Posts filed under ‘“Blogosfera” em 2008’
Blogosfera em 2008 (IX)
O artigo mereceria encómios… e também algumas críticas, em particular o facto de ter “falhado” na sua abordagem várias “blogosferas”, de que Maria João Nogueira (“Jonasnuts“) dá exemplos, no que constitui uma amostra da imensa diversidade de prismas de abordagem que a blogosfera proporciona:
– “A do Humor” – Há Vida em Markl, Arcebispo de Cantuária, Cavalheiros do Apocalipse, Vendo a minha mãe, Não está fácil, Vida de Casado
– “A do Craft” – Rosa Pomar, Wishes & Heros, Claudia Borralho, Papéis por todo o lado, A loja da Mãe, Avó-Galinha
– “A dos Babys/Toddlers” – Passeai flores, Donas do meu mundo, Mãe-Galinha, Diário de uma gaja (mamã) louca, Crónicas de uma mãe atrapalhada
– “A da Música” – David Fonseca, Gonn 1000, Melofobia, Diz que não gosta de música clássica, Sound+Vision
– “A da Tecnologia” – Rui Moura, Tecnologia de desinformação, The Tao of Mac, Ramblings about life, iPhil
– “A do Wrestling” – Duplo Impacto, Wrestling traduzido, Galáxia Wrestling, Wrestling notícias, Luso Wrestling
– “A do Cinema” – Cineblog, Elite Criativa, Cinema Notebook, Deuxieme, Depois falamos
– “A do Urbanismo e Arquitectura” – O Carmo e a Trindade, Atelier Mob, A barriga de um arquitecto, Intervenção da Maia
– “A da Ciência” – De Rerum Natura, Ciência ao Natural, Info-Ciência, Engenharia verde, Nebioq-IP, Vida de um biólogo aplicado
– “A das Letras e da Cultura” – Livros à volta do Mundo, Ler BD, Poemas de amor e dor, Letra de Forma, Da Literatura, Os Livros
– “A dos Animais” – Blog dos Bichos, Fotos da Natureza, A arrelia do Quico, Adoro-vos cães, Focinhos e Bigodes
– “A da Solidariedade” – Girassol Solidário, S.O.S. Iris, Eu sou o princepezinho, Bolos da Célia, Leigos Boa Nova
– “A das Fotos” – Arte Photográphica, Fotografia de João Palmela, Frozen Flower, Caderno da Lua, Fotoblog do Quico
– “A do Desporto” – Tertúlia Benfiquista, Colectividade Desportiva, Blog da Bola, Linha avançada, Desporto Aveiro
– “A de Lá de Fora” – Miss Londres, Da Rússia, Meia de Leite, Ruinix em Shangai, Escala em Londres, Jogo da Sueca
A 24 de Março as notícias do Público na sua edição online passam a ter ligação directa para os blogues que as comentam, através de uma nova ferramenta, no que constitui a primeira vez que a página do jornal faz ligações directas com frequência para fora do seu próprio site.
A encerrar o mês de Março, anunciavam a sua entrada na blogosfera dois novos blogues, sobre livros e literatura: o LerBlog – Blog de Informação Literária e Editorial (da Revista Ler); e o Ciberescritas, de Isabel Coutinho (que mantém coluna no Público, sob a mesma designação, sobre o futuro dos livros, a presença de escritores na Internet e a relação entre as novas tecnologias e a literatura).
Blogosfera em 2008 (VIII)
Um país de blogues
22.03.2008, Luís Miguel QueirósHá meia-dúzia de anos, poucos sabiam o que era um blogue. Hoje haverá quase 200 mil em Portugal. A blogosfera já nos “deu” a erudição sexual de O Meu Pipi, o humor dos Gato Fedorento, as crónicas de Pedro Mexia ou os comentários de Rui Tavares. E sem ela talvez não tivéssemos visto, há dias, cem mil professores na rua.
Em Outubro de 2002, quando Pedro Mexia, Pedro Lomba e João Pereira Coutinho lançaram o blogue Coluna Infame, calcula-se que os blogues portugueses não excedessem umas escassas centenas. Ninguém sabe ao certo quantos existem hoje, mas Mexia diz que “já se fala em 200 mil”. E um estudo internacional recente indica que Portugal é, de facto, em termos relativos, um dos países onde mais gente escreve em blogues e os lê. Segundo uma sondagem da Nielsen, mais de vinte por cento dos cibernautas portugueses visitam blogues diariamente, o que representa o dobro da média europeia.
