Archive for 6 Maio, 2018
O Pulsar do Campeonato – 25ª Jornada
(“O Templário”, 03.05.2018)
Após a realização da 25.ª ronda do Campeonato Distrital da I Divisão, ficou já definido o lote completo de clubes a despromover ao escalão secundário, para a próxima época: U. Abrantina, Riachense, Moçarriense e Empregados do Comércio. Com o título de Campeão também já virtualmente conquistado pelo Mação, subsiste como pólo de atracção, para a derradeira jornada, a disputa pelo 2.º lugar, posição pela qual se mantém em compita um terceto, formado por U. Tomar, Torres Novas e Ferreira do Zêzere (este, um ponto abaixo dos dois anteriores).
Destaques – O principal destaque vai, novamente, para o triunfo (2-1) averbado pelo U. Tomar, repetindo a vitória que registara na temporada passada nas Fazendas de Almeirim, no que constitui apenas o segundo desaire caseiro do Fazendense no presente campeonato, desfecho que determinou, desde já, que o grupo almeirinense não possa almejar melhor que o 5.º posto.
Cientes da importância deste desafio, perante um dos mais credenciados opositores da competição, voltando a ter uma entrada em campo bastante afirmativa, os unionistas cedo inauguraram o marcador, controlando o jogo durante toda a sua metade inicial. Na etapa complementar, os donos da casa surgiram mais afoitos, vindo a igualar a contenda. Mas, tal como sucedera há uma semana, os tomarenses responderam de pronto, praticamente no minuto imediato, repondo a vantagem, que conservariam até final, chegando assim ao último jogo em situação privilegiada para, pelo quarto ano consecutivo, marcarem presença no pódio final.
Em Abrantes, num confronto que se perfilava como determinante na luta pela manutenção, a U. Abrantina não conseguiu chegar ao único resultado que lhe poderia ter proporcionado manter a incerteza até ao último dia, e, nesse caso, continuar a “sonhar”. Ao invés, seria o Cartaxo a marcar primeiro, comprometendo deveras tais aspirações. O grupo de Abrantes mais não conseguiria que o tento do empate, alcançado já na fase terminal do encontro, vendo assim confirmada a sua despromoção à II Divisão, acabando por ser – em função da qualidade de futebol que apresentou ao longo da prova – a principal “vítima” do sofrível desempenho dos clubes do Distrito no Nacional.
A realizar uma excelente recta final – somando a sua sexta vitória nos últimos sete jogos no campeonato –, o Torres Novas, ganhando em Samora Correia, mercê de um solitário tento, confirma o brilhante desempenho no campeonato, notoriamente acima das expectativas iniciais, superando clubes que, à partida, se perfilavam como candidatos ao título (como eram os casos do próprio Samora Correia, U. Almeirim ou Cartaxo). Pelo contrário, os samorenses, com uma época atípica, acabam por pagar a sua grande irregularidade (a uma série inicial de quatro triunfos, entre a 2.ª e 5.ª rondas, seguiu-se um terrível ciclo de sete derrotas em oito jornadas, cinco delas sucessivas, complementado, já na segunda volta, com seis vitórias consecutivas, para fechar, por agora, com mais uma série de quatro desaires), ocupando um modesto 7.º posto.
A última nota de realce vai para o triunfo do U. Almeirim em Ourém, ante o At. Ouriense, também por tangencial 1-0, posicionando-se no 6.º lugar, mas, ainda, com a possibilidade de chegar ao 5.º, caso consiga igualar pontualmente o seu grande rival das Fazendas de Almeirim.
Confirmações – A equipa do Ferreira do Zêzere, recebendo e batendo o Amiense, por 1-0 (interrompendo um ciclo de três vitórias sucessivas do grupo de Amiais de Baixo) continua a cotar-se como a de melhor desempenho na segunda volta da competição, tendo garantido já a melhor classificação de sempre da sua história – pelo menos, um absolutamente notável 4.º lugar –, aspirando ainda a uma posição no pódio, pese embora enfrente a derradeira jornada em desvantagem pontual e com uma difícil visita ao terreno do Campeão.
Precisamente, o Mação, agora já em descompressão, talvez começando a pensar na final da Taça, foi vencer a Riachos, por ilusória margem de 2-0, na perspectiva de que o Riachense manteve o nulo no marcador praticamente até ao derradeiro minuto do tempo regulamentar…
Por fim, no “derby” escalabitano, entre os dois últimos classificados, o Moçarriense conseguiu, enfim, quebrar a “malapata”, ganhando pela primeira vez em toda a segunda volta (antes, somava dez derrotas e um único empate!), impondo-se também por tangencial 2-1 aos Empregados do Comércio, que, assim, não evitarão a posição final de “lanterna vermelha”.
II Divisão Distrital – Teve já início a fase final, de apuramento de Campeão e dos três clubes a promover ao principal escalão, com uma “jornada dupla”, no feriado, de 25 de Abril, e no passado Domingo. Destaca-se já, isolado na liderança, o U. Santarém, com duas vitórias por “chapa 4”: 4-2 no Tramagal, a que se seguiu nova goleada, por 4-0, na recepção ao Marinhais (que, na semana anterior, tinha sido já derrotado por ainda mais esmagadora marca de 6-0). Por seu lado, Rio Maior (4-1 ao Atalaiense, depois de um nulo em Marinhais) e Glória do Ribatejo (2-1 na Atalaia, a que se seguiu um empate a zero na recepção ao Tramagal), parecem pretender posicionar-se também como outros principais candidatos à subida.
Antevisão – Na I Divisão Distrital, para a jornada derradeira, as atenções estarão focadas no U. Tomar-Riachense (com os unionistas a necessitar confirmar o favoritismo, para “carimbar” o 2.º lugar, que ocuparam durante a maior parte da temporada), Torres Novas-Fazendense (um confronto com tendência histórica claramente favorável aos torrejanos, que poderão ainda beneficiar do facto de o adversário não poder já aspirar a melhorar a sua classificação) e Mação-Ferreira do Zêzere (com os ferreirenses apostados em potenciar ainda mais o “efeito-surpresa”).
Na II Divisão, o U. Santarém recebe o Glória do Ribatejo, podendo, em caso de vitória, garantir posição muito confortável no que à subida diz respeito, enquanto Tramagal e Rio Maior terão um confronto que poderá ter implicações relevantes em tal disputa. O outro jogo coloca frente a frente Marinhais e U. Atalaiense, equipas que vêm de goleadas sofridas nas rondas iniciais.
No Campeonato de Portugal, disputa-se a 1.ª mão do “play-off” de apuramento para subida à II Liga (apenas duas vagas de promoção), numa eliminatória com o seguinte alinhamento: Mafra-Vilaverdense, Vilafranquense-Vizela, U. Leiria-Lusitano Vildemoinhos e Felgueiras-Farense.
(Artigo publicado no jornal “O Templário”, de 3 de Maio de 2018)
Mendes Godinho – Apresentação do livro
MENDES GODINHO – Uma História de Empreendimento Empresarial Familiar
Quando, no final de 2016, a “Associação MG – Memorial Mendes Godinho” me dirigiu o convite para escrever um livro sobre a história da “Mendes Godinho”, sabia que estava a ser colocado perante o que fora um vasto “império empresarial”, com um leque muito diversificado de actividades, de enorme amplitude e abrangência.
Antevia – a traços largos e de contornos naturalmente algo indefinidos –, a dimensão do desafio que me era proposto, um projecto de tal modo aliciante que, rapidamente, isso se sobrepôs à natural dúvida sobre a capacidade de enfrentar, em tempo útil, a magnitude da empreitada que me aguardava. Na verdade, em qualquer circunstância, este era um repto irrecusável.
Mas estava, ainda assim, bem longe de poder abarcar toda a importância de que o “Grupo” se revestiu, ao longo de várias décadas, não só no panorama local e regional, mas, sobretudo, no plano nacional: nos anos 80, a então maior empresa privada de Portugal, em termos de volume de negócios – a TAGOL – era parte integrante do “Grupo Mendes Godinho”!
De imediato, foi desmedido o entusiasmo com que comecei a receber, estudar, compilar, resumir e tratar o manancial de informação e documentação que, quase semanalmente, o Sr. Carlos Mendes Godinho e o Dr. Manuel Mourão me faziam chegar, sempre com novas “descobertas” (e não apenas para mim…), vindas do fundo dos seus “arquivos pessoais”.
A intensa aventura em que tinha embarcado começaria, pouco a pouco, a ganhar forma, numa espécie de trabalho de filigrana, como se tratasse de juntar as peças de um enorme “puzzle”, “pluridimensional”, com a gratificante satisfação de ir, gradualmente, completando cada um dos vários quadros, que resultariam como que na imagem final de um polígono de vários vértices.
Ao longo dos meses seguintes, passei a “conviver” diariamente com figuras de irresistível fascínio, como as do patriarca, Manuel Mendes Godinho, ou do seu neto, grande responsável pela dinamização e desenvolvimento do “Grupo”, Dr. João Mendes Godinho Júnior. Mas, também, paralelamente, com negócios muito variados, como moagens, fornecimento de electricidade, cerâmicas, fábricas de rações, ou de fibras de madeira (“platex”), até à casa bancária.
Via desfilar os vários momentos, desde as origens, à criação, crescimento e apogeu de tal império empresarial, sublimado na visionária iniciativa que resultaria na implantação da TAGOL, em paralelo com a idealização de outro grandioso projecto, o qual, contudo, acabaria por não saír do papel, o da navegabilidade do Tejo.
Ia viajando pelas várias geografias a que se estendia este magno empreendimento: desde os “Lagares d’El Rei” – onde hoje nos encontramos – ao imóvel “Os Cubos”, passando por outros sugestivos nomes como os Vale Florido, Valbom, Nazaré ou Palença, na margem sul do Tejo, junto a Lisboa.
Assim como, por outro lado, “assistia” aos primeiros sintomas de crise, ao início do declínio, que culminaria no desmembramento e fim do “Grupo”.
Indelevelmente associado a esse final “pouco feliz” que se ia anunciando – num processo que se arrastaria ao longo de intermináveis anos –, um brusco momento da nossa história colectiva, com o processo de nacionalizações, em 1975, que me fez então tomar contacto e, de facto, embrenhar-me, minuciosa e detalhadamente, numa imensa panóplia de documentação jurídica, numa quase interminável sucessão de diplomas legais (Leis, Decretos-Leis e Despachos), acórdãos e sentenças judiciais, pareceres e petições de recurso.
Ao mesmo tempo, ficavam bem vincados os esforços que, durante décadas, vários membros da família iam desenvolvendo, em prol dos seus legítimos direitos, numa titânica e desigual luta. Entre a data da estatização da “Casa Bancária Manuel Mendes Godinho & Filhos” e a atribuição da compensação por tal expropriação haveriam de passar mais de trinta anos!
***
Este livro encontra-se estruturado em cinco partes, tratando as seguintes grandes áreas temáticas, também, paralelamente, organizadas em termos cronológicos:
- Manuel Mendes Godinho & Filhos;
- Casa Bancária Manuel Mendes Godinho & Filhos;
- Fábricas Mendes Godinho, S.A.R.L;
- TAGOL, Companhia de Oleaginosas do Tejo, S.A.R.L.; e
- Nacionalização.
A primeira parte começa por traçar um breve perfil biográfico do fundador, Manuel Mendes Godinho, assim como das origens da sua actividade empresarial, até à constituição da sociedade matriz – a Manuel Mendes Godinho & Filhos –, finalizando com um esboço de “retrato” do principal dinamizador da criação e expansão do “Grupo”, Dr. João Mendes Godinho Júnior.
Na segunda parte, é apresentada a evolução histórica da “Casa Bancária”, sob duas perspectivas: uma de índole académica; outra, de cariz oral, conforme depoimento do Dr. Luís Graça. É também abordada a reestruturação societária, a partir de 1960, na sequência de constrangimentos legais, assim como o projecto de instituição, já em 1974, do “Banco Mendes Godinho”. É ainda complementada com excertos dos Relatórios e contas da sociedade, dando conta da sua evolução, passo a passo, ao longo dos anos.
A parte três é dedicada à empresa Fábricas Mendes Godinho, SARL, criada em 1960, tendo assumido os negócios da área industrial, transferidos da sociedade-mãe. Nela são analisadas as várias indústrias que desenvolveu, desde a fábrica de rações “Sol”, às fábricas de fibras de madeira (duas unidades fabris de “Platex”, a que sucederiam a I.F.M. e Valbopan), assim como a Norema Portuguesa. Compreende ainda um alargado capítulo relativo à indefinição sobre a titularidade de 75% do seu Capital social, na sequência da nacionalização da “Casa Bancária”. Integra igualmente extractos dos Relatórios e contas.
Na parte quatro é detalhadamente abordada a que seria a última e grande “jóia da coroa”, a TAGOL – Companhia de Oleaginosas do Tejo, SARL, desde os estudos prévios, à “descoberta” do local da sua implantação, seus produtos e aspectos técnicos, empresas associadas e tentativa de alienação. Para além de fragmentos dos respectivos Relatórios e contas, aborda-se ainda, brevemente, a “segunda vida” da TAGOL, após a sua integração no perímetro da Sovena.
Por fim, na parte cinco, é apresentado, de forma detalhada, todo o complexo imbróglio associado ao contencioso com o Estado português e com o Banco Espírito Santo e Comercial de Lisboa, na sequência da nacionalização da “Casa Bancária Manuel Mendes Godinho & Filhos”. Por razões meramente de índole cronológica, esta última parte, e, consequentemente, o livro, encerra com breves referências à Associação Cultural e Desportiva Mendes Godinho e à Associação MG – Memorial Mendes Godinho.
***
A concluir esta apresentação, não poderia deixar de aproveitar a oportunidade para expressar o meu agradecimento a todos aqueles que, de alguma forma, contribuíram para que este livro se tornasse uma realidade.
Em primeiro lugar, necessariamente, e desde logo, à Associação MG – Memorial Mendes Godinho, promotora desta iniciativa, pelo amável convite para o elaborar, que muito me honra; e também a Carlos Mendes Godinho e ao Dr. Manuel Maria Azevedo Mendes Mourão, como principais responsáveis pela recolha da vasta documentação consultada, assim como pela aturada revisão do texto; a António Gomes, António Jesus Baptista, António Lourenço, Eng.º João António Sousa Pereira, Dr. José Augusto Oliveira Baptista, Dr. Luís Graça e Eng.º Luís Maria Godinho Gonçalves, pelos testemunhos prestados; e, ainda, ao Dr. Luís Marques, por gentilmente ter acedido ao convite para redigir o Prefácio, que sobremaneira valoriza e prestigia este trabalho.
(Fotos de João Mendes Mourão)