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INDEPENDÊNCIAS SUL-AMERICANAS (II)
Os factos que provocaram a emancipação política da América Latina constituem parte de um processo histórico que decorre entre 1808 e 1824, iniciado nas Índias como resposta ao movimento Juntista – desenvolvido em Espanha para defender os direitos de Fernando VII, prisioneiro de Napoleão -, tendo na sua fase inicial um carácter autonomista e federalista, o qual acabaria por derivar até à rebelião independentista, vindo a consumar-se com as Guerras da Independência (com um carácter de guerras civis), quase em simultâneo em toda a América.
A emancipação política teria origem em dois tipos de causas:
(i) internas (deficiente administração, o regime comercial de monopólio e proteccionismo económico, a segregação de mestiços e crioulos, o absolutismo e a tirania das autoridades) e
(ii) externas (a influência dos políticos europeus sobre os crioulos, a influência da Revolução Francesa e dos seus ideais de liberdade e igualdade, a difusão das ideias iluministas francesas e do liberalismo inglês, o exemplo da Independência dos Estados Unidos, o papel desempenhado pelas sociedades secretas e a participação activa dos jesuítas expulsos) – situações potenciadas pela invasão de Espanha por Napoleão e a reacção provocada na América pelo absolutismo de Fernando VII após o seu regresso ao trono em 1814.
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INDEPENDÊNCIAS SUL-AMERICANAS (I)
Em menos de 20 anos, concretiza-se o processo de independências em toda a América do Sul: o Paraguai proclama a Independência em 1811; a Argentina, em 1816; o Chile, em 1818; a Venezuela e a Colômbia, em 1819; o México (na América Central), em 1821; o Equador e o Brasil, em 1822; o Peru, em 1824; a Bolívia, em 1825; o Uruguai, em 1828.
A Grã-Colômbia idealizada por Simão Bolívar fragmentar-se-ia em Venezuela, Colômbia, Equador e Panamá. O Peru e o Vice-Reino do Rio da Prata dariam origem aos actuais Peru, Bolívia, Argentina, Paraguai, Uruguai e Chile. O Brasil mantém a unidade territorial da antiga colónia, vindo contudo a perder, na Guerra Cisplatina (1825-1827), a Banda Oriental, actual Uruguai.
Na América Central, em 1822, a Guatemala subleva-se contra a sua anexação pelo México. Em 1823, forma-se a Federação das Províncias Unidas da América Central, que viria contudo a desagregar-se, originando os actuais Costa Rica, El Salvador, Guatemala, Honduras e Nicarágua.
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SAN MARTÍN (III)
Aberto o caminho marítimo para Lima, era necessário dispor de uma frota, o que seria conseguido com alguns barcos capturados ao inimigo e outros adquiridos aos Estados Unidos e à Inglaterra, criando-se assim a marinha chilena.
A 20 de Agosto de 1820, o exército expedicionário argentino e chileno partia do porto de Valparaíso, em direcção a Lima, no Perú, onde San Martín entraria triunfalmente em Julho de 1821, proclamando a independência, sendo designado Protector do Peru e chefe do governo.
A 26 de Julho de 1822, San Martín encontrava Simão Bolívar na cidade de Guayaquil actual Equador, reunindo-se assim os dois libertadores da América, o do Norte e o do Sul.
A 20 de Setembro, reunia-se em Lima o primeiro Congresso do Peru, renunciando San Martín ao cargo, partindo então para o Chile, de onde partiria meses depois para Mendoza.
A 10 de Fevereiro de 1824, o libertador da Argentina, Chile e Perú, desgostoso com as guerras civis que assolavam as Províncias Unidas do Rio da Prata, embarcaria para a Europa, acabando por se exilar na Bélgica e, posteriormente, em França, onde faleceria a 17 de Agosto de 1850, na cidade de Boulogne Sur Mer.
