tempo de jogo as comprometedoras falhas defensivas, traduzindo uma confrangedora intranquilidade, proporcionando a uma débil selecção cipriota atingir a inimaginável marca de 4 golos!
Mal orientada, com opções discutíveis – jogando com dois médios defensivos e apenas um ponta-de-lança -, sem comando dentro e fora de campo, mesmo alegando em sua defesa um remate à trave e outro ao poste, a equipa portuguesa apenas pode queixar-se de si própria.
Na abertura da fase de qualificação para o EURO 2012, Portugal começa já a “fazer contas de cabeça”…
GRUPO H Jg V E D G Pt 1º Noruega 1 1 - - 2- 1 3 2º Chipre 1 - 1 - 4- 4 1 3º Portugal 1 - 1 - 4- 4 1 4º Dinamarca - - - - -- - - 5º Islândia 1 - - 1 1- 2 -
1ª jornada
03.09.10 – Islândia – Noruega – 1-2
03.09.10 – Portugal – Chipre – 4-4
Casa Pia – Condenações
Tendo sido considerados provados em Tribunal os crimes de pedofilia, os arguidos do processo “Casa Pia” foram condenados nas seguintes penas de prisão efectiva:
- Carlos Silvino: 18 anos
- Carlos Cruz: 7 anos
- Ferreira Diniz: 7 anos
- Jorge Ritto: 6 anos e 8 meses
- Hugo Marçal: 6 anos e 2 meses
- Manuel Abrantes: 5 anos e 9 meses
Querendo acreditar que, pese embora a morosidade do julgamento (quase seis anos), tenha sido feita justiça – não obstante alguns dos réus continuarem a alegar a sua inocência -, inicia-se agora, não obstante, mais uma etapa processual, que se antevê longa, a dos recursos apresentados pelos agora condenados – com efeitos suspensivos em termos do imediato cumprimento das penas, pelo que, para já, prosseguirão em liberdade. As sentenças tornar-se-ão efectivas apenas após trânsito em julgado, ou seja, apenas a partir do momento em que as decisões não possam ter recurso.
José Torres (1938-2010)

Com toda a propriedade, o bom gigante, que, um dia, pediu: «deixem-me sonhar», proporcionando imensas alegrias a tantos portugueses…
Casa Pia – 8 anos depois
A 25 de Novembro de 2002, Carlos Silvino era detido, despoletando o “processo Casa Pia” que tanta tinta faria (e virá a fazer ainda, durante largo tempo…) correr; a 31 de Janeiro de 2003, Carlos Cruz, a figura mais mediática do processo, era igualmente detido. Passaram-se quase 8 anos, e já 6 desde o início do julgamento!
Recuperando a memória (virtual), um breve flashback do que aqui tive oportunidade de escrever:
Como diz o Bastonário da Ordem dos Advogados, José Miguel Júdice, “o sistema (judicial) está a funcionar”.
Paulo Pedroso viu a medida de coacção que lhe era aplicável passar do grau máximo de privação de liberdade (4 meses e meio de prisão preventiva, a qual havia sido confirmada pelo juiz Rui Teixeira há pouco mais de 1 mês), para a de nível mais baixo (“fixação de termo de identidade e residência”).
Ao ouvir as declarações de Paulo Pedroso, retenho: “Esta era uma prisão ilegal e injusta…”; “… a certeza da minha inocência…”; “A pedofilia é um crime horrendo!”.
Conforme escrevia Pacheco Pereira, a (quebra da) “palavra de honra” será de facto o último estágio da “perda de dignidade” de um ser humano?
A ser assim, crendo nas palavras de Paulo Pedroso – ou estarei a ser naif? -, poderemos estar perante um grosseiro erro judicial de proporções tremendas (?).
E como ficará a credibilidade da justiça se, de facto, algum (ou alguns) dos indiciados deste processo da “Casa Pia” não for provado culpado?
lgumas provas testemunhais de menores que contribuíram para a decisão da prisão preventiva de Paulo Pedroso são consideradas pelo Acórdão do Tribunal da Relação, como: “frágeis, irrelevantes e inverosímeis”!!!
Depois da mensagem “cifrada” da Provedora da Casa Pia, Catalina Pestana, (pré)-avisando para o que “aí virá” (mais personalidades “famosas” envolvidas?), é a credibilidade das investigações e das provas testemunhais que é assim (seriamente) colocada em causa.