Números que parecem apontar para um país com uma opinião pública numerosa, interessada e interveniente. Se não houvesse razões mais óbvias para suspeitar de que não será bem assim, o próprio estudo da Nielsen forneceria motivos de reserva suficientes, já que conclui que os países europeus com mais baixos índices de escrita e leitura de blogues são os escandinavos, ao passo que aqueles em que a blogosfera se mostra mais dinâmica são, além de Portugal, a Grécia e a Itália.
Criar um blogue é fácil e gratuito. Até há pouco tempo, quem quisesse criar uma página pessoal na internet, tinha de dominar a linguagem de programação “html” (HyperText Markup Language), que sempre exige alguns conhecimentos técnicos, e ainda de pagar o alojamento do seu site. Mesmo com os blogues, começou por ser assim, o que explica que muitos dos pioneiros da blogosfera mundial fossem informáticos. Agora, qualquer pessoa minimamente familiarizada com computadores pode abrir e alimentar um blogue, e ainda por cima sem pagar nada por isso.
Estes são argumentos que seguramente ajudam a justificar o insólito sucesso da blogosfera portuguesa, e também a sua extrema variedade, já que, para cada Abrupto (o blogue de Pacheco Pereira) ou Causa Nossa (onde escrevem, entre outros, Vital Moreira e Ana Gomes), há umas centenas de blogues que nunca chegam aos media tradicionais e que, na expressão de Pedro Mexia, “o radar não acusa”. O co-fundador da Coluna Infame divide-as em duas categorias principais: “páginas de adolescentes sem interesse nenhum”, e aquilo a que chama “a blogosfera javardola”. Uma designação eventualmente aplicável a blogues como o popular Gaijas da TV – estava ontem dois lugares acima do Abrupto no Blogómetro, um ranking de popularidade gerido pelo portal “weblog.com.pt” -, para não citar outros blogues com nomes e conteúdos ainda mais sugestivos.
A inflação da blogosfera será, paradoxalmente, resultante de um certo subdesenvolvimento? Ivan Nunes, que manteve o blogue A Praia e colabora hoje no Cinco Dias, não exclui que seja assim, mas interessa-lhe mais realçar que se traduz num “mecanismo de desenvolvimento”. E não lhe parece muito relevante saber se os portugueses criam muitos blogues por serem “pobrezinhos, solitários ou conservadores”. Pacheco Pereira sublinha que “muitos blogues são muito maus, como não podia deixar de ser, porque reflectem o mundo cá fora que também não é brilhante”, mas acredita que “o facto de haver milhares de pessoas em Portugal a ler e escrever blogues é um avanço no espaço público”. Rui Tavares, que se revelou no desaparecido blogue colectivo Barnabé, não tem dúvidas de que a dimensão da blogosfera é positiva, e acha que o próprio discurso sobre o atraso português deve ser escrutinado, já que tem dúvidas de que se possa falar de um “atraso cultural”. O que “talvez haja”, diz, “é um atraso académico”.
Para este colunista do PÚBLICO, a suposta “imobilidade” da sociedade portuguesa, e a sua alegada “mediocridade generalizada”, são mitos que vêm do regime anterior, e que foram perpetuados pela geração que ascendeu ao poder após o 25 de Abril. Este retrato do país, considera, “não é um diagnóstico, é uma estratégia de defesa”. Na sua opinião, a blogosfera apenas “revelou algo que já tinha condições para existir: um debate mais amplo e diverso, com mais qualidade e mais conhecimento, inclusive técnico e científico”. A crescente presença de cientistas na blogosfera parece-lhe ser um sinal particularmente positivo: “Hoje, quando um tipo diz um disparate em biologia ou física, caem-lhe logo em cima”.
Um dos mitos sobre a blogosfera é o de que esta só adquire a visibilidade que os jornais e a televisão lhe dão, e não teria grande influência real e directa na sociedade. A manifestação de cem mil porfessores em Lisboa, em grande medida organizada através de blogues, como, por exemplo, o Sala de Professores, parece desmentir este juízo.
Uma marca genética
Outro dos efeitos já observáveis da blogosfera foi a renovação do espectro de colunistas e cronistas nos jornais, com nomes como os de Rui Tavares, Pedro Mexia, Pedro Lomba, Ricardo Araújo Pereira ou, mais recentemente, João Miranda, do blogue Blasfémias, entre outros. Todos eles tinham já uma reputação firmada nos respectivos blogues quando chegaram aos jornais ou à televisão. Para Ivan Nunes, uma das coisas mais gratificantes desses primórdios da blogosfera nacional foi justamente a oportunidade de “descobrir gente da [sua] geração que praticamente não escrevia em lado nenhum”.
