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2008 – Memória dos materiais de escrita

MVR-10

A escrita é guardiã fiel da memória. Deste modo ela torna presentes as coisas antigas, atesta as novas e, comprovando-as, delas dá testemunho a fim de que, no decurso dos tempos futuros, não caiam no esquecimento *

Com o final do Império romano do ocidente (final do século V d.C.), surge uma nova instituição, a Ordem monástica, assumindo o papel primordial a nível de transmissão da cultura, concentrando as tarefas de ensino e de escrita. Durante a Idade Média, os monges copistas, trabalhando no scriptorium de cada mosteiro e abadia, transcreviam ou copiavam textos, manuscritos, inicialmente sobre rolos de papiro e, mais tarde, em pergaminho, possibilitando o surgimento dos primeiros livros (“codex”).

Os rolos de papiro apresentavam vários inconvenientes, quer em termos de custo, quer pela sua fragilidade, assim como pelo facto de apenas serem utilizáveis de um dos lados, sendo, por outro lado, de difícil consulta e manuseamento.

Graças à sua resistência e grande capacidade de se manter inalterado ao longo de séculos, o pergaminho – feito a partir da pele de animais – constituir-se-ia como suporte básico de escrita durante toda a Idade Média, quer a nível de livros, quer de documentos. Tornaram-se então famosos os palimpsestos – etimologicamente, derivando das palavras gregas palin (“outra vez”) e psan (“raspar”) –, traduzindo que o pergaminho fora raspado (para apagar o texto inicial) e reescrito.

Sabeis como procede o copista. Primeiro, começa por limpar a gordura do pergaminho com um raspador para retirar as maiores impurezas; depois, com a pedra-pomes, faz desaparecer completamente os pêlos e os ligamentos” (Hildeberto de Lavardin, início do século XII, citado por PERNOUD, Régine – La plume et le parchemin, Paris, Denoel, 1983, p. 76).

A pele dos animais (principalmente ovinos e caprinos) recebia ainda um banho de cal, sendo depois esticada em bastidores, onde, sob tensão, secava, após o que podia ser ainda polvilhada com cal, para que a tinta aderisse melhor, e, também, polida com pedra-pomes, para amaciar a sua superfície.

Só a partir do século XV o pergaminho perderia a primazia, perante a crescente utilização do papel, criado na China há cerca de 2000 anos, introduzido no Ocidente pelos árabes apenas cerca de 1150. Cânhamo, capim e palha foram também materiais para escrita utilizados pela humanidade.

Até ao século XIX produzia-se papel com base em trapos velhos (farrapos) lavados, deixados a apodrecer durante semanas, e depois desfeitos. A polpa assim obtida era então mergulhada em água e moldada em formas, sendo ainda prensada, banhada em cola e estendida para secagem.

O papel produzido a partir da pasta de celulose apenas surgiria em meados desse século, passando então a madeira a ser a principal matéria-prima para fabrico de papel. Apenas a partir da década de 60 do século XX o eucalipto se tornou amplamente utilizado como principal fonte de fibra.

Eram diversos os instrumentos utilizados na escrita pelos escribas, desde o esquadro, régua, compasso e estilete (para marcação das margens e das linhas das folhas), passando pelos primordiais cálamo (caneta feita de cana fina e oca, utilizada desde a Antiguidade) e penas de ave, principalmente de ganso (usadas a partir do século IV d.C.) – que ditaria a sua lei até à Idade Contemporânea, com a invenção dos aparos de metal.

As tintas utilizadas, essencialmente metalo-gálicas – compostas por sal metálico (sulfato de cobre ou de ferro) e ácido gálico, de nozes de galha (excrecências formadas nas folhas ou ramos de carvalho) –, podiam ser de “cor” (destinadas à decoração dos manuscritos e às letras iniciais – obtidas a partir da adição de corantes), ou “negras” (efectivamente, com uma tonalidade variando entre o castanho amarelado e o preto, para escrita dos textos, quer em livros, quer em documentos). Nas iluminuras era também usada a folha de ouro, aplicada com minúcia sobre o pergaminho.

