Jorge Jesus
18 Julho, 2020 at 12:49 pm Deixe um comentário
A contratação de Jorge Jesus pelo Benfica – cinco anos depois da sua dispensa pela Direcção, por não se enquadrar na estratégia e no projecto do clube – é, de algum modo, como se se estivesse a começar agora a especular na Bolsa, no preciso momento em que as cotações atingiram o pico e, previsivelmente, virão por aí abaixo num futuro próximo; ou, de outra forma, qual jogada de Casino, um “all-in”, apostando todas as fichas numa única opção, na ilusória esperança de vir a ser bafejado com a sorte de um “jackpot”.
Isto numa altura em que o Benfica negociou os termos da contratação em posição de absoluta fraqueza (em desespero, mesmo, numa luta contra o tempo, perante os “nãos” que terá recebido e outras hipóteses irrealistas, de entre nomes como Mauricio Pochettino, Julian Nagelsmann, Massimiliano Allegri, Unay Emery, Leonardo Jardim, Jorge Sampaoli e Marcelo Gallardo, para além do “clássico” José Mourinho – entre tantos outros que foram apontados pela comunicação social como potenciais alvos)…
Em contraponto a um Jorge Jesus no auge do seu valor de mercado, pelo (conjuntural) sucesso obtido no Flamengo, em boa medida fruto de uma enorme discrepância de poderio face à concorrência nacional, e, a nível sul-americano, com bastante felicidade (após ter começado por ganhar o seu grupo de apuramento em igualdade de pontos com o 2.º e 3.º classificados, ainda sob o comando técnico de Abel Braga), desde logo, com um desempate da marca de grande penalidade, nos 1/8 de final, ante o Emelec após comprometedora derrota por 0-2 no Equador, defrontando equipas brasileiras nos 1/4 de final e nas meias-finais, culminando na final ante o River Plate, com a equipa argentina a dominar todo o jogo, acabando por ser inesperadamente derrotada em função de dois golos marcados por Gabriel Barbosa, nos minutos 89 e 92.
Mais do que tudo o resto, o que me intriga é esta crença “irracional” (com muito pouca fundamentação) de que Jesus será o (único) “salvador da Pátria”, quando – até pela experiência anterior de 6 anos (mais 3 no Sporting) – se sabe ter muitas limitações e pontos fracos, que nunca possibilitarão, por exemplo, ter sucesso na Europa, onde, sobretudo na Liga dos Campeões, não deixou de ter alguns desempenhos sofríveis.
A nível nacional, a memória que retenho é que Jesus, de forma sistemática (foi aprendendo com os erros, denotando algumas melhorias em 2013-14 e 2014-15), apostando “cegamente” nos mesmos jogadores, esgotava física e mentalmente as suas equipas (até pela exigência que lhe é commumente reconhecida), que chegavam à fase decisiva das épocas (meses de Março/Abril) já em notório sub-rendimento.
Isto, claro, associado a uma política muito agressiva (e dispendiosa) de contratações, privilegiando o curto prazo e, nunca, projectos de futuro, praticamente não dando oportunidades a valores surgidos da formação do clube (tendo por “pecado capital” o imperdoável caso de Bernardo Silva).
Não tenho nenhum “parti pris” contra Jesus. Compreendi perfeitamente que tivesse aceitado o convite do Sporting (para além de ser profissional, acresce que é o seu clube, até por motivos de ordem familiar, pelo que, inclusivamente pela forma como fora dispensado do Benfica, se afigurou uma oportunidade irrecusável), pelo que não vi qualquer problema nisso. Apenas entendo que era desnecessário ter destratado o Benfica, e, principalmente, Rui Vitória, que procurou “apoucar” de forma inaceitável (sem esquecer a infeliz atitude face a Shéu, ainda no Benfica). Acabaria, aliás, em 2015-16, por ser vítima da sua própria “basófia”.
O que não lhe reconheço é a competência extrema que outros parecem ver, como se se tratasse da “última bolacha do pacote”.
Até 2010, ao longo de 20 anos de carreira como treinador – na maior parte do tempo, é verdade, em clubes sem grandes aspirações: Amora; Felgueiras; U. Madeira; E. Amadora; V. Setúbal; V. Guimarães (14.º lugar em 2003-04); Moreirense; U. Leiria; Belenenses (5.º e 8.º lugar em 2007 e 2008); e Sp. Braga (5.º em 2008-09, atrás do Nacional, de Manuel Machado) – nunca registou qualquer desempenho que se possa considerar efectivamente notável.
Nos 9 anos de Benfica e Sporting ganhou (apenas) três vezes o campeonato, pecúlio manifestamente escasso para os investimentos realizados. De facto, nunca se lhe conheceu perspectiva realista de poder vir a ser candidato a assumir um clube de nível europeu (nunca mais que, em Espanha, uma equipa de tipo Valencia).
Por fim, o investimento que se está a fazer na sua contratação parece-me absolutamente desmesurado, dificil de rentabilizar, e, no limite, se as coisas correrem mal – e receio exista uma probabilidade não negligenciável de tal vir a ocorrer -, poderá revelar-se mesmo ruinoso.
Com eleições previstas para daqui a três meses, trata-se de uma jogada de alto risco, que, mais do que procurar defender o interesse do Benfica, visa, fundamentalmente, perpetuar a sua liderança. E, na hipóstese improvável de mudança de presidência do clube e da SAD, deixando os eventuais futuros responsáveis reféns de uma escolha – de médio prazo – que não foi sua.
Tudo isto dito – ficando claro que Jorge Jesus (que, obviamente, dispõe de qualidades) nunca seria o “meu” treinador (e não faltariam perfis que poderiam proporcionar um projecto futuro de desenvovimento mais sustentado, de que, a título exemplificativo, no imediato sem possibilidade de prova contra-factual, deixo os nomes de Luís Castro, Paulo Fonseca, Abel Ferreira e, porque não, João Henriques) – só desejo é que venha a alcançar no Benfica êxito a uma escala como nunca antes teve…
Trackback this post | Subscribe to the comments via RSS Feed