Rui Tavares acha que esse boom inicial de blogues empenhados no comentário político se deveu, em parte, “à asfixia dos canais de opinião”, com o pouco espaço disponível nos jornais dominado por um conjunto de comentadores muito próximos em termos geracionais, e quase sempre oriundos dos partidos políticos. “Muita gente”, acredita, “começou a escrever na blogosfera porque não se sentia representada em nada do que lia”.
Não sendo óbvio que a opinião publicada nos jornais por esses anos de 2002 e 2003 fosse maioritariamente de esquerda, não deixa de ser curioso que, desde o início e até hoje, a blogosfera mais marcadamente política tenha revelado “uma nítida sobre-representação da direita”, para usar uma expressão de Ivan Nunes, que crê que essa tendência ainda hoje se mantém. Pedro Mexia subscreve o diagnóstico, e julga que, na origem, o fenómeno está ligado ao atentado às Torres Gémeas, em 2001. “Entre a queda do Muro de Berlim e o 11 de Setembro, não se sabia muito bem o que eram a esquerda e a direita”, diz, mas “após o 11 de Setembro, houve uma repolitização evidente, para a qual a posterior guerra do Iraque também contribuiu”.
Mexia, que mantém hoje blogue Estado Civil, chama também a atenção para o facto de partidos com pequena representação parlamentar, como o CDS ou o Bloco de Esquerda, estarem provavelmente mais representados na blogosfera do que o PS ou o PSD. E considera “um mistério” o aparente “desinteresse” do PCP: “Um blogue com gente nova do PC, não conheço nenhum”.
Embora os mais antigos blogues portugueses datem ainda do final do século passado, foram espaços como a Coluna Infame, a partir do final de 2002, e o pouco posterior Blog de Esquerda, lançado por José Mário Silva e Manuel Deniz Silva, que vieram dar alguma visibilidade à blogosfera. Quando João Pereira Coutinho respondeu torto a um post de Daniel Oliveira, colocado no Blog de Esquerda, e Mexia e Lomba, achando que o seu companheiro tinha passado das marcas, decidiram acabar com o projecto comum, no dia 10 de Junho de 2002, a blogosfera já era algo suficientemente relevante para que José Manuel Fernandes celebrasse o requiem da Coluna Infame no editorial do PÚBLICO. Uma visibilidade que também ficava muito a dever-se ao facto de, cerca de um mês antes, Pacheco Pereira se ter tornado a primeira figura conhecida do grande público a lançar o seu próprio blogue, o Abrupto.
Apesar de existirem blogues sobre tudo e mais alguma coisa – do futebol à religião, da pornografia ao wrestling, do humor à mobilidade sustentada -, a visibilidade que o debate político e ideológico assumiu nos primórdios da blogosfera portuguesa é uma marca genética que ainda hoje se faz sentir. Quando se comenta a blogosfera, é quase sempre nessa blogosfera restrita – a do debate político e da discussão cultural – que se está pensar. De resto, política, cultura e humor andaram muitas vezes interligados nos mesmo blogues, como aconteceu e acontece, por exemplo, nos de Pedro Mexia.
Chegaram os Pinkerton
O crescimento exponencial da blogosfera foi-a transformando, também, de uma pequena cidade onde todos se conhecem e se cruzam na rua, numa grande metrópole, um pouco menos “cozy”, para adoptar um termo usado por Pacheco Pereira num texto que suscitou muitos comentários. Já em 2004, este escrevia que “os amigos e conhecidos foram sucessivamente sendo substituídos por estranhos, os círculos de influência, que eram também de troca de reconhecimento, foram-se desagregando, e isso torna os blogues um meio mais duro, menos satisfatório em termos psicológicos”. E concluía o autor que “a blogosfera é agora mais hostil do que cozy.”.
Pedro Mexia concorda que “as pessoas eram poucas e conheciam-se mais”, mas acha que “o ambiente nunca foi cozy”, lembrando, com manifesto conhecimento de causa, que até os co-autores de um mesmo blogue se zangavam.