Bibliografia consultada

– “Monumentos de Escrita – 400 anos da história da Sé e da cidade de Viseu (1230 – 1639)”, Roteiro da Exposição, Maria do Rosário Barbosa Morujão e Anísio Miguel de Sousa Saraiva, pp. 17 a 19

– “A Informação escrita: do manuscrito ao texto virtual“, Rita de C. R. de Queiroz)

* Fr. Gonçalo, “Uisensis dictus episcopus”, Alcobaça, 1176 – Instituto dos Arquivos Nacionais – Torre do Tombo – Mosteiro de Alcobaça, 1ª incorp., Documentos Particulares, M.º 1, Doc. 13

(publicado originalmente em 22.06.2008)

29 Junho, 2013 at 7:00 pm Deixe um comentário

2008 – Memória da escrita

MVR-10

Sempre que os homens sentiram a necessidade de conservar os instantes que a história comporta, a escrita se fez lei. Em todos os tempos, o homem que soube escrever foi rei *

Há mais de dois milhões de anos que a humanidade começou a comunicar por via da articulação de sons.

Não obstante o homem exprimir o seu pensamento e procurar comunicar através de meios gráficos há cerca de 20 000 anos (desde a arte rupestre, com inscrições e pinturas cavernas, a partir do Paleolítico superior), apenas cerca de 30 a 40 séculos a.C. seria criado o primeiro código de escrita, inventado pelos Sumérios, permitindo dar os primeiros passos na fixação da linguagem oral de uma forma perene, ao mesmo tempo que vinha permitir a comunicação através do tempo e do espaço.

Desde as origens da escrita – cuja difusão, com início nas civilizações da Mesopotâmia, Egipto, China antiga e América pré-colombina, está primordialmente associada à evolução da memória –, foram utilizados diversos suportes, como placas de argila, pedra e madeira, rolos de papiro, pergaminho, antes do papel, que só chegaria à Europa cerca de 1150 e apenas a partir do século XV adquiriria a primazia.

Cerca de meados do quarto milénio a.C., os Sumérios, ocupando a Mesopotâmia – geralmente considerada a civilização mais antiga da humanidade, constituindo-se, durante cerca de 1500 anos, no grupo cultural dominante no Médio Oriente – introduziram a escrita cuneiforme (caracteres em forma de “cunha”, inscritos em tábuas de argila por via de estiletes, inicialmente com um sistema pictográfico, em que imagens ou objectos expressavam ideias), o que estaria associado a uma produção literária bastante evoluída, a par de um desenvolvido sistema jurídico, culminando no Código de Hamurabi, o mais remoto de que há conhecimento (cerca de 1800 a.C.).

Juntamente com a escrita cuneiforme, a escrita hieroglífica egípcia tornar-se-ia num dos mais importantes contributos para o desenvolvimento dos sistemas de escrita, na transição para o uso de sinais de escrita com valor fonético, surgindo a escrita semítica como o protótipo da escrita alfabética (formada por 22 símbolos).

O alfabeto fenício, adoptado pelos gregos cerca de 900 a.C., sendo objecto de adaptação até ao século IV a.C. (originando o alfabeto jónico, com 24 letras), tornar-se-ia na origem directa de todas as escritas alfabéticas ocidentais.

O alfabeto latino, derivado do grego, compreendia inicialmente apenas 16 letras, só posteriormente tendo sido introduzidas as letras g, h, j, k, q, v, x e y. O latim, difundido no mundo ocidental pelos romanos, originaria diversas línguas românicas, que começaram a ser traduzidas de forma escrita a partir do século IX d.C. No caso do português, apenas seria observável sob a forma escrita a partir da segunda metade do século XII.

