Archive for 15 Fevereiro, 2006
BLOGOSFERA EM 2005 (X)
Em meados de Abril, era lançado mais um livro com origem na blogosfera, “O Acidental”, aqui recuperando as palavras de Paulo Pinto Mascarenhas:
“Quando abri a página na internet do blogue O Acidental, a 8 de Abril de 2004, estava longe de adivinhar a repercussão e o impacto que poderia ter. Jornalista durante quase 14 anos, era leitor deste meio de comunicação recém-chegado a Portugal, mas apenas como espectador interessado e distante. O Acidental começou assim como uma espécie de compensação para o abandono do jornalismo, um modo expedito de continuar a escrever e de continuar a ser lido depois de ter decidido entrar para a política, a convite de Paulo Portas.</em
Conhecia obviamente a pré-história da blogosfera nacional e, como editor de Sociedade do semanário O Independente, julgo ter sido um dos primeiros, senão o primeiro, a consagrar um espaço exclusivo para citações do meio na imprensa escrita do nosso país. Diversas vezes referi também na minha página de opinião alguns dos blogues que preferia, com a Coluna Infame à cabeça. Num país culturalmente dominado pela esquerda, desde logo na comunicação social, a blogosfera parecia estar a fazer surgir uma nova geração de intelectuais e académicos da direita liberal e conservadora. Uma direita que não é saudosista, porque geneticamente democrática, mas que também – ou precisamente por isso – não tem complexos de esquerda.
Quando O Acidental apareceu, porém, a Coluna Infame já era. A blogosfera política encontrava-se nas mãos da esquerda e da extrema-esquerda, acompanhada de longe por um centrismo de avisada moderação. Com honrosas excepções, os blogues mais lidos e, sobretudo, os mais citados, dividiam-se entre as diversões fracturantes do Bloco de Esquerda e as afirmações facturantes do Bloco Central – em suma, o novo meio tinha já sido quase totalmente absorvido pela agenda do mainstream mediático.
O Acidental veio perturbar e baralhar o jogo, combatendo directamente os blogues de esquerda e extrema-esquerda, mas criticando de igual modo a moderação utilitária e pragmática de algumas vacas sagradas do comentário politicamente correcto. Numa altura em que o mais fácil era atacar a anterior maioria de centrodireita e os respectivos governos, aqueles de nós que assim o entenderam nunca deixaram de defender tudo aquilo que podia e devia ser defendido, aceitando pontos de vista contrários e abrindo espaço à livre discussão no blogue.
Por defendermos políticas e políticos dos dois anteriores governos, fomos e continuamos a ser tão ferozmente atacados. Quando iniciei o blogue fiz questão de pôr as cartas na mesa, não escondendo a minha militância política no CDS e a minha condição acidental de adjunto de Paulo Portas enquando ministro de Estado e da Defesa Nacional. Para quem não conheça a blogosfera, explico que seria muito mais cómodo manter um prudente silêncio sobre o assunto, existindo blogues muito conhecidos escritos por anónimos de várias cores políticas – e que, por isso mesmo, se escondem atrás dos chamados nicknames.
Eu não vejo razões para ter vergonha de ser militante ou dirigente de um partido, nem de participar num governo, por mais impopular que seja – e fico sobretudo espantado que trinta anos depois da revolução ainda haja quem não entenda – ou quem pareça esquecer – que sem partidos não há democracia e sem políticos de qualidade não existe democracia representativa que resista.
A intenção de criar um blogue foi muito para além dos meus interesses partidários. Há muito que acredito e defendo na medida das minhas possibilidades que a Direita – que ultrapassa seguramente o quadro dos partidos existentes – não pode vencer e não conseguirá construir uma alternativa válida e estável para governar Portugal se não assumir um combate cultural que deve assentar em primeiro lugar num respeito absoluto pela liberdade de expressão, incluindo a abertura à diversidade de opiniões e de correntes ideológicas no seu interior.
Com empresários e capitalistas que invariavelmente preferem entregar o seu dinheiro a projectos dominados pela esquerda ou pelo Bloco Central, a forma mais simples de lançar esse combate de liberdade pode passar por meios como a blogosfera, onde aliás já se encontram alguns dos maiores talentos criativos da comunicação social do nosso país.
Não sei se estou errado, mas penso que O Acidental é único ou pelo menos foi o primeiro do género no nosso país: existem blogues individuais e existem blogues colectivos, mas nenhum é individual e colectivo em simultâneo. Ou seja, O Acidental é o meu blogue e foi minha a responsabilidade na constituição de um equipa heterogénea de ilustres convidados – mas é deles todos, porque é inteiramente deles a qualidade e a criatividade que o faz ser hoje um dos blogues políticos mais polémicos, mais lidos e mais citados de Portugal. Doa a quem doer.”