Ivan Nunes pensa que, nesses anos de formação da blogosfera, era possível, de facto, falar-se de uma “comunidade” em sentido mais restrito. “Criaram-se laços de amizade entre pessoas de orientação ideológica diferente”, diz, acrescentando: “Sinto que pertenci a essa comunidade, embora outros a ela tenham pertencido de muito mais pleno direito do que eu”. Não é por acaso que conjuga o verbo “pertencer” no passado, tendo em conta que continua activo na blogosfera, no Cinco Dias e no ex-Ivan Nunes. No entanto, até admite que hoje possa continuar a falar-se de “comunidade”, mas restringida a um grupo de blogues “que se opõem e se citam reciprocamente”. Está a pensar em “blogues políticos, que percebem que lhes é útil polemizar para suscitar audiências”. Como exemplos, adianta o 31 da Armada, o Blasfémias, o Insurgente, o 5 Dias (onde ele próprio colabora), o Ladrões de Bicicletas ou o Arrastão.
Rui Tavares é o menos nostálgico desses tempos – muito próximos de nós, mas já um tanto míticos – em que a blogosfera seria uma espécie de reunião familiar alargada, à qual se admitia com gosto o primo que votava no partido errado ou gostava de livros e filmes duvidosos. O historiador e colunista do PÚBLICO acha que a blogosfera nunca foi especialmente acolhedora – “o Pacheco Pereira gostava era que ela fosse cozy para ele” – e acha que assim é que está bem. “Se fosse uma espécie de clube britânico, não tinha graça nenhuma”, diz Tavares, que acha que aos blogues só não devem permitir-se “as calúnias e a falta de sentido de humor”.
Pacheco Pereira recorre a analogias com o velho faroeste americano para caracterizar a blogosfera portuguesa e o modo como esta foi evoluindo. Acha que, entre os blogues com maior expressão, “existem várias tribos, e uma comunidade geral, uma “nação índia”, com regras de sociabilidade mais ou menos comuns”. Mas crê que se “passou de um ambiente “comunitário” primitivo para uma “luta de classes” agressiva, em grande parte”, argumenta, “porque a blogosfera é um campo de recrutamento dos media tradicionais e os bens são escassos na opinião”. E acrescenta que “já há tentativas de ganhar dinheiro, criando redes de blogues que se citam artificialmente uns aos outros para depois serem vendidas a algum operador que se pretenda instalar na blogosfera”. Recuperando a metáfora inicial, resume: “Continua o far west, mas já chegaram as companhias ferroviárias e os Pinkerton”. A recente transferência de muitos dos blogues mais conhecidos para a plataforma fornecida pelo Sapo, alguns deles a convite do próprio portal, parece dar-lhe razão.
Ao contrário de Ivan Nunes ou Mexia, Pacheco Pereira nunca se sentiu parte da comunidade bloguística. “O Abrupto dirige-se em primeiro lugar para fora da blogosfera”, diz, “e é daí que vem a maioria dos seus leitores e, penso, a razão do seu sucesso consistente desde 2003”. Algo que, afirma, “irrita muita gente, mas é indesmentível nos números”.
Casanova e maradona
Os “números” são uma coisa que preocupa todos os bloggers, incluindo, garante Mexia, os que dizem que não lhes ligam nenhuma. Há diversas instituições que fornecem estatísticas relativas à blogosfera, recorrendo aos mais variados métodos e critérios. A popularidade dos blogues pode ser medida pelo número de vezes que alguém a ele acedeu, ou pelo número de páginas visitadas, ou pelo tempo médio que dura cada visita, ou ainda pela quantidade de links para um determinado blogue. Este último processo, utilizado pelo Technorati – que, já em 2007, afirmava rastrear mais de 112 milhões de blogues – propõe-se avaliar não tanto a popularidade, mas aquilo a que esta empresa chama a “autoridade” de um blogue. Isto dito em linguagem simples. O blogue Pastoral Portuguesa, cujo autor assina Rogério Casanova, oferece uma definição mais académica do termo “Technorati”, recorrendo ao estilo das entradas de dicionário: “palavra derivada do calão Fenício para “mercador cujas bugigangas gozam de sucesso considerável entre os Hititas”. Designa actualmente o instrumento utilizado para medir a relevância ontológica de um sujeito X, em relação a um padrão abstracto Z denominado, por convenção, “Pacheco Pereira””.
O poeta e cronista Manuel António Pina não tem dúvidas em sugerir este Pastoral Portuguesa como um dos mais recomendáveis blogues portugueses em actividade. E sabe do que fala, porque é um leitor infatigável da blogosfera. Já em 2003 afirmava, na Visão (esta e outras informações foram colhidas na muito útil cronologia comentada da blogosfera portuguesa que Leonel Vicente vem disponibilizando em “http://leonelvicente.jottit.com), que “a blogosfera é o lugar onde hoje melhor se escreve e se pensa em português”.
