No Janela para o rio
8 Setembro, 2003 at 7:33 pm 4 comentários
No Janela para o rio, desafia-nos o Nuno P. a comentar a sua “entrada” com o título “Reflexões”, em que questiona nomeadamente:
a) Porque não pode um comunista ser católico praticante? A igualdade entre todos é incompatível com a fé em Deus?
b) Como é que as estatísticas demonstram que mais de 75% da população é católica, mas pelo menos metade da população vota à esquerda? Quer isto dizer que a abstenção é quase toda crente?
c) E as outras religiões, alguém que é budista, judeu, muçulmano, protestante ou outra religião qualquer, também é tendencialmente de direita?”
Na minha opinião, em muitos casos, e um pouco à semelhança da “escolha” do clube a que pertencemos – e tal como diz o Nuno – a escolha religiosa é de facto, numa primeira análise, determinada pela opção familiar. Não concordarei porventura na totalidade com a sua asserção de que a escolha política seja uma decisão do foro racional.
Não obstante haver “n” exemplos que irão contrariar a minha ideia (por exemplo, os irmãos Portas – Miguel, Paulo e Catarina – que, salvo erro, eram, ou são, afectos a três partidos diferentes; embora, também neste caso, a maior convivência com o pai – “de esquerda” – ou com a mãe – “de direita” – não tenha, inevitavelmente, deixado de fazer sentir as “suas marcas”), penso igualmente que a escolha “primária” (muitas vezes na adolescência) de um partido / área política não será tão consciente quanto isso, dependendo também, em larga medida, da inserção social e, mais uma vez, da influência familiar.
Talvez seja mais “fácil”, isso sim (e temos também muitos exemplos disso, desde logo o primeiro-ministro Durão Barroso…) uma evolução nas orientações políticas, ao longo da vida, a qual não será possivelmente tão marcada (e portanto muitas vezes não acompanhada) a nível religioso.
Isto, claro, sem prejuízo, de logo à partida, qualquer “família” poder ser “de esquerda” e manter convicções católicas (por exemplo, António Guterres), uma vez que – concluindo – não me parece que seja necessária ou implícita tal correlação de “ideais”.
P.S. Podem ver este “manual” de como “fazer um bom weblog“.
[239]
Entry filed under: Sociedade.




1.
Pessimista | 22 Novembro, 2003 às 10:45 am
Um comunista, no sentido exacto, histórico e filosófico do termo, não pode, jamais, ser um católico praticante!
Não é compatível conceber o Homem como simples peão sacrificado às inexoráveis leis da matéria e da história, sem qualquer sentido de transcendência que não seja o da sua transformação em átomos para sempre inertes, após o pequeno e aleatório episódio que foi a sua vida, e concebê-lo como um ser livre e responsável, único e irrepetível, criado propositadamente por Deus por um acto de absoluto e misterioso amor, destinado, na sintonia de um Plano dado a conhecer pela Revelação e testemunhado pela Igreja, a indescritíveis alegrias eternas.
Se por comunista se entender apenas aquele que luta pela justiça e pela igualdade, então todos os católicos praticantes devem ser comunistas, porque esse é o caminho do Evangelho de Cristo (o que nada tem a ver com coisas secundárias como partidos, direitas, centros ou esquerdas)
Pessimista | Email | Homepage | 09.08.03 – 7:02 pm | #
2.
Leonel Vicente | 22 Novembro, 2003 às 10:46 am
Confesso que o meu (des)conhecimento da teoria comunista (em termos da sua filosofia) não me permite replicar da melhor forma a este comentário. Mas, pragmaticamente, parece-me mais fácil de entender / aceitar a asserção do último parágrafo.
Leonel Vicente | Email | Homepage | 09.09.03 – 2:25 pm | #
3.
RS | 22 Novembro, 2003 às 10:46 am
Acho o ultimo paragrafo do pessimista muito certo… e acho tb que se associa muito o conservadorismo da direita ao conservadorismo da igreja catolica. Alem disso, na maioria dos estados autoritarios de esquerda a religião nao e vista com muito bons olhos, como na China de Mao. (assistimos a poucos, se é que houve algum, regimes comunistas não-ditatoriais).
RS | Email | Homepage | 09.11.03 – 10:51 am | #
4.
Ephesus | 17 Setembro, 2004 às 1:38 pm
Enquanto militante comunista, membro de uma comissão de freguesia e comissão concelhia do PCP e enquanto CATÓLICO PRATICANTE… venho por este meio expressar a minha completa indignação face ao comentário acima transcrito…
Para que se acabem as confusões dos pseudo-entendidos da “opinião detractora” do costume, convém que antes de se emitir uma opinião sobre assuntos de maior complexidade, se faça uma análise profunda ao conteúdo ideológico no respectivo contexto, e neste caso, do PCP em Portugal.
Assim sendo gostaria aqui de referir que a liberdade no seu amplo sentido social defendida pelo PCP contempla, logicamente, o direito à opção ou escolha religiosa de cada um.
A questão de base partidária no que à dogmatização diz respeito não fica em causa se um católico, testemunha de jeová, etc que para além do seu culto religioso, participa ou milita na actividade partidária de defesa intransigente dos trabalhadores, dos mais desfavorecidos e da luta contra a injustiça social.
Assim sendo, e como nota final, já não me espantam as considerações menos abonatórias acerca do comunismo, porque é frequente naqueles que continuam “obscurecidos” pelos maus exemplos dos ultimos anos da União Soviética, da qual obviamente, nos destacamos e repugnamos.