Archive for 8 Junho, 2009
Eleições para o Parlamento Europeu
Algumas breves notas sobre os resultados das eleições de ontem para o Parlamento Europeu:
1. Em primeiro lugar, uma severa derrota para o Partido Socialista, por números “pesadíssimos”, quedando-se apenas pelos 26,6 %, pela primeira vez na história da democracia portuguesa abaixo de um milhão de votos, o que corresponde efectivamente a uma proporção que deverá assustar – e, necessariamente, fazer reflectir, com humildade e em profundidade, nas suas causas (voto de protesto contra o Governo, cabeça-de-lista pouco apelativo, lista com candidatos controversos, …) – os seus responsáveis: apenas cerca de 1 em cada 10 portugueses (inscritos) votou ontem no PS!
2. Uma vitória clara do Partido Social Democrata, aproveitando a hecatombe do PS, pese embora a percentagem obtida, com uma expressão minimalista, de apenas 31,7 %, representando, ainda assim, mais 180 000 votos que o principal adversário. Motivo natural de regozijo e esperança para os seus apoiantes, eventualmente não justificando tão esfusiante contentamento. Até porque, também para os seus responsáveis, não poderá deixar de constituir motivo de reflexão, o facto de PSD e PS alcançarem, em conjunto, a menor percentagem agregada de sempre: apenas 58,3 %.
3. Um aproveitamento extraordinário de resultados do Bloco de Esquerda, conseguindo maximizar a tradução de votos em deputados, vencendo a CDU por escassos 2 500 votos (a cabal demonstração de que cada voto conta, “mesmo”)… e, aparentemente, impondo o seu terceiro candidato ao nono do PSD, por cerca de de 6 000 votos. Com os 10,7 % obtidos, fica um pouco aquém do que algumas sondagens lhe chegaram a atribuir, mas obtém uma vitória importante. Ao BE a questão que parece colocar-se com crescente acuidade é: “O que fazer com estes votos”? Que amálgama de interesses, opiniões, perspectivas, representam?
4. Para a CDU, também na ordem dos 10,7 %, um travo “amargo e doce”: não deixa de ser uma percentagem aceitável, controlando a erosão do seu eleitorado… mas, em paralelo, uma derrota, mesmo que tangencial, face ao actual grande rival, caindo para o 4º lugar entre as principais forças políticas.
5. O CDS-PP consegue (uma vez mais) uma claríssima vitória sobre… as sondagens. Com 8,4 %, minimiza as perdas, garantindo 2 eleitos (o que muitos não acreditavam ser possível), mas, para além de ficar bastante aquém dos ambicionados “dois dígitos”, cai para a última posição entre as forças com representação Parlamentar (a nível nacional e na Europa).
6. Facto mais extraordinário destas eleições: a elevadíssima percentagem de votos brancos (4,63 %) – cerca de 165 000 portugueses (que se somam a mais 71 000 votos nulos, ou seja, 2 %) – votos que seriam mais que suficientes para eleger um deputado.
7. Sem o “amparo” / cobertura dos principais órgãos de comunicação social, os novos partidos revelaram grandes dificuldades em se implantar e em conquistar o voto dos descontentes com os partidos tradicionais, “perdendo face ao voto em branco”. Em particular, a votação no MEP (apenas 53 000 votos – 1,5 %), é, em minha opinião, particularmente penalizadora para quem procurou fazer a mais positiva campanha eleitoral, abordando de facto as questões europeias. Com cerca de 17 500 votos em Lisboa, e menos de 9 000 no distrito do Porto, o MEP necessitará desenvolver um grande trabalho para – num previsível cenário de maior tendência para a “bipolarização” – conseguir representação na Assembleia da República.
8. Uma palavra para a abstenção: normal! Com cadernos eleitorais necessariamente desactualizados, com uma campanha tão deficitária em termos de debate europeu, numa eleição sem a carga dramática de umas legislativas, 63 % de abstenção (um pouco mais de 6 milhões de inscritos) acaba por situar-se dentro do esperado, sendo de sublinhar aliás – uma vez mais – os 236 000 portugueses que fizeram o esforço de se deslocar às assembleias de voto para expressar a sua insatisfação perante a classe política em geral. Um sério aviso…
9. A encerrar, referência ao descalabro das sondagens eleitorais. Neste contexto de elevado abstencionismo, reconhece-se a dificuldade em antecipar o desfecho das eleições; mas – com tão significativos desvios face às tendências repetidamente proclamadas (apenas uma sondagem acertou na vitória do PSD!) – o que aconteceu neste processo eleitoral foi “mau demais”. Também aqui haverá motivo para necessária e aturada reflexão.
(também publicado no blogue “Eleições 2009“, do Público)