Mexia e Ivan Nunes também apreciam o autor que se esconde sob o pseudónimo Rogério Casanova , mas, quando se lhes pergunta que talentos oculta a blogosfera que não tenham ainda “saltado” para os jornais, para a televisão, ou para as páginas de um livro, referem ambos o mesmo nome: alguém que se assina “maradona”, assim mesmo, sem maiúscula inicial, e que alimenta o blogue A Causa foi Modificada.
E, como nota Ivan Nunes, há blogues que conseguiram atingir um estatuto de referência no interior da blogosfera, ainda antes de serem conhecidos fora dela. “Nunca esqueçamos”, diz, “o Gato Fedorento, que foi um blogue antes de ser tudo o resto, e antes de eles imaginarem que podia ser tudo o resto, e ainda menos esqueçamos O Meu Pipi, que foi um fenómeno extraordinário”. Este último, que ostentava uma assombrosa erudição em matéria de gíria aplicável aos órgãos e actividades sexuais, e que chegou mesmo à edição em livro, é ainda hoje um enigma por desvendar. A identidade do seu autor nunca foi revelada.
Apesar destes exemplos, Mexia e Ivan Nunes coincidem em sugerir que haverá apenas “uns cem blogues” que vale a pena ler. Mexia sublinha que o número é arbitrário e que é um modo de dizer que a blogosfera não é um viveiro de talentos ocultos. Rui Tavares, sem propriamente discordar, acha que há, ainda assim, bastantes autores talentosos a escrever em blogues, e nota que o panorama dos colunistas e comentadores que fizeram o seu nome nos jornais não é mais animador. “Se deixarmos ficar só os melhores, os que são bons e escrevem bem, temos o Pacheco Pereira, o Vasco Pulido Valente, o Manuel António Pina, o Ferreira Fernandes… quem mais?”.
Público
Blogosfera em 2008 (VII)
Ainda a propósito da manifestação de professores, o Diário de Notícias publicava, na primeira página, fotografia da autoria de um blogger, onde se destaca deliberadamente uma das manifestantes, Fernanda Tadeu, mulher do presidente da Câmara de Lisboa (e ex-ministro), António Costa.
A 15 de Março, Alexandre Borges, “Homem do pullover amarelo”, João Bonifácio, Nuno Costa Santos, Nuno Miguel Guedes, Pedro Marques Lopes e Pedro Vieira davam início ao “Sinusite Crónica” (entretanto retomado a 10 de Novembro, depois de uma paragem de dois meses).
No dia 17, Henrique Monteiro começava a brindar-nos com os seus excelentes cartoons, no “Henricartoon“.
Cinco anos após o início do conflito militar no Iraque, o jornalista Luís Castro, da RTP, regressava ao cenário da Guerra; e dava-nos conta desse regresso, no seu blogue “Cheiro a Pólvora”.
A 22 de Março, com o título “Um país de blogues”, o Público aborda o tema da blogosfera portuguesa, dando voz à opinião de vários bloggers, concluindo que Portugal é um dos países onde, em termos relativos, «mais gente escreve em blogues e os lê» (vidé texto integral, a publicar amanhã).
Blogosfera em 2008 (VI)
O início do mês de Março coincide com a suspensão (temporária) da publicação do Vida Breve, de Luís M. Jorge.
A 3 de Março, Paulo Querido anunciava a disponibilização, sob a forma de newsletter semanal, de alguns dos conteúdos mais relevantes do blogue “mas certamente que sim!”, marcando mais uma etapa inovadora na blogosfera portuguesa.
Na mesma data, tinha início o CINEdrio, de Luís Mendonça e Ana Campino; o tema é o Cinema!
No dia seguinte, Vasco M. Barreto colocava termo à existência do blogue “A Memória Inventada”.
A 8, um artigo no Público, da autoria de Andreia Sanches e Isabel Leiria, abordava o papel da blogosfera enquanto «nova arma de mobilização», a propósito da contestação dos professores do ensino secundário à política governamental, em especial à reforma tendente à avaliação da classe docente:
Blogosfera em 2008 (V)
“A Evolução de Darwin” é um blogue de apoio à exposição a inaugurar a 12.02.2009, na Fundação Calouste Gulbenkian, evocando os 200 anos do nascimento de Charles Robert Darwin, autor de “A Origem das Espécies” (de cuja publicação se comemorarão também 150 anos em 2009).
Em meados de Fevereiro, a propósito do programa televisivo “A União a 27”, a SIC lançava o blogue “Unir a 27”, tendo por temática a União Europeia.