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SAN MARTÍN (II)
Percebendo ser impossível atingir a cidade de Lima (que constituía então o centro do poder realista espanhol) através do caminho terrestre do Alto Peru, conceberia a ideia de atravessar a cordilheira dos Andes e de atacar Lima por via marítima.
Nomeado Governador de Ciyo, partia para Mendoza, junto da cordilheira dos Andes, onde convalesceria de doença, ao mesmo tempo que organizava o seu exército, com o apoio da população.
Em Janeiro de 1817, iniciava-se a travessia da cordilheira dos Andes, com cerca de 4 000 homens; no mês seguinte, pouco depois de atravessar a cordilheira, o exército dos Andes vencia os realistas na batalha de Chacabuco, chegando San Martín, poucos dias depois, à cidade de Santiago (Chile).
San Martín, designado como Director Supremo do território chileno, renunciaria a tal honra, sendo então eleito o general Bernardo O’Higgins.
No início de 1818, desembarcava no Perú novo exército realista espanhol, avançando de seguida sobre a capital do Chile, vindo a conseguir derrotar os defensores da independência na batalha de Cancharrayada, em que O’Higgins ficaria ferido.
O exército unido argentino e chileno conseguiria contudo reconstituir-se, acabando por vencer definitivamente os espanhóis, a 5 de Abril, na batalha de Maipú.
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SAN MARTÍN (I)
José de San Martín nasceu a 25 de Fevereiro de 1778 em Yapeyú, na que actualmente é a província argentina de Corrientes, filho de um coronel, governador do departamento local.
Contudo, partiria ainda jovem para Espanha, onde estudou e militou no exército. Aí conheceria outros militares da América do Sul, despertando entre eles os sentimentos de promoção da independência.
Em 1811, renunciaria à carreira militar no exército espanhol, partindo de Inglaterra, em direcção ao Rio de la Plata, onde chegaria a 9 de Março de 1812, e onde se envolveria no movimento independentista americano.
Definiria como estratégia expulsar os espanhóis do território americano, promovendo a independência dos territórios vizinhos.
O governo independente de Buenos Aires encarregá-lo-ia de criar um corpo de combate que, em Fevereiro de 1813, venceriam, em San Lorenzo, as forças realistas, que haviam chegado por mar, com vários navios, desde o porto de Montevideo.
Em Janeiro de 1814, San Martín assumia o comando do Exército do Norte, após a sua derrota no Alto Peru (actual Bolívia).
Após ter conseguido a libertação da Argentina, com a proclamação da independência em 1816, San Martín continuaria a preparar o exército que, no ano seguinte, cruzaria os Andes para libertar o Chile.
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SIMÃO BOLÍVAR (III)
Contudo, apenas 4 países partipariam naquele Congresso. Ao invés, viriam a emergir conflitos separatistas internos, vindo a “Grande Colômbia” a desmembrar-se, iniciando-se em 1826 uma guerra civil.
Após conseguir uma reconciliação temporária, convocaria uma nova Assembleia em 1828; não concordando com as suas decisões, adoptaria uma atitude ditatorial, o que lhe traria uma crescente oposição, chegando mesmo a sofrer uma tentativa de assassinato.
Bolívar não conseguiria ter êxito no seu objectivo; em 1830, a Venezuela e Equador abandonariam a “Grande Colômbia”; em Abril desse mesmo ano, renunciaria ao poder, retirando-se para Santa Marta, na Colômbia, exilado da sua nação de origem, a Venezuela.
O “Libertador” das colónias espanholas da América do Sul, responsável pela criação de 5 países (Venezuela, Colômbia, Bolívia, Peru e Equador) – também apelidado de “George Washington” da América Latina – terminaria a sua caminhada na vida em Dezembro de 1830.
Apenas posteriormente veria a sua reputação ser reconhecida; não obstante as suas grandes ambições políticas, Bolívar era na verdade um idealista; após a morte, tornar-se-ia um “mito”, talvez o maior herói da história sul-americana.
