Archive for 14 Abril, 2009
Visita às instituições da União Europeia
Encontro-me – desde segunda-feira – em Bruxelas, em visita às instituições da União Europeia, integrando um grupo de cerca de 20 bloggers, a convite do Grupo Parlamentar do PPE (Partido Popular Europeu), numa iniciativa do eurodeputado Carlos Coelho.
Num contexto em que impera o sentimento de alguma forma generalizado de que a Europa “está longe” (mesmo na sociedade da informação, à distância de um clique, Bruxelas parece demasiado afastada), e num enquadramento em que legitimamente se reclama para os portugueses o estatuto de cidadãos europeus (com os mesmos direitos de todos os outros), mas em que apenas um em cada três portugueses exercem o seu direito de voto nas Eleições Europeias (claramente abaixo da média), entendeu o referido Grupo oportuno e pertinente organizar este programa, visando permitir um contacto directo com os protagonistas das principais instituições comunitárias e o fornecimento de informação sobre alguns dos temas mais importantes da actualidade.
O intenso programa – incluindo reuniões e encontros com deputados portugueses no Parlamento Europeu, eurodeputados de outros países e de outras famílias políticas, responsáveis da Comissão Europeia e altos funcionários de instituições europeias, para além da visita a uma “mini-cidade” onde trabalham cerca de 5 000 pessoas (no edifício do Parlamento Europeu, em Bruxelas, com uma complexa logística decorrente de deslocações mensais para reuniões plenárias em Estrasburgo) – teve início no final do dia, com um jantar promovido por Carlos Coelho (muito bem assistido nesta organização por Duarte Marques).
O eurodeputado português sublinhou como “mensagem-chave” constituir o fantasma da abstenção (no caso concreto, dos eleitores portugueses) o principal adversário nas próximas Eleições Europeias.
Reforçaria que, enquanto cidadãos europeus, os portugueses devem – à semelhança dos cidadãos de outros Estados-membros – exercer o seu direito / dever cívico de votar, não contribuindo dessa forma para o crescente alheamento, no que denota, por outro lado, uma “demissão” das nossas responsabilidades individuais.
De seguida (nos próximos dias), aqui apresentarei resumos das interessantes reuniões com representantes de vários Grupos (diferentes famílias políticas) no Parlamento Europeu e outros representantes oficiais nas instituições europeias, com base nas notas que, em simultâneo, me foi possível ir recolhendo.
Os mercúrios
Evocando o mensageiro dos deuses, a designação de mercúrio foi adoptada por publicações de vários países europeus, como Holanda, Alemanha, França, onde se tornou um nome comum. As características dos mercúrios apresentam-se cada vez mais distintas das das gazetas, podendo dizer-se que aqueles estavam para estas como as revistas estão para os jornais, na actualidade. Por exemplo, o primeiro volume, anual, do Mercure français, de 1611, constitui uma sequência dos resumos cronológicos de Palma Cayet, relatando os principais acontecimentos ocorridos após 1605 em França e no estrangeiro.
No nosso país, o mais importante é o Mercúrio Português, que aparece em Janeiro de 1663 (Lisboa, Ofic. Henrique Valente de Oliveira: mensal, preço variando entre 10 e 5 réis). Foi redigido até Dezembro de 1666 pelo notável escritor e diplomata António de Sousa Macedo, geralmente considerado «o primeiro jornalista português» (1). Embora, cronologicamente, não tivesse sido Sousa Macedo o primeiro jornalista português, foi na verdade ele o primeiro quem, pela versatilidade da sua cultura e pelo seu estilo directo e conciso, apresentou uma verdadeira constituição de jornalista, ainda não visível em Manuel de Galhegos. A pureza do estilo jornalístico de Sousa Macedo está bem patente na sua própria declaração no número de Dezembro de 1666:
«Simples e corrente foi o estilo de Mercúrio, ajustando-se sempre com a maior certeza que pôde alcançar, sem afectar locuções altas que desdissessem a sinceridade de uma pura narração.»
[…]
Inseria também muitas outras informações, tanto do País como do estrangeiro; mas a sua feição era sensivelmente diferente da da Gazeta, pois, embora não perdesse o carácter predominantemente noticioso, tinha já acentuada intenção política.
Outros mercúrios aparecem então no nosso país, mas esses com características mais próximas das que tomaram os seus homónimos estrangeiros.
(1) Além dos 50 números que se publicaram nestes quatro anos (afora dois suplementos), saíram ainda 7 no ano imediato de 1667, redigidos por autor anónimo. Vinha a público no fim de cada mês e constava de 8 a 32 páginas de impressão, sempre no formato de 4º.
“História da Imprensa Periódica Portuguesa”, José Tengarrinha, 2º edição, 1989, pp. 39 e 41