Paralelamente, a revista Visão criava um blogue sobre os Jogos Olímpicos, “Rumo a Pequim”, onde são mantidos arquivos vídeo de alguns dos melhores momentos deste grandioso evento, desde a cerimónia de abertura aos fabulosos records mundiais, passando pelas medalhas portuguesas, de Nélson Évora e Vanessa Fernandes.
Também a 15, Gabriel Silva (Blasfémias) dava começo a novo e curioso projecto – que intitulou “XIX” -, recorrendo à publicação de textos de jornais e revistas do século XIX, de que são exemplo O Panorama, Correio Braziliense, Archivo Pittoresco, ou Espectro.
A partir de 21, Paulo Nuno Vicente, jornalista da Antena 1, propunha-se debater a temática do exercício da profissão em ambiente hostil, no Report on Safety – Jornalismo em Segurança.
Ainda no mês de Fevereiro, Carlos Araújo Alves, lançava, no Ideias Soltas, uma petição em defesa do ensino artístico em Portugal, que seria notícia em vários media.
Numa altura em que a blogosfera era também sacudida pelo “caso Insurgente”, que teria sido alegadamente vítima de ataque de hackers.
Outra questão em discussão foi a forma como defender as marcas face a ataques provenientes de blogues, que fez capa de edição da Meios & Publicidade, com réplicas de Paulo Querido e António Dias.
O final do mês de Fevereiro ficaria assinalado por um vasto debate a propósito de alegada censura nos blogues e a questão da liberdade de expressão, tendo como pretexto o caso de um docente da Universidade do Minho, Daniel Luís, em cujo blogue (dissidencias) era satirizada a religião, a justiça, a política e o desporto, o qual foi pressionado a encerrar o blogue, considerado “desprestigiante” da instituição.
E haveria ainda tempo, em Fevereiro, para uma polémica blogosférica entre José Pacheco Pereira e Luís Nazaré, a propósito de entrevista relativa à qualidade de serviço dos CTT, instituição dirigida pelo também blogger do Causa Nossa.
Blogosfera em 2008 (IV)
Logo a 1 de Fevereiro, era criado o blogue “Os Livros Ardem Mal – TAGV”, de António Apolinário Lourenço, Luís Quintais, Osvaldo Manuel Silvestre e Rui Bebiano, e ainda com colaborações de Ana Bela Almeida, Manuel Portela e Miguel Cardina; basicamente, um ponto de encontro digital, visando prolongar a vida dos encontros mensais no TAGV (Teatro Académico Gil Vicente) em Coimbra, onde se fala de livros recentemente publicados.
Tinha também início o “Postas do Oriente”, tendo como «propósito atrair a atenção do mundo lusófono para com o ainda por muitos desconhecido mas cada vez mais influente continente asiático», reunindo um conjunto de blogues escritos em português por autores residentes no Oriente, ou cuja temática se centra essencialmente nessa zona.
“Rogério Casanova”, num de muitos momentos de inspiração, brindava-nos com uma “James Joyce flash interview”.
A 6 de Fevereiro, José António Cerejo, jornalista do Público, comentava artigo de João Paulo Meneses no Blogouve-se, a propósito de investigação publicada no jornal, relacionada com projectos de arquitectura assinados por José Sócrates.
Poucos dias depois surgia mais uma nova interpretação do conceito de expressão via blogue, com o “Que diz o pivô”, de Pedro Penilo, através do recurso à publicação de “mini-cartoons”, simulando um écran de televisão.
Imediatamente antes do desencadear do apelidado “Caso Abrantes”, associado a uma denominada “central de comunicação de bloggers”, com alegada participação de assessores do Governo, que estaria baseada no blogue Câmara Corporativa, polémica que seria amplamente discutida na blogosfera.
E em paralelo com outro caso, de «Agências de comunicação infiltradas em blogs», na oportunidade de mudança da imagem corporativa da Optimus.
A 11 de Fevereiro, «Nos dez anos da morte de Francisco Lucas Pires, um grupo de amigos decidiu fazer-lhe uma homenagem. Nós, os seus filhos – Simão, Martinho, Rafael e Jacinto -, associamo-nos a esse “até sempre” com este blogue. Aqui reuniremos diferentes textos do nosso pai: palavras de esclarecer o ontem e iluminar o amanhã».
Blogosfera em 2008 (III)
Por esta altura, o “Lugares Comuns”, blogue profissional de Luís Paixão Martins, transitava também para a plataforma de blogues do Sapo.
