Archive for 5 Junho, 2009
Oportunidade perdida
Há, já hoje (aliás, já há bastante tempo…), uma certeza: no rescaldo da noite eleitoral do próximo dia 7 – logo no seu início, ainda antes de serem divulgadas quaisquer projecções de resultados com base em sondagens à “boca da urna” – o primeiro grande foco de atenção será a elevadíssima taxa de abstenção destas eleições (um número na ordem dos 5 / 6 milhões de inscritos!).
Ao longo da noite – cada vez mais curta, no que respeita ao espectáculo televisivo, cenário e momento em que se “ganham as eleições” – para além dos vários representantes das diversas forças políticas concorrentes que reclamarão a(s) sua(s) vitória(s), quanto mais não seja sobre as sondagens, teremos o inevitável carpir de mágoas e busca (ou alijar) de responsabilidades relativamente ao crescente grau de desmobilização e alheamento dos cidadãos, no que denota, por outro lado, uma “demissão” das nossas responsabilidades individuais.
Esta campanha acabou por traduzir, infelizmente, e como de alguma forma se receava já – não obstante alguns meritórios esforços -, uma oportunidade perdida, de tal forma ficou afastada da preocupação de esclarecimento e debate das principais questões europeias.
Pior: foi (mais) uma campanha marcada pelo negativismo, por sucessivas tricas, que apenas contribuem para descredibilizar a classe política no seu todo. Exemplos poderiam ser inúmeros; para não me alongar muito:
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A fórmula “Candidato Vital Moreira”, adoptada por Paulo Rangel para se dirigir ao seu principal adversário nestas eleições (para evitar subalternizar-se, tratando-o por “Professor” – porque não, simplesmente, o comum tratamento por “Doutor”?) terá sido um dos momentos mais deselegantes da história das campanhas eleitorais em Portugal. Lamentável.
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Não menos lamentável, o violento vídeo que foi colocado a circular, divulgado por responsável da Juventude Socialista, pegando em palavras – descontextualizadas – de Paulo Rangel a propósito dos (que considera inexistentes) direitos dos animais.
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A pretensa falta de honestidade política na forma como foi atacada a (mal fundamentada) referência de Vital Moreira à criação de um imposto europeu (que, tendencialmente, viria a beneficiar Portugal).
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A infeliz referência de Vital Moreira ao caso BPN e a sequência de trocas de palavras que se seguiram, envolvendo nomeadamente Paulo Rangel e José Lello.
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As sucessivas (mútuas) acusações de “quem andava a esconder quem”: o PSD argumentando que o PS escondia Vital Moreira; o PS contrapondo que o PSD escondia Manuela Ferreira Leite.
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Noutro plano, os maus cartazes de campanha (os erros nos cartazes do PS; as péssimas fotografias – e enquadramento – de Manuela Ferreira Leite), numa notória deficiente prestação dos consultores de comunicação e imagem.
Uma honrosa excepção: chama-se MEP – Movimento Esperança Portugal. Procurou, dentro das condicionantes inerentes ao seu estatuto de estreante, fazer uma campanha pela positiva, com salutares preocupações de transparência, conseguindo – também nos cartazes, tal como nos “tempos de antena” – transmitir a mensagem mais apelativa. Entendo que mereceria ver os seus esforços recompensados com a eleição da sua voz em prol de uma “Europa de rosto humano”.
Posto isto, valerá a pena ir votar?
Claro que sim! Não deleguemos nos outros a responsabilidade da escolha, não esquecendo nunca que o voto individual (de cada um de nós) tem precisamente o mesmo valor que qualquer outro.
Imaginemos uma hipótese absurda: o que aconteceria se todos optássemos pelo comodismo de “ficar em casa”?
(também publicado no blogue “Eleições 2009“, do Público)



