Archive for 18 Maio, 2009
Cem anos do futebol em Torres Novas
A pretexto da primeira demonstração de futebol realizada em Torres Novas de que há registo histórico – a 15 de Abril de 1909 – João Carlos Lopes escreveu um livro (“Cem anos do futebol em Torres Novas”), pequeno em dimensão, mas que vale bem a pena ser lido e estudado, dada a dimensão sociológica e sócio-política com que é abordada a génese e desenvolvimento dos diversos clubes locais nos primórdios deste complexo fenómeno de massas em que se tornou o futebol, evoluindo – no que constitui um interessante traço da história do futebol português e da sua afirmação – a partir de um início elitista para um cariz popular… ou, no caso concreto, desde os militares (associados à Escola de Cavalaria), até aos operários.
Nele são afloradas questões pertinentes, de que é exemplo o declínio dos clubes representativos de grandes concentrações operárias (Setúbal, Barreiro), ou de cidades industriais do centro e sul do país, de mais pequena escala (Marinha Grande, Tomar, Olhão e Tramagal), no período pós-revolução – curiosamente, e de forma algo excepcional, uma tendência estrutural ontem mesmo “contrariada” pelo Olhanense, conseguindo, 34 anos depois, o regresso ao principal escalão do futebol português.
Ou vicissitudes tão comezinhas como a falta de um espaço para a prática da modalidade, que originou que não houvesse futebol de competição oficial em Torres Novas ao longo de mais de 10 anos, de 1934 a 1945.
Com curiosidades históricas dignas de menção, como a saga da (não) autorização para o corte de (uns poucos) eucaliptos, que levaria à mencionada suspensão da prática futebolística, ou a alteração das cores aquando da refundação do Clube Desportivo de Torres Novas, que, por motivos relacionados com a apropriação política pelo regime, obrigou à mudança do vermelho (cor do clube originário, Torres Novas Futebol Clube) para o amarelo…
E, também, necessariamente, com espaço para as inevitáveis rivalidades regionais, primeiro com o Tramagal, logo de seguida com o Sporting e União de Tomar – com cerca de uma centena de derbies disputados entre os 2 clubes neste período de 100 anos -, e também com os clubes da capital do distrito, Santarém.
Ou, ainda, para os maiores ídolos locais: Carlos Torres e José Torres, o “Bom Gigante”; assim como a referência a um Presidente cujo nome se confunde com a história do clube, cujos destinos dirigiu num período que cruza três décadas, desde 1945 a 1966, emprestando mesmo a actual identidade ao Estádio de Torres Novas: Dr. António Alves Vieira.
Uma iniciativa que constitui um exemplo a seguir, contribuindo para a indispensável preservação e enriquecimento da nossa memória colectiva.
Aguarda-se com expectativa o segundo volume, que cobrirá o período a partir do início da segunda metade do século passado.