A 19 de Janeiro, a jornalista Sónia Morais Santos criava o blogue “Cocó na Fralda”, a propósito da «esquizofrenia da maternidade».
E, dois dias depois, tinha início o “Blog do Dadus”, dando o alerta: «Os dados pessoais são demasiado valiosos para andarmos a jogar com eles». O “Projecto DADUS” seria entretanto apresentado a 28, Dia Europeu da Protecção de Dados.
Para, a 22, surgirem o “Tristram Shandy” e o “Braga Porto 40 minutos” (A Comissão de Utentes da Linha Braga-Porto, criada no início de 2008, dera entretanto lugar à Associação Comboios XXI, tendo por objectivo: «promover a melhoria do serviço público de transporte ferroviário a nível local, regional e nacional, dando particular atenção à linha Porto-Braga»).
Ainda no mês de Janeiro, era decretado o arquivamento de processo de inquérito relativo à queixa intentada pelo cidadão José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa e primeiro-ministro, contra António Balbino Caldeira, autor do blogue “Do Portugal Profundo”, na sequência de artigos publicados em 7 de Abril de 2007 (“Rasganço domingueiro”, contendo a referência ao «centro governamental de comando e controlo dos media»; e “Páscoa da Cidadania”, em que era mencionada a «força de encobrimento e contra-informação do centro de comando e controlo do Gabinete do Primeiro-Ministro», e também por alegada difamação a propósito das habilitações académicas do secretário-geral do PS.
Com uma vida efémera, fora também criado o blogue “Amigos da Cultura”, tendo por mote uma manifestação pública da preocupação com a forma como tem vindo a ser conduzida a política cultural da Câmara Municipal de Coimbra.
A 27 de Janeiro, o 5 dias reforçava-se, revestindo a forma de conglomerado da blogosfera, com a admissão de Paulo Pinto, Maria João Pires, Inês Meneses, José Pedro Barreto (Womenage – também com novo endereço, na plataforma Sapo, a partir de Fevereiro), João Pinto e Castro (Blogoexisto), João Galamba (Metablog), Jorge Palinhos e Luís Rainha, assim como dos já habituais colaboradores Ana Matos Pires, Filipe Moura e Pedro Vieira (Irmão Lúcia).
No dia 29, a revista Timeout de Janeiro publicava artigo sobre os blogues Bibliotecário de Babel (de José Mário Silva) e Cadeirão de Voltaire (de Sara Figueiredo Costa e Andreia Brites – desde 26 de Novembro, em novo endereço), ambos dedicados aos livros e à literatura.
A encerrar o mês de Janeiro, Miguel Tomar Nogueira procurava lançar o Eu, Diabo – “Textos de um condenado nunca chamado a depor, o blogue de L. D. Satan”, mas o blogue teria uma muito curta existência. Paralelamente, encerrava-se a publicação de “O Melhor Anjo” (de Tiago Bartolomeu Costa).
Blogosfera em 2008 (II)
E, ainda a 6, Mariana Rosa (Psicóloga Social e Organizacional, voluntária de uma ONG) iniciava, na plataforma de blogues do Expresso, um sucinto Diário do Quénia – O Blogue de uma voluntária portuguesa em Nairobi.
No dia seguinte, a blogosfera assistia a uma dura esgrima de palavras entre José Pacheco Pereira e Pedro Santana Lopes, a propósito do rumo do partido em que ambos militam, o PSD.
A 8 de Janeiro nascia o “Web TV”, de Nuno Fernandes, visando «Acompanhar o desenvolvimento em Portugal do fenómeno, o crescimento das Web Televisões que já existem e o nascer de novos projectos».
Para, a 9, surgir o “Postais Ilustrados”, prometendo a escrita de “posts sobre postais”: «Estudá-los para uma reapreciação dos media tradicionais é o desafio a que nos propomos. Com este blogue vamos, por certo, escrever posts sobre postais! Vamos partilhar descobertas, curiosidades e, porque não, também exemplares de postais.»
No mesmo dia, a propósito de decisão de tribunal no caso “Do Portugal Profundo vs. Paulo Pedroso”, Pedro Fonseca alertava para a possibilidade de «qualquer autor de blogue que seja por “lapso” convidado por advogado alheio a retirá-lo do ar pode ser ressarcido em, pelo menos, 2500 euros».
A 10, dava-se o recomeço do “Final Cut”, blogue da revista Visão, com crónicas de cinema de Ana Margarida de Carvalho.
