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O Pulsar do Campeonato – Taça de Portugal
(“O Templário”, 10.09.2015)
Com a retoma da competição para as equipas do distrito, inicia-se outro andamento deste “Pulsar” do futebol regional, com comentários à evolução dos campeonatos distritais, assim como à participação em provas de âmbito nacional. A volta desta coluna fica assinalada pelo retorno – 14 anos depois –, do União de Tomar a tais competições de cariz nacional, no caso à chamada “prova-rainha”, a Taça de Portugal, de que estava arredado desde a temporada de 2001-02, um justo prémio ao seu meritório desempenho na época finda, na sua condição de vice-campeão distrital.
É, todavia, um regresso com a ingrata missão de abordar um cruel desfecho, para as cores nabantinas, da 1.ª eliminatória da Taça de Portugal, com os “rubro-negros” tomarenses a serem desfeiteados por contundente 0-7, pela União de Leiria. Um desafio, aguardado com grande expectativa, mas em que ficou bem vincada a diferença de ritmo competitivo entre uma equipa profissional e outra amadora, com os leirienses a revelarem “outro andamento”.
Enfrentavam-se duas equipas de escalões diferentes, uma a militar na I Divisão Distrital, a outra, no Campeonato Nacional de Seniores, no qual se perfila como candidata à subida à II Liga. Uma repleta de juventude, outra com um plantel recheado de experiência, com jogadores de I Divisão, de que, aliás, o clube do Liz se despediu há apenas três anos. Antecipava-se que seriam fundamentais para a evolução da partida os minutos iniciais, nos quais o jovem grupo nabantino teria de procurar superar a natural ansiedade decorrente de se ver integrado num jogo de nível e responsabilidade acrescidos, de que carece de experiência, procurando em paralelo transferir, à medida que o tempo fosse avançando – e caso conseguisse manter a sua baliza inviolada – alguma intranquilidade e pressão para o adversário.
A equipa da casa entrou em campo com boa disposição, denotando uma atitude positiva, pertencendo-lhe mesmo as primeiras investidas no meio-campo contrário. Porém, tudo se esboroaria de pronto: praticamente com apenas um quarto de hora decorrido, o “placard” assinalava já um grande desnível, de 0-3. Logo aos 6 minutos, num lance de bola parada, o guardião Telmo ainda daria excelente resposta a um livre de boa execução, com atento desvio para canto… na sequência do qual, antecipando-se à defensiva local, os visitantes inaugurariam o marcador.
Agora, conhecido o resultado final, e apreciada a forma como o jogo decorreu em termos globais, será porventura escassa a legitimidade para falar de eventuais lapsos de arbitragem, mas o segundo tento, obtido aos 11 minutos, na sequência de uma grande penalidade, acabaria por se revelar determinante, na medida em que, ao contrário do desejado, não só tranquilizou de forma absoluta o U. Leiria, como teve o efeito oposto na equipa tomarense, que, a partir daí – vindo ainda a sofrer o terceiro golo, apenas mais cinco minutos volvidos –, teria grande dificuldade em voltar a serenar e a encontrar-se. E os leirienses nem necessitariam de tal lance, e nas circunstâncias em que ocorreu: num ataque tomarense, Diogo Moreira pareceu ser derrubado em falta, ficando a contorcer-se no terreno; os adversários, ao invés de pararem o jogo, colocando a bola fora de campo, para a assistência ao jogador “rubro-negro”, encetaram um rápido contra-ataque, que originaria, já dentro da área, um desarme, que o árbitro considerou em falta, portanto passível de ser sancionado com a tal penalidade máxima.
Até final do primeiro tempo, o União de Tomar conseguiria manter, durante cerca de meia hora, a sua baliza a salvo, pese embora as frequentes investidas dos leirienses. Contudo, numa tarde em que nada correu bem, o início do segundo tempo replicaria o sucedido na primeira metade, com o 0-4 a surgir logo aos cinco minutos, resultante de um lance de infelicidade, num desencontro entre o defesa central e o guarda-redes, com um atraso a originar um ressalto involuntário e a bola a encaminhar-se lentamente para o risco fatal… Depois, entre os 61 e os 72 minutos, mais três golos selaram o marcador final, que, nos derradeiros vinte minutos, não sofreria alteração, pese embora o “vendaval” a que os tomarenses se viram então sujeitos.
Procurando lutar contra a adversidade, com o meio-campo nabantino com grandes dificuldades para procurar suster o ritmo avassalador do opositor, perante uma desamparada linha defensiva, de sublinhar o brio e a dignidade com que a jovem turma nabantina, com grande abnegação, enfrentou todo o encontro, no qual, afinal, acabou por ter mais de “uma parte” sem sofrer golos, se somarmos a última meia hora do primeiro tempo e os derradeiros vinte minutos – podendo, por outro lado, ter inclusivamente chegado ao “ponto de honra”, caso tivesse sido mais feliz e eficaz num ou noutro lance.
É de ressalvar que o União de Tomar não ficou ainda definitivamente afastado da Taça de Portugal, dependendo de sorteio para repescagem de 14 equipas (das 59 agora derrotadas nesta 1.ª eliminatória), que transitarão para a fase seguinte, na qual participarão já os 19 clubes da II Liga (excluindo-se as equipas “B” de Benfica, FC Porto, Sporting, Sp. Braga e V. Guimarães).
Como nota final, esta não foi também a pior derrota do clube, bem longe disso… para além dos desaires sofridos ante o Tramagal na época de 1951-52 (0-13 no Tramagal e 0-9 em Tomar), recentemente (2007-08) o União perdeu também por 0-9 em Torres Novas – havendo ainda registo de outras goleadas por 0-7, nos últimos anos: igualmente em casa, com o Alcains (1999-00), em Cernache do Bonjardim (2001-02), e em Alcanena, ante o Alcanenense (2009-10).
Curiosamente, as duas equipas do distrital de Santarém sofreram das maiores goleadas nesta eliminatória: para além do União de Tomar, o Amiense foi derrotado por 0-9 em Castelo Branco, ante o Benfica local. No final da temporada se poderá aquilatar com maior propriedade se terão tido particular infelicidade no sorteio, defrontando eventualmente duas das equipas mais fortes do Campeonato Nacional de Seniores, candidatas à promoção à II Liga.
É agora altura de “virar agulha”, com o início do campeonato distrital da I Divisão agendado para o próximo fim-de-semana, com os unionistas a começarem com um sério teste, numa deslocação sempre de elevado grau de dificuldade, a Mação, numa prova em que se pré-anuncia haver também um concorrente com “outro andamento”…
(Artigo publicado no jornal “O Templário”, de 10 de Setembro de 2015)