Archive for 3 Junho, 2009
Europeísta convicto
Confesso que chego a sentir-me em “contra-corrente”, neste sentimento, perante tanto cepticismo e descrença na Europa.
Para além dos aspectos económicos e políticos – em meu entendimento, necessariamente, o projecto europeu só faz sentido se tiver por objectivo um progresso harmonioso e equilibrado de todos os países integrantes deste espaço -, sempre me atraiu a possibilidade de livre intercâmbio de culturas, sem qualquer tipo de fronteiras.
Nos últimos 22 anos, vi Portugal desenvolver-se a um ritmo notável, mudando decisivamente a sua face, de país “em vias de desenvolvimento” para um dos países mais ricos do mundo (não obstante a sua posição “intermédia” no seio dos 27 actuais membros da União Europeia), trilhando o caminho da modernidade (percurso que, não obstante, não poderá nunca ser considerado como “finalizado”).
Parece inquestionável que tal não teria sido possível fora desse espaço.
Num registo mais pessoal – qual “big brother” (não no sentido orwelliano, mas de irmão com uma diferença de idade relativamente significativa, de quase 11 anos) -, fiz questão de ter apenas duas interferências no percurso académico-escolar do “caçula”: a primeira, sugerindo que optasse pelo inglês quando iniciou o estudo de línguas estrangeiras; a segunda, recomendando-lhe enfaticamente que aproveitasse a vivência que eu gostaria de ter experimentado caso tivesse tido tal oportunidade, beneficiando, por via do programa Erasmus, da fantástica – enriquecedora, a todos os níveis – experiência de estudar num outro país da Europa.
E, prosseguindo no mesmo tipo de registo, não será também mera casualidade o facto de, em termos profissionais, integrar há praticamente 20 anos – desde que conclui a minha licenciatura -, uma firma internacional de base europeia, que tem precisamente como um dos seus principais valores, a sua cultura europeia, potenciando o intercâmbio de uma diversidade de culturas e idiomas.
Tendo sido já percorrido – ao longo de 50 anos – um caminho imenso, com múltiplas barreiras quebradas e dificuldades superadas, com concretizações emblemáticas como a da moeda única (também ela não imune à contestação), não nos podemos esquecer que o projecto da “construção europeia” se fez e continuará a fazer, necessariamente, à custa de cedências dos interesses individuais de cada Estado em favor do “interesse global”.
Perante os novos e difíceis desafios que se perfilam (nomeadamente a nível da questão energética, em articulação com as mudanças climáticas e a redução de emissões de gases poluentes, também associada ao relacionamento com a Rússia) – potenciados numa conjuntura de crise global, que parece adquirir contornos de estrutural, em que a questão do (des)emprego emerge como vital para o equilíbrio -, assim sejam capazes os actuais e futuros líderes europeus de, seguindo o exemplo de grandes Estadistas, como Robert Schuman, Jean Monnet, Alcide De Gasperi, Konrad Adenauer, Paul-Henri Spaak ou Jacques Delors, conseguir “ver mais longe”, para além da “espuma dos dias”.
(publicado originalmente no blogue “Eleições 2009“, do Público)



