Blogosfera em 2007 (VI)

10 Dezembro, 2007 at 1:02 pm 3 comentários

Depois das eleições do CDS-PP, o 31 da Armada apresenta a primeira “cobertura blogosférica” de um congresso partidário, a V Convenção do Bloco de Esquerda, realizada no fim-de-semana de 2 e 3 de Junho.

A 6 de Junho, Pacheco Pereira escreve no Abrupto sobre os “sinais de crise” na blogosfera.

«METABLOGUISMO – SINAIS DE CRISE

Assiste-se a um significativo empobrecimento da blogosfera que tem mais leitores, para além da pornográfica e futebolística, e que é essencialmente política e “literária”. Por um lado, é cada vez maior a sobreposição da agenda comunicacional “lá fora” com a agenda “cá dentro”. É um processo que resulta do reforço do contínuo entre blogues e jornais. Hoje não há nenhum tema dos blogues que não chegue praticamente em tempo real aos jornais, cujos jornalistas observam os blogues todos os dias. Por outro lado, o efeito de politização intensa dos blogues e da cada vez maior circulação dos autores de comentário nos blogues para as colunas dos jornais, da rádio e da televisão, torna obrigatório que eles sigam também em tempo real os eventos políticos. As agendas tornam-se mutuamente dependentes e o efeito final é empobrecedor. Há, no entanto, aspectos, como a crítica aos media, que ainda se centram apenas nos blogues.

Este pode ser apenas um efeito transitório, mas existe. Mas o mais empobrecedor, é o aparecimento em força de fenómenos de “amiguismo” e “grupismo”, que abafam o espírito analítico e tornam os blogues tão permeáveis à cultura da troca do favor e do silêncio crítico que já existe quanto baste na comunicação social tradicional e na sociedade portuguesa. Um livro não é bom apenas porque é publicado pelo autor do blogue ao lado e a permuta de pré-publicações e anúncios congratulatórios não pode ser apenas feita por passividade ou expectativa de retribuição. É suposto que quem anuncia um livro o acha com qualidade, o conheça ou o tenha lido. Senão os blogues ficam iguais ao Jornal de Letras, mais uma coterie, ou um grupo de coteries, mais ou menos rivais que disputam entre si o escasso espaço público das editoras e da “influência”.

A polémica do “amiguismo” suscitada por João Pedro George foi um primeiro alerta para esta situação. Rapidamente redundou, pela habitual máquina simplificadora, em se saber se se podia ou não escrever críticas dos livros dos amigos e colegas, o que não é o ponto. No ponto, George tinha toda a razão e o modo hostil como foi recebido particularmente revelador de que tocara numa questão sensivel.

É uma espécie de Princípio de Peter. As razões do sucesso podem tornar-se as razões do insucesso. O sucesso da blogosfera criou um novo circuito literário, jornalístico, de comentário político, de crítica, que é, como se costuma dizer, “incontornável” para directores de órgãos de informação, editores, organizadores de colóquios, animadores culturais, empresas “culturais”, vereações municipais, etc.. Mas os sintomas de entrada no establishment começam a ser evidentes, com a complacência generalizada nos blogues com os produtos da própria blogosfera.

Que isto se discuta tão pouco é já por si um sintoma da doença. Não era isso uma das coisas que os blogues criticavam na imprensa?»

A 7 tinha início o Desconcertante, de Fernando Martins; para, a 13, se assistir ao nascimento do Zero de Conduta, com a participação de Filipe Calvão, José Neves, Pedro Sales e Vasco Carvalho; e, a 15 de Junho, do Puro Arábica, com Fátima F. Ramos e César David Sousa.

E, se uns começam, outros findam, como foi o caso, a 14 de Junho, do Minha Rica Casinha.