Para, no dia imediato, começarem o “Enguia Fresca”, “A Minha TV”, de Jorge Mourinha (mais um blogue do Público), e o “Codfish Waters”, de António Luís Vicente e Francisco Camarate Campos, tendo por temática a política nacional e internacional, a economia e o desenvolvimento.
A 13, dada a situação de bloqueio pelo blogger, e após diversas peripécias, o Blasfémias adoptava “nova casa”. Pela mesma razão, o F World, de Fátima Rolo Duarte, passava a integrar a plataforma de blogues do Sapo.
No dia 15, antecipando a evocação do centenário da proclamação da República, tinha início o blogue “Centenário da República”, ao mesmo tempo que era anunciada a criação de página específica na Internet, visando apresentar um outro prisma da História: «pretende-se coligir informação histórica, desde simples dados estatísticos a imagens e transcrições da época, acontecimentos e ensaios […]».
Blogosfera em 2008 (I)
Num bastante preenchido mês de Janeiro, logo no primeiro dia do ano de 2008, Sérgio Aires dava início a “O Outro”, um “fotoblogue”, surgindo também, nesse mesmo dia, o blogue da Livraria Pó dos Livros, mantido por Carlos Loureiro, Débora Figueiredo, Jaime Bulhosa e Isabel Nogueira.
Para, no dia imediato, se dar a abertura de “A Taverna do Embuçado”, evocando o centenário do assassinato do Rei D. Carlos e do Príncipe D. Luís Filipe, ocorrido a 1 de Fevereiro de 1908, blogue que viria a ter uma curta duração.
João Morgado Fernandes fazia então um interregno na publicação do French Kissin’, que apenas retomaria em Agosto. Ao mesmo tempo que Paulo Gorjão assinalava o seu regresso à blogosfera, via Cachimbo de Magritte, colaboração que manteria também por um relativamente reduzido período de tempo.
Assistia-se também ao “intermitente” regresso, a 4 de Janeiro, de Luís Nazaré ao Causa Nossa.
No dia 5, os autores do Blasfémias viam-se impedidos de publicar qualquer artigo, deparando com a mensagem: «Este blog está sendo analisado devido a possíveis violações do Termos de Serviço do Blogger.»
Francisco José Viegas anunciava no seu blogue, em “Declaração de interesses”, que deixava de escrever para a revista de sábado do Jornal de Notícias e do Diário de Notícias, passando a colaborar diariamente no Correio da Manhã, com uma coluna chamada “Blog”.
A 6, Joaquim Vieira, o novo provedor dos leitores do Público, anunciava a intenção de dinamizar o blogue, visando «intensificar e alargar o espaço de comunicação entre os leitores e o Provedor». O blogue serviria ainda, «por outro lado, para o Provedor se pronunciar sobre casos novos (não abordados na edição em papel), suscitados por iniciativa própria ou dos leitores».
No mesmo dia, o Jornal da Noite da SIC apresentava uma peça relativa a música online, com entrevista a Miguel Afonso Caetano, autor do Remixtures, blogue sobre a cultura da remistura, abordando a problemática da cultura livre emergente – desde netlabels, net-art, P2P, copyleft, Creative Commons, mash-ups, até remixes – e «dos entraves que se colocam ao seu pleno desenvolvimento, no sentido da partilha e reapropriação generalizada do conhecimento».
Blogosfera em 2008
Desde cedo – coincidindo com a criação do Memória Virtual, em Junho de 2003 – interessado e atraído pelo fenómeno, aqui comecei a apresentar resenhas anuais sobre a blogosfera portuguesa. A partir de amanhã, no que vem constituindo uma espécie de tradição (já pelo sexto ano consecutivo) – e numa ocasião em que tem estado na ordem do dia o “fim da blogosfera” – aqui darei início a uma breve retrospectiva de alguns momentos vividos no universo dos diários virtuais portugueses no decurso dos últimos 12 meses.
Tal como ressalvado já por mais de uma vez, trata-se de uma visão necessariamente parcelar e incompleta (a minha perspectiva pessoal, limitada por condicionantes diversas, a que o eterno alibi da escassez do tempo não será alheio) sobre alguns dos aspectos mais marcantes ao longo do ano, procurando também – sem prejuízo da inevitável referência aos casos mais mediatizados – um singelo alargar de horizontes (por entre a imensidão que decorre de uma verdadeira mole de sítios), por via da divulgação de alguns blogues menos propalados.
A título de memória, aqui fica a indicação das resenhas efectuadas em anos anteriores:



