Archive for 18 Fevereiro, 2008
Cheias
Quando, ontem, já próximo da meia-noite, Maria Elisa estreava na televisão um novo programa, tendo como tema da emissão inicial as grandes cheias que assolaram a região de Lisboa em 1967, estaria longe de profetizar o que se iria passar nesta madrugada…
Depois de – na semana passada – se ter anunciado que este era o Inverno menos chuvoso dos últimos 90 anos, questionava-se ontem qual o impacto que umas eventuais cheias de dimensão análoga poderia registar… Entre as 4 e as 5 da manhã, a forte precipitação que se abateu sobre a região de Lisboa foi, ainda assim, de intensidade muito inferior a outras já registadas.
Esta manhã, o caos estava instalado em Lisboa e arredores, com a linha do Norte interrompida (comboios); as auto-estradas do Norte e do Oeste, tal como a marginal, cortadas; a circulação do Metropolitano limitada; falhas nos abastecimentos de água, gás e de electricidade; milhares de pessoas perdendo horas no trânsito.
E, confirmando as idiossincrasias aparentemente inseparáveis do carácter português – e na ausência de medidas preventivas, que deveriam ter sido tomadas há meses atrás – o que hoje se discute (com mais de meia hora nos telejornais e direito a “programa especial” sobre as cheias, numa espécie de “show da vida real”, explorando as emoções associadas às imagens sempre espectacularmente impressionantes) é “de quem é a culpa”, com o Governo a endossar responsabilidades às autarquias e estas a devolverem a acusação.
Algum dia conseguiremos aprender com os nossos erros? Vencer a inércia e o laxismo?
P. S. A ler, a propósito, Francisco José Viegas, José Pacheco Pereira, Paulo Gorjão, Francisco Almeida Leite e, também, Filipe Nunes Vicente.
Kosovo
Há meses que se sabia que o Kosovo iria declarar unilateralmente a sua independência face à Sérvia – a primeira a ocorrer na Europa em mais de 50 anos -, portanto “tecnicamente” uma declaração ilegal.
Há semanas que se sabia que essa declaração seria efectuada a muito curto prazo e que a União Europeia não iria adoptar uma posição comum.
Há dias que se sabe que a França, Alemanha, Reino Unido e Itália irão reconhecer esta independência – patrocinada pelos EUA -, enquanto a Espanha, Chipre, Grécia, Roménia, Bulgária e Eslováquia se mostram contrários a esta tomada de posição da maioria de origem albanesa que habita o território que tem estado sob tutela da ONU.
E Portugal?
Tomará uma decisão (quanto ao reconhecimento da independência) “em devido tempo”, depois de realizar as “consultas necessárias”.
Obviamente – e não obstante o alerta do Presidente da República quanto aos riscos associados a esta situação -, a decisão está tomada e acabará por ir, inevitavelmente, no sentido do reconhecimento da independência… Porquê então o protelamento?
P. S. Sobre o tema, a ler, Pedro Sales (também aqui), Paulo Pinto, Luís Novaes Tito e João Miranda.