(Para saber mais, pode consultar o texto de base bibliográfica a este artigo: “A Informação escrita: do manuscrito ao texto virtual“, Rita de C. R. de Queiroz)

* Georges Jean, “La escritura: memoria de la humanidad”, tradução Enrique Sánchez Hormigo, Ediciones B, S. A., Barcelona, 1998

(publicado originalmente em 21.06.2008)

29 Junho, 2013 at 5:00 pm Deixe um comentário

2008 – A imprensa e os arquivos da Memória

MVR-10

A memória é o essencial, visto que a literatura está feita de sonhos e os sonhos fazem-se combinando recordações *

Com Gutenberg e a imprensa (cerca de 1450), a escrita ascende a uma outra plataforma, amplificando a memória colectiva a tal ponto que já não é passível de ser fixada (decorada) na íntegra, no que se traduz numa nova revolução, iniciando o declínio da “arte da memória”, tal qual valorizada pela escolástica.

O texto escrito torna-se hegemónico a nível do movimento científico, dando origem, a partir sensivelmente do século XVIII, à “sociedade leitora”, a par do surgimento do conhecimento enciclopédico, procurando concretizar a quimera de concentrar numa única obra todo o conhecimento da humanidade, em múltiplas artes da cultura, artes e ciência.

Começam, também no século XVIII, a ser criados os primeiros “depósitos da memória”, que assim começa a materializar-se, nomeadamente com os arquivos centrais como a Casa de Sabóia em Turim ou em São Petersburgo. Com a Revolução Francesa surgem os Arquivos Nacionais, em 1790; em Inglaterra, o Public Record Office nasce, em Londres, em 1838, passando a estar disponíveis para consulta pública documentos constitutivos da memória nacional.

Em paralelo, são inaugurados os primeiros museus públicos: o Louvre, cerca de 1750, o Pio-Clementino (Vaticano – cerca de 1770), o Prado (Madrid – 1785) ou o de Berlim (1830).

Também por esta época (década de 1830), dá-se outra revolução na memória “social”, com o aparecimento da fotografia (introduzida por Louis Daguerre e Joseph Nicéphore Niepce), possibilitando, pela primeira vez, “conservar o tempo” em imagens…

Antecedendo a derradeira fractura revolucionária, com origem a partir de 1950, com o início da memória electrónica, precursora da sociedade da informação ou da actual sociedade em rede, desde 1993, com a abertura da Internet ao domínio público, acelerando bruscamente o fluxo de informação e a socialização.

Bibliografia consultada

– “Memória e sociedade contemporânea: Apontando tendências”, Ângela Maria Barreto, Revista ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina, Florianópolis, v.12, n.2, p. 161-176, jul./dez., 2007

– “A Informação escrita: do manuscrito ao texto virtual”, Rita de C. R. de Queiroz

* Jorge Luis Borges

(publicado originalmente em 18.06.2008)

29 Junho, 2013 at 3:00 pm Deixe um comentário

2008 – História da Memória

MVR-10

Chego aos campos e vastos palácios da memória onde estão tesoiros de inumeráveis imagens trazidas por percepções de toda a espécie. Aí está também escondido tudo o que pensamos, quer aumentando quer diminuindo ou até variando de qualquer modo os objectos que os sentidos atingiram. Enfim, jaz aí tudo o que se lhes entregou e depôs, se é que o esquecimento ainda o não absorveu e sepultou. *

Jacques LeGoff (na sua obra “História e Memória”) propõe algumas fases na “história da memória”:

1. Memória oral
2. Memória oral em que a memória escrita assume uma função específica
3. Fase medieval de equilíbrio entre as duas fontes de memória
4. Fase moderna, em que a memória escrita assume papel decisivo
5. Fase da memória em expansão.

