Declaração de voto

3 Junho, 2011 at 10:08 pm 1 comentário

«[…] A campanha eleitoral deve ser uma campanha de verdade e de rigor. Ninguém deve prometer aquilo que não poderá ser cumprido. Este não é o tempo de vender ilusões ou falsas utopias. Prometer o impossível – ou esconder o inadiável – seria tentar enganar os Portugueses e explorar o seu descontentamento. Confio na maturidade cívica do nosso povo.

A próxima campanha deve ser sóbria nos meios e esclarecedora nas propostas que cada partido irá fazer ao eleitorado. Estas propostas têm de ser construtivas, realistas e credíveis e a campanha deve decorrer com elevação nas palavras e nas atitudes.

Na situação actual do País, não é admissível que os partidos políticos fomentem um ambiente de crispação que inviabilize, após as eleições, os compromissos imprescindíveis com vista a encontrar uma solução de governo que assegure a estabilidade política, promova a credibilidade de Portugal no plano externo e tenha a capacidade para resolver os graves problemas nacionais.[…]»

(Comunicação do Presidente da República, a 31 de Março de 2011, anunciando a dissolução da Assembleia da República e a convocação de eleições legislativas)

Já aqui o escrevi e reitero: este não é um blogue político, o que, naturalmente, não significa que seja apolítico.

Não, esta não foi uma campanha de verdade e rigor (ainda ontem Pacheco Pereira se referia à impossibilidade prática de cumprimento do programa do PSD…).

Não, esta campanha não foi esclarecedora (o plano de ajuda internacional foi prática e objectivamente ocultado aos portugueses pelos três partidos que o subscreveram).

Não, esta campanha – não tendo sido, não obstante, a mais negativa dos últimos anos – não decorreu com elevação nas palavras e nas atitudes.

Procurando ser o mais sintético possível: pelo seu comportamento nos últimos dois anos, e, de forma mais específica, pela sua atitude no processo que conduziu à queda do Governo, e pelo modo como decorreu esta campanha eleitoral, entendo não dever conferir o meu voto a nenhum dos partidos com representação parlamentar:

– A forma como a oposição à esquerda, sem olhar a meios e sem qualquer pudor – não se preocupando sequer em avaliar as consequências internas e externas de tal acto -, se aliou aos rivais à direita para derrubar o Primeiro-Ministro;

– A excessiva e descarada gula revelada pela oposição em chegar ao poder (“tirando o tapete” ao Governo quando sentiu que tinha possibilidades de lhe suceder, depois da caricata cena da fotografia na assinatura do acordo que conduziu à aprovação do Orçamento para 2011), prometendo e querendo negociar cargos ainda antes do voto dos portugueses (chegando ao ponto de acabar por se fazer sentir a imperiosa necessidade de afastar da cena personalidades como Fernando Nobre ou Eduardo Catroga), com PSD e CDS a quererem ultrapassar-se mutuamente, um pela direita (com a referência a um putativo novo referendo sobre o aborto), outro pela esquerda (com as suas preocupações sociais), com recados – e mais, do que isso, verdadeiras agressões – que não deixarão de constituir uma sombra sobre a sua previsível futura aliança de Governo;

– As inacreditáveis trapalhadas de campanha do PSD (chegando a parecer que tudo fazia para não ganhar as eleições), revelando uma aflitiva impreparação para lidar com uma situação grave, de elevada complexidade (culminando com o desabafo de Manuela Ferreira Leite, de que o importante não é saber quem será o Primeiro-Ministro, mas sim afastar – eliminar mesmo (?) -, José Sócrates… que nem na oposição a deixaria tranquila);

– Por fim, a dificuldade revelada pelo PS (bem patente no falso unanimismo que emergiu do seu Congresso, com as não menos caricatas declarações de “amor eterno” ao líder, por parte de António Vitorino e António Costa), e por um notoriamente esgotado José Sócrates, em encontrar alternativas para contornar a situação para a qual Portugal se viu impelido, acabando submerso e impotente pelo “agitado mar de alterosas vagas”, provocado por incapacidades próprias, pela especulação dos mercados, pela irresponsabilidade da oposição (com a hierarquia destes factores ainda por demonstrar), sitiado numa posição em que se vê sem margem de manobra que lhe permitisse poder vir a constituir uma solução viável de Governo, cortadas que foram as pontes com as restantes forças partidárias.

Infelizmente, rememorando os diversos episódios que vivemos nos tempos mais recentes, não estou convicto – antes pelo contrário – que as figuras de maior responsabilidade nestes partidos sejam as mais indicadas na conjuntura actual, ou que tenham a capacidade para inverter o rumo, e conduzir Portugal a um futuro melhor.

O meu voto, singular, vale muito pouco (valendo paradoxalmente, em democracia, tanto como o de qualquer outra pessoa…). No contexto presente, quase nenhuma importância tem, excepto para a minha consciência.

Porque entendo que Portugal precisa de novas ideias, novas políticas, novos actores, entendo que este é o momento, sentindo ser meu dever, nas actuais circunstâncias, dar o (ínfimo) contributo possível para essa renovação.

Apesar da overdose mediática destes últimos dois dias, de entre os partidos sem representação parlamentar, é ao MEP que reconheço mais condições para afirmar uma nova voz no debate político em Portugal. É a ele que, em consciência, vou confiar o meu voto.

Infelizmente, a minha convicção – não será porventura muito difícil antecipá-lo – é a de que acabaremos por ser forçados a ir a votos novamente a não muito longo prazo. Receio que os portugueses – que, necessariamente, são soberanos na sua decisão, tomada tão em consciência quanto a minha – rapidamente venham a experimentar um sentimento de arrependimento em relação à opção pela alternativa de Governo que se perfila.

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Método de d’Hondt Iniciativa Legislativa de Cidadãos contra o Acordo Ortográfico

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