ELEICÕES PRESIDENCIAIS – SONDAGENS (CONT.)
20 Janeiro, 2006 at 12:32 pm Deixe um comentário
Porém, numa análise “mais fina” – ressalvo desde já que não sou, de forma alguma, “especialista” em sondagens, mas há alguns elementos que parecem relevar do “bom senso” – o que nos dizem as sondagens?
Será necessário começar por pensar que se trata de estudos “laboratoriais”, pressupondo condições “estáveis”, não podendo prever o impacto que teria, por exemplo, um hipotético Domingo de intempérie. A própria selecção das amostras, obedecendo necessariamente a regras estatísticas, não poderá de alguma forma enfermar de (involuntário) “enviesamento”, por via da enorme dificuldade em prever o comportamento dos potenciais abstencionistas (o comportamento do eleitorado “urbano” e do litoral é necessária e historicamente diverso do eleitorado “rural” e do interior)?
Até que ponto o desfasamento entre a data de realização dos estudos e a sua publicação (todos, com pelo menos 2 dias de antecedência – ou seja, um mínimo de 4 dias de antecedência face ao acto eleitoral) poderá afectar a tendência de evolução das sondagens durante o período de campanha (com Cavaco a ver a sua votação projectada a reduzir-se quase diariamente)? Poderá essa tendência prosseguir para além do período de realização dos estudos? Poderá, ao invés, a anunciada vitória de Cavaco e, por outro lado, a aparentemente garantida derrota de Soares, desmobilizar alguma parte do eleitorado? Qual?
Num cenário de grande incerteza (hoje mesmo, haverá talvez ainda 15 a 20 % de indecisos, com a sua redistribuição a constituir um “quebra-cabeças” para os responsáveis pelas sondagens), com particular incidência à esquerda do espectro eleitoral – o eleitorado socialista debate-se ainda com a indecisão entre votar Alegre, Soares, ou “ficar em casa” -, nada pode ser dado por garantido. Nem a vitória de Cavaco, nem a derrota de Soares (na relação de forças face a Alegre, bastaria uma “pequena” transferência de votantes entre um e outro, na ordem dos 4 %, para inverter a tendência).
Cavaco pode ainda vir a ampliar a margem que as sondagens hoje lhe atribuem e chegar, por exemplo, até aos 56 %. Mas, se porventura alguma parte do seu eleitorado der por adquirida a vitória e, se ao invés, o eleitorado de esquerda encarar estas eleições não como um “proforma”, mas como umas eleições importantes para o país, a surpresa pode acontecer ou, pelo menos, a incerteza poderá prolongar-se durante a noite, até final da contagem (a hipótese de um desfecho similar ao das eleições norte-americanas de há 5 anos, com um “empate técnico” entre Bush e Gore não pode ser colocada de parte! Ou, como sucedeu mais recentemente, uma situação análoga à verificada nas eleições na Alemanha… Ou seja, numa hipótese académica, o resultado das eleições de Domingo poderia até ficar eventualmente em suspenso – dependente de recontagens -, caso Cavaco viesse a ter uma votação muito aproximada aos 50,0 %…).
(a continuar)
Entry filed under: Sociedade.




Subscribe to the comments via RSS Feed