Em que é que ficamos?
Estes factos “novos” não deixam de constituír uma fortíssima pressão para que a justiça aja com a máxima celeridade; não é sustentável continuar a prolongar por muito mais tempo esta situação de indefinição, em que se vai começar a duvidar de tudo…
Hugo Marçal, que chegou a ser advogado do ex-funcionário da Casa Pia Carlos Silvino da Silva (“Bibi”), arguido num outro processo de pedofilia, sendo suspeito de 72 crimes de abuso sexual de menores, quatro de lenocínio (incentivo à prostituição com fins lucrativos), três de violação de segredo de justiça e um de violação de sigilo profissional, viu, à semelhança do anteriormente ocorrido com Paulo Pedroso, reduzir-se a medida de coacção que lhe fora aplicada do grau máximo (prisão preventiva), passando à de nível mais baixo (termo de identidade e residência) – isto após três dias de interrogatório.
Isto após outro Acórdão do Tribunal da Relação, contrariando um outro anterior, que originara a revisão da medida de coacção aplicada a Paulo Pedroso.
E agora?
O que é que “quem de direito” estará à espera para resolver urgentemente este caso? As investigações já duram há um ano!
Uma associação improvável?
A desgraça de uma arrasta a “queda” do outro?
O tema a que não se pode fugir nestes dias de colectivo “delírio febril” atingiu já um estágio tal que, aqui e agora, o que se pode pedir (exigir) é que todos os intervenientes (directos ou indirectos; voluntários ou involuntários) no processo parem um pouco para pensar e deixem de alimentar este “circo”.
Basta de quebras de segredo de justiça; basta de declarações de juízes, advogados, presumíveis arguidos. Já não há paciência para ouvir falar em escutas telefónicas…
Como dizia alguém, “deixem-nos (aos responsáveis envolvidos no sistema judicial) trabalhar” com a calma e serenidade que for possível.
As crianças envolvidas merecem, acima de tudo, que se apure a verdade, sem que se faça disto uma telenovela (“da vida real”).
Ainda iremos a tempo de conseguir que a justiça seja “justa”?
Por mim, não gostaria de ter de voltar ao assunto enquanto não se concluir o processo. Será possível?
Hoje, ficamos a saber que: «Os reconhecedores nada sabiam do arguido Paulo Pedroso: nem o seu nome, nem a profissão (apenas um deles achava que era “político”). Nenhum deles mencionou características faciais de relevo (indivíduo de óculos, mais novo que o arguido Jorge Ritto) nem outros elementos distintivos perceptíveis no contexto (como por exemplo, a marca do carro)», diz a juíza no despacho.»
Tenho de colocar a questão: Quais as bases que suportam a decisão de prisão preventiva em Portugal?
Como poderão ser os presos preventivos (em situações de “equívoco” como esta) ser ressarcidos dos prejuízos morais e materiais que lhes foram causados?
Será possível que, algum dia, deixe de pairar sobre eles a “sombra” da dúvida sobre a sua real e completa inocência?
Das Férias (II)

(«The Harvest», de Van Gogh, no Van Gogh Museum)
Dinheiro virtual vs. privacidade
Um tema muito interessante e de crescente actualidade, o da desmaterialização do dinheiro (nunca como hoje as notas tiveram uma conotação tão negativa, com as de valores mais elevados, como as de 200 e 500 euros, praticamente não utilizadas), face à perda de privacidade que decorre do controlo a que implicitamente nos sujeitamos ao recorrer ao dinheiro virtual, na sua actualmente mais difundida vertente de cartões de plástico.
É a questão abordada num muito pertinente artigo hoje publicado no El País, «El dinero, de plástico, por favor», que aponta os casos da Islândia, Finlândia e Japão, em que as notas e moedas ameaçam tornar-se uma espécie em “vias de extinção”.
E em que são elencados os prós e contras: a maior segurança proporcionada pelo dinheiro virtual, assim como a transparência acrescida, facilitando o combate à fraude e ao uso ilícito de dinheiro “vivo” (conhecido por branqueamento de capitais); em contraponto à perda de privacidade, com toda a nossa vida financeira a ficar registada, podendo eventualmente ser alvo de escrutínio – situação que poderá ser minorada pela implementação de sistemas de autenticação como o reconhecimento de voz ou de retina.