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SIMÃO BOLÍVAR (II)
Retornado à América do Sul, reagrupando as suas forças, atravessaria a cordilheira dos Andes, conquistando Bogotá (com a vitória na Batalha de Boyaca, em 7 de Agosto de 1819) e proclamando a República da Colômbia (união da Venezuela e Nova Granada), de que seria eleito presidente.
Em 1821, libertaria a Venezuela na Batalha de Carbobo, enquanto um dos seus oficiais, Antonio José de Sucre, libertava o Equador na Batalha de Pichincha (em Maio de 1822).
Lideraria também, em 1824, as Guerras de independência do Peru e Alto Peru (que, em sua homenagem, viria a chamar-se Bolívia), vindo a acumular a chefia do Peru com a Presidência da Colômbia e da Bolívia.
Em 1826, no Congresso dos Estados Libertadores, propôs a reunião de todas as nações numa única Confederação, inspirando-se nos Estados Unidos da América, ambicionando também transformar-se no maior estadista sul-americano.
Aliás, a Venezuela, Colômbia e Equador, constituíam já a República da Grande Colômbia, sob a sua presidência.
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SIMÃO BOLÍVAR (I)
José Antonio de la Santíssima Trindad Simón Bolívar y Palácios nasceu em 1783 em Caracas, no território da Venezuela, de origem basca, tendo vivido alguns anos em Espanha e França, acompanhando os movimentos revolucionários, tendo sido educado por um discípulo de Jean-Jacques Rousseau.
Após ter passado por Roma, onde prometeu consagrar a sua vida à causa da Independência Americana, regressaria à Venezuela em 1807, iniciando então as suas actividades anti-coloniais.
Em 1813, o seu exército entrava em Caracas, onde seria recebido como libertador; contudo, a forte oposição com que se deparou, obrigou-o a refugiar-se, primeiro na Jamaica e, de seguida, no Haiti.
Regressaria à América no ano seguinte. Não obstante, face aos avanços dos realistas, viria ainda a ter de refugiar-se novamente, em Cartagena das Índias e, depois, a regressar à Jamaica, onde escreveria (em 1815) a “Carta da Jamaica”, em que advoga a emancipação americana, sob a égide da “Grande Colômbia”.
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BRASIL (X)
A 13 de Maio, os brasileiros concediam-lhe o título de “Protector e Defensor Perpétuo do Brasil”. Em carta enviada ao pai (D. João VI), escreveria D. Pedro: “Honro-me e orgulho-me do título que me confere este povo leal e generoso; mas não o posso aceitar tal como se me oferece. O Brasil não precisa de protecção de ninguém, protege-se a si mesmo. Aceito porém o título de Defensor Perpétuo e juro mostrar-me digno dele enquanto uma gota de sangue correr nas minhas veias”.
Até que, na sequência de cartas recebidas, intimando-o novamente ao regresso, a 7 de Setembro de 1822, nas margens do Ipiranga, D. Pedro soltaria o “Grito do Ipiranga”: “Independência ou morte” – proclamando a Independência do Brasil, assim se formalizando a separação definitiva de Portugal, a qual viria a ser logo reconhecida pelos EUA e pelas restantes nações sul-americanas.
Seria contudo travada ainda, em particular nos anos de 1822 e 1823, uma “Guerra da Independência”; alguns dos Governadores das Províncias brasileiras resistiam a aceitar a separação, no que eram apoiados pelas tropas portuguesas, com particular destaque para as províncias do Norte (Maranhão e Grão-Pará), da Bahia, Mato Grosso e Cisplatina. As tropas brasileiras encontravam-se ainda pouco organizadas, não dispondo de grande experiência, pelo que recorriam a mercenários estrangeiros (franceses e ingleses), assim como a milícias populares.
Em Salvador, a vitória dos brasileiros apenas seria concretizada a 2 de Julho de 1823, data em que, na Bahia, é comemorada a independência. No Maranhão, as tropas portuguesas resistiriam ainda até 28 de Julho de 1823, enquanto que no Piauí, apenas em Agosto seriam derrotadas. Na Cisplatina, as tropas portuguesas apenas seriam expulsas no final de 1823.
D. Pedro havia sido entretanto proclamado Imperador a 12 de Outubro de 1822, no campo de Santana, no Rio de Janeiro, em que fora aclamado “Imperador Constitucional”. Na sequência da contestação à sua política autoritária, amplificada pelos problemas económicos e financeiros que o país atravessava, viria a abdicar, a 7 de Abril de 1831, em favor do seu filho menor, o Príncipe D. Pedro de Alcântara. A monarquia brasileira duraria 67 anos, até à proclamação da República, em 15 de Novembro de 1889.
Com a morte de D. João VI, em 1826, D. Pedro seria ainda proclamado Rei de Portugal, conforme era vontade do anterior Rei. Ausente no Brasil, optou por designar a irmã D. Isabel Maria como regente, vindo posteriormente a abdicar em nome da filha D. Maria da Glória, com a condição de que esta se casasse com o tio (seu irmão D. Miguel). Em 1827, D. Miguel começaria a governar como Rei absoluto.
Tendo abdicado das duas coroas, o ex- Imperador do Brasil e ex-Rei de Portugal, então apenas Duque de Bragança, abandonaria o Brasil, regressando a Portugal com a filha D. Maria II, em 1832, disposto a lutar pelo trono, comandando (a partir dos Açores, na ilha Terceira) as tropas liberais; viria a conseguir colocar a filha como Rainha de Portugal em 1834, morrendo 4 dias depois, aos 36 anos.
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BRASIL (IX)
Por decreto de 24 de Abril de 1821, o governo do Rio de Janeiro ficava subordinado directamente a Lisboa, restringindo-se ainda a autoridade do Príncipe Regente apenas ao Rio de Janeiro. Pretendia-se ainda reafirmar os privilégios comerciais portugueses, em detrimento dos comerciantes estrangeiros, nomeadamente dos ingleses. Em Setembro, seriam novamente transferidos para Lisboa alguns dos órgãos administrativos que haviam sido instalados no Brasil aquando do exílio da família real, determinando-se ainda (em Dezembro, por ordem expressa de Lisboa) o regresso de D. Pedro a Portugal.
A insatisfação cresceria no Brasil, renascendo as aspirações separatistas, ao mesmo tempo que se desencadeavam manifestações de protesto contra o regresso do Príncipe a Lisboa. As forças políticas brasileiras uniam-se para obstar ao regresso de D. Pedro, recolhendo, em abaixo-assinado, 8 000 assinaturas, solicitando-lhe que ficasse no Brasil. Apesar de instado a regressar a Portugal, a 9 de Janeiro de 1822, D. Pedro afirmaria o “Fico”, recusando-se a cumprir as ordens das Cortes: “Como é para o bem de todos e felicidade geral da Nação, estou pronto, diga ao povo que fico” – tal sinal de “desobediência” marcaria decisivamente o início do processo de separação.
Subsistiam contudo algumas vozes que se questionavam sobre a pertinência da independência, recordando a formação da primeira república negra (no Haiti) e receando a eventual desagregação do Brasil, à semelhança do que ocorrera na “América espanhola”. Por outro lado, surgiam defensores da formação de uma “Assembleia Constituinte”, como órgão representativo do povo brasileiro, o que viria a concretizar-se em Junho, originando decretos de revogação a partir das Cortes de Lisboa.
Continuava a haver sentimentos contraditórios: a par da vontade de auto-determinação, subsistia a vontade de união dos dois Reinos. A ideia da separação definitiva cresceria à medida que as Cortes de Lisboa procuravam reduzir a autoridade do Príncipe.
Não obstante, em Maio de 1822, D. Pedro havia já determinado que nenhum decreto das Cortes seria cumprido no Brasil sem a sua prévia aprovação, após o que (em Agosto) declararia inimigas eventuais tropas portuguesas que viessem a desembarcar no Brasil.
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