A 26 de Junho, novo texto de Pacheco Pereira, a propósito da responsabilização dos autores de blogues, não apenas no que concerne aos seus conteúdos, como também em relação aos respectivos comentários:

«Agora que os blogues começam a sentar-se no banco dos réus, o que é normal em si mesmo porque a lei não pode ficar à porta da Rede se nela se cometerem crimes, independentemente do juízo que se possa ter sobre os casos da actualidade, há uma coisa que me parece indefensável: que o autor ou autores de um blogue não sejam responsáveis pelos comentários que publicam, anónimos ou não, caso as suas caixas de comentários sejam totalmente abertas. Por isso, os blogues que acham que lá por porem uma salva de prata, ou um prato de barro, em cima de um monte de lixo, podem ser vistos apenas pela prata ou pelo barro, enganam-se. O lixo dos comentários, tantas vezes puramente calunioso, está lá, à vista de todos e não serve nenhuma liberdade, nem nenhuma opinião “anti-sistema”, muito menos o “povo” ou a democracia. Bem pelo contrário, serve quase sempre o pior dos sistemas, a mesquinhice da aldeia, a claustrofobia do boato e da insinuação, o crime da calúnia. Depois não se queixem.»

A 28 de Junho surgia o “Movimento Informação é Liberdade”, movimento promovido por um grupo de jornalistas – que recorreram também à criação de um blogue com o mesmo nome – que, “constatando que se encontra em marcha o mais violento ataque à liberdade de Imprensa em 33 anos de democracia, decidiu juntar a sua voz à de todos os cidadãos e entidades que se têm pronunciado sobre a matéria e manifestam publicamente o seu repúdio por todo o edifício jurídico aprovado pela Assembleia da República, ou à espera de aprovação, referente à sua actividade profissional, que consideram limitativo do direito Constitucional de informar e ser informado”.

A concluir o mês de Junho, a 30, Miguel Portas dava início ao Sem Muros, blogue em que o eurodeputado do Bloco de Esquerda se propunha acompanhar diariamente, ao longo dos 6 meses seguintes, “sem preconceitos e sem piedade“, a Presidência portuguesa da União Europeia, “Comentando actos oficiais e notícias das outras europas de que a europa se faz. Procurando os contrastes de olhar”.

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3 comentários Add your own

  • 1. César David Sousa  |  10 Dezembro, 2007 às 2:49 pm

    Caro Leonel Vicente:

    Na sequência deste seu post, fiquei com uma dúvida: partindo do pressuposto que a lista de blogues aqui apresentada não corresponde, certamente, à totalidade de blogues que surgiram na blogosfera portuguesa durante o mês de Junho, gostaria de perguntar-lhe quais foram os critérios utilizados para a referência ao Puro Arábica, e especificamente neste contexto das palavras de Pacheco Pereira?

    Como visado, agradecia desde já que me pudesse prestar este esclarecimento.

    Atenciosamente,

    César David Sousa

    Responder
  • 2. Leonel Vicente  |  10 Dezembro, 2007 às 3:31 pm

    Caro César David Sousa,

    os critérios utilizados para a referência ao Puro Arábica são tão simplesmente os que adoptei relativamente à generalidade dos restantes blogues que aqui venho referenciando, enquanto blogues criados (ou findos) no decurso do ano de 2007: numa visão necessariamente parcelar e obviamente incompleta, que é a minha, aqui venho referindo os casos de blogues que – enquadrando-se no âmbito do período mencionado – me despertaram a atenção como visitante / leitor.

    No que respeita aos textos de Pacheco Pereira referenciados neste ‘post’, naturalmente que a sua única e exclusiva relação com o Puro Arábica (tal como com o Desconcertante, o Zero de Conduta ou o Minha Rica Casinha) é a cronológica: o facto de se tratarem de textos publicados no mês de Junho, mês em que tiveram início ou termo os blogues indicados.

    Permanecendo à disposição para qualquer eventual esclarecimento adicional, apresento os meus cumprimentos,

    Leonel Vicente

    Responder
  • 3. César David Sousa  |  10 Dezembro, 2007 às 4:39 pm

    Caro Leonel Vicente

    Antes de mais, muito obrigado pelo esclarecimento. Fico mais descansado; por momentos, pensei que estivesse a relacionar o surgimento – ou o conteúdo – do Puro Arábica com o teor das palavras de Pacheco Pereira.

    Posto isso, não posso deixar de achar curioso que tenha considerado como relevante um blogue de tão baixas audiências como é o Puro Arábica, em nada equiparáveis à de muitos – passo a expressão – “tubarões” da blogosfera nacional, mas só posso considerar o facto de aqui estar inscrito como um elogio, o qual agradeço desde já.

    Muito obrigado e com os melhores cumprimentos,
    César David Sousa

    Responder

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