Liga dos Campeões – 1/8 final (1.ª mão) – Benfica – Ajax
23 Fevereiro, 2022 at 10:55 pm Deixe um comentário
Benfica – Odysseas Vlachodimos, Gilberto Moraes (90m – Diogo Gonçalves), Nicolás Otamendi, Jan Vertonghen, Alejandro “Álex” Grimaldo, Rafael “Rafa” Silva, Julian Weigl, Adel Taarabt (85m – Paulo Bernardo), Everton Soares (62m – Roman Yaremchuk), Gonçalo Ramos e Darwin Núñez (90m – Valentino Lazaro)
Ajax – Remko Pasveer, Noussair Mazraoui (90m – Devyne Rensch), Jurriën Timber, Lisandro Martínez, Daley Blind (73m – Nicolás Tagliafico), Edson Álvarez, Steven Berghuis, Ryan Gravenberch (73m – Davy Klaassen), Antony Matheus dos Santos, Dušan Tadić e Sébastien Haller
0-1 – Dušan Tadić – 18m
1-1 – Sébastien Haller (p.b.) – 26m
1-2 – Sébastien Haller – 29m
2-2 – Roman Yaremchuk – 72m
Cartões amarelos – Darwin Núñez (46m), Gonçalo Ramos (49m) e Roman Yaremchuk (72m); Noussair Mazraoui (23m), Steven Berghuis (45m) e Antony Matheus dos Santos (87m)
Árbitro – Slavko Vinčić (Eslovénia)
O resultado final foi claramente lisonjeiro para o Benfica. Não sei se é “suposto” festejarmos (enquanto benfiquistas) um empate em casa. Mas é também de “noites europeias” como esta que se forjou a mística e prestígio internacional do Benfica.
Contrariamente ao proclamado por Nélson Veríssimo, a abordagem do jogo por parte das duas equipas cedo denotou que esta não era uma eliminatória “50/50”. A diferença de intensidade competitiva foi demasiado flagrante, como se se enfrentassem uma equipa assustada, retraída, e outra, plena de confiança na sua superioridade, com uma dinâmica imparável.
O “onze” benfiquista, evidenciando dificuldades de organização, cometia falhas sucessivas, nem sempre resultado de “erros forçados” pelo adversário. Cabal exemplo, nessa fase inicial do jogo, foi dado pelo primeiro golo dos neerlandeses, aproveitando uma perda de bola (situação já antes repetida) de Grimaldo (não tendo conseguido fazer a recepção apropriada), com Tadić a surgir completamente liberto de marcação ao segundo poste, a alvejar a baliza num remate de primeira, algo “acrobático”, após cruzamento largo.
Seria da forma mais improvável que, escassos minutos volvidos, o Benfica reporia a igualdade no marcador: o defesa central, Vertonghen (antigo jogador do Ajax, onde completou a sua formação, tendo integrado a equipa principal do clube de Amesterdão de 2007 a 2012 – antes de enfileirar, durante oito temporadas, no Tottenham), aventurando-se pelo meio-campo contrário (acorrera à marcação de um pontapé de canto), driblou um adversário na zona central, ensaiou um remate que foi rechaçado, recuperou a bola, descaindo para a esquerda, avançou até à linha de fundo, procurando “cruzar” para a zona da pequena área – onde não havia nenhum jogador benfiquista, mas vários do Ajax, tendo a bola tabelado… no “ponta de lança” Haller, autor involuntário de um auto-golo!
Foi “sol de pouca dura”. Apenas mais três minutos decorridos o próprio Haller recolocava a sua equipa em vantagem, marcando, agora, na “baliza certa” (na sua perspectiva, claro), aproveitando uma defesa incompleta de Vlachodimos. Foi o 7.º jogo do franco-marfinense na Liga dos Campeões e, de forma incrível, o 7.º jogo a marcar consecutivamente na competição – registo nunca antes visto –, num total de 11 golos, que leva já nesta sua época de estreia no torneio (não obstante contar já 27 anos, tendo antes passado, no decurso da sua carreira, pelo Utrecht, Eintracht Frankfurt e West Ham).
Até ao termo da primeira metade subsistiria o desequilíbrio, a par de algum descontrolo da parte do Benfica, que bem poderia ter saído para o intervalo com, pelo menos, outros tantos tentos sofridos (não fossem as intervenções do guarda-redes grego, uma bola no poste, e uma recarga falhada de Haller).
A segunda parte seria substancialmente diferente: a ideia que fica é que o Ajax, perante tamanhas facilidades com que lidara até então, como que se “acomodou”, limitando-se a adormecer o jogo, confiante, não só de que a vitória não lhe escaparia, como, com naturalidade, seria ampliada a margem. Mas não… Era não contar com o impacto do apoio entusiasta dos adeptos benfiquistas, levando a equipa “ao colo”, capacitando-a animicamente e impulsionando-a a reverter a situação.
E, claro, necessariamente, também com uma mudança de atitude dentro de campo, de grande entrega, com um inesperado “playmaker” a revelar-se em Taarabt, deambulando por todo o campo, a puxar também pelos companheiros, a solicitar a velocidade de Rafa na direita e a fogosidade (mesmo que, por vezes, inconsequente, por menor inteligência emocional) de Darwin a partir do flanco esquerdo. Tudo isto coroado com a alteração estratégica delineada por Nélson Veríssimo: a entrada de Yaremchuk, enquanto o incansável Gonçalo Ramos descaía para a zona intermediária, agora em apoio à dupla mais ofensiva. A que acresceria, uma vez mais, a intervenção “salvadora” de Vlachodimos (por volta do minuto 65), a evitar o que poderia ter sido o terceiro golo adversário, o que, a acontecer, teria selado o desenlace da partida.
Bastariam dez minutos após a entrada do ucraniano em campo – curiosamente, num lance de insistência, depois de um potente remate de meia distância de Gonçalo Ramos (assistido por Rafa, embalado em velocidade, após uma recuperação de bola na sequência de canto a favor do Ajax), que “levava fogo”, o qual o guardião neerlandês não conseguiu igualmente suster, mais não conseguindo que repelir a bola para a sua frente – para, muito focado, de forma bastante oportuna, se antecipar ao guarda-redes, cabeceando sem apelo para o fundo da baliza. O golo que, certamente, mais terá desejado marcar em toda a sua carreira, dedicando-o ao povo da Ucrânia, numa hora grave para o país, enfrentando a inadmissível agressão russa.
Daí até final, ainda com cerca de vinte minutos por jogar, o Ajax, tendo quebrado o ritmo que impusera na primeira parte, denotaria maiores dificuldades em voltar a reactivar a dinâmica inicial, num contexto agora já distinto. Vlachodimos ainda seria chamado a mais duas intervenções, a remates de Antony, mas o 2-2 não se alteraria até final, colocando assim travão à caminhada triunfal do Ajax na presente edição da prova, depois de ter vencido todos os seis jogos da fase de grupos (frente a Sporting, Borussia Dortmund e Beşiktaş).
Os adeptos benfiquistas saíam satisfeitos com o desempenho da equipa – e, sobretudo, com a capacidade de reagir à adversidade que demonstrou -, e, porque não dizê-lo, com o próprio resultado, não se tendo confirmado os piores “temores”. Mais, independentemente das dificuldades que serão de esperar no desafio da 2.ª mão, em Amesterdão – com o Ajax óbvio favorito –, terá aumentado de forma interessante a expectativa de poder levar de vencida esta eliminatória, no que, a concretizar-se, não deixaria de se traduzir num sensacional desfecho.
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