Nas sociedades sem escrita, a memória oral consubstanciava-se na preservação da informação por especialistas, os chamados “homens-memória”, verdadeiros guardiões da história dos grupos ou comunidades, assumindo papel fundamental na transmissão do saber. A memória transmitia-se por via da aprendizagem, não sendo uma reprodução exacta “palavra por palavra”, mas antes uma evocação mais ou menos difusa.

Com o advento da escrita, a memória colectiva viria a sofrer uma verdadeira revolução, com o aparecimento de novas possibilidades de conservação da informação: primeiro, sob a forma de inscrição (de que constituem exemplos, entre outros, os obeliscos e estelas); mais tarde, por via de documentos escritos, possibilitando perenizar a informação, superando barreiras de tempo e espaço.

Grandes civilizações de eras antigas como as da Mesopotâmia, do Egipto, da China ou da América Pré-Colombina, serviram-se da memória escrita como marca de progresso. Já na época da Grécia antiga, os “mnemon” (“memórias-vivas”), que asseguravam a conservação da memória do passado relativamente a decisões judiciais, acabariam por vir a transformar-se, com a evolução da memória escrita, em arquivistas.

Na Idade Média, o conceito de memória evolui, passando a estar primordialmente associado à difusão da doutrina cristã, com a memória dos livros sagrados, dos Santos, e dos obituários, evocando os nomes de benfeitores. Por outro lado, a escrita, conjugando a memória e a alegoria personificante da divindade, torna-se o veículo privilegiado da relação do crente com Deus. Nesta fase, a memória escrita desenvolve-se ainda em paralelo, ou de forma complementar, com a memória oral. Os manuscritos serviam então, também, para ser aprendidos de cor…

Bibliografia consultada

– “Memória e sociedade contemporânea: Apontando tendências”, Ângela Maria Barreto, Revista ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina, Florianópolis, v.12, n.2, p. 161-176, jul./dez., 2007

– “A Informação escrita: do manuscrito ao texto virtual”, Rita de C. R. de Queiroz

* Santo Agostinho, “Confissões” (tradução de J. Oliveira Santos e A. Ambrósio de Pina), Braga, Livraria Apostolado, 11ª edição, 1984

(publicado originalmente em 17.06.2008)

29 Junho, 2013 at 1:00 pm Deixe um comentário

2008 – O que é a Memória?

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Porque é frágil a memória dos homens e para que, com o tempo, não caiam no esquecimento os feitos dos mortais, nasceu o remédio da escrita para que, por meio dele, os factos passados se conservem como presentes para o futuro. *

O que é a memória?

As definições de memória falam-nos da função ou capacidade de captar, gravar/reter, armazenar/arquivar, classificar e, num segundo tempo, evocar/recuperar informação.

Em termos gerais, e de forma subjectiva, uma faculdade cognitiva de recordação ou lembrança.

Dizem-nos também que não existe uma única memória genérica, mas sim várias dimensões da memória, decorrendo de diferentes fontes / estímulos, desde os associativos, aos emocionais, passando pelos conceptuais.

E, noutro prisma, (i) Memória de procedimentos, entendida como a capacidade de reter e processar informações não verbalizadas, de que será um dos exemplos mais cabais “aprender a andar de bicicleta”; e (ii) Memória declarativa, associada à capacidade de verbalizar determinado facto, compreendendo vertentes diversas:

  • memória sensorial (tempo médio de percepção de um estímulo pelos nossos órgãos sensoriais, de 3 a 5 décimos de segundo) – visual ou auditiva (também passível de captação via outros sentidos);
  • memória de curto prazo, imediata, objecto de solicitação a todo o instante, permitindo reter – até durante um período de algumas dezenas de segundos – até cerca de 7 elementos distintos; e
  • memória de longo prazo, de cariz permanente (virtualmente, durante toda a vida) – contrariamente às anteriores, em que a informação percepcionada é rapidamente esquecida ou apagada –, com uma considerável capacidade de retenção ou armazenamento mental, a qual é depositária das nossas lembranças e aprendizagem, permitindo tirar proveito das experiências vivenