Archive for 8 Dezembro, 2006
BLOGOSFERA EM 2006 (XV)
No final do mês, a 29, em mais uma edição de “Livros em Desassossego”, o debate – com a participação de Pedro Mexia, blogger, poeta e cronista (que já publicou um livro em que reúne uma selecção de textos publicados n’A Coluna Infame e no Dicionário do Diabo – “Fora do Mundo”); Eduardo Prado Coelho, professor universitário, cronista e crítico literário e Fernanda Câncio, blogger e jornalista, e com a moderação de Carlos Vaz Marques – versou o tema: Blogues e livros: cúmplices ou rivais?
Fernanda Câncio já antecipara não imaginar a transposição para livro dos textos que publica no blogue; Eduardo Prado Coelho, defendeu uma posição irredutível, de preservação da “pureza” do (seu) desconhecimento do fenómeno da blogosfera.
Eduardo Prado Coelho declarou não ser leitor de blogues, nem pretender vir a sê-lo, por uma razão simples: existem tantas alternativas disponíveis, que já nos tomam tanto tempo, que não haverá necessidade de estar a introduzir mais um elemento “estranho” nos hábitos de quotidiano (por exemplo, ver televisão entre as 20h e as 2 da manhã, ler o Expresso, Diário de Notícias e Público aos Sábados de manhã, …); o tempo disponível poderá ser aproveitado, com vantagem – defende o professor universitário, cronista e crítico literário –, nomeadamente com a leitura de obras de literatura.
Exposta amiúde a contradição pelo facto de, afirmando não ler blogues, parecer ter “opinião formada” sobre alguns deles, rechaçou tal asserção, alegando que o conhecimento que tem dos blogues deriva das citações publicadas no Diário de Notícias.
Com posições antagónicas e obviamente inconciliáveis em relação a Eduardo Prado Coelho, Pedro Mexia e Fernanda Câncio procuraram expor as “virtudes” da leitura de blogues.
Pedro Mexia começou por referir que a dicotomia blogues vs. jornais (ou “bloggers” vs. jornalistas) era uma falsa questão – pode colocar-se nos EUA, em que há “bloggers” que pretendem ser “alternativa” aos media tradicionais; em Portugal, não haverá nenhum blogue que se oriente pelos princípios éticos e deontológicos de um jornal… apesar de haver blogues sobre jornalismo e blogues de jornalistas.
O poeta e “blogger” perspectiva portanto os blogues mais como “cúmplices” dos livros, do que como “rivais”. Valoriza particularmente a possibilidade que vieram abrir da formação de comunidades de partilha de interesses e gostos literários, por exemplo, para além de terem dado a conhecer novos autores. Discordando claramente de Eduardo Prado Coelho, afirmou que, na blogosfera, se escreve bastante melhor que, em termos médios, nos jornais portugueses.
Sobre a transposição dos textos de blogues para livro, falou da dificuldade em “recontextualizar” o que, ao sair da plataforma técnica de edição de blogues (que beneficia dos “links”), fica algo descontextualizado ou “datado” pelo imediatismo dessa forma de escrita, muitas vezes reactiva a textos de outros “bloggers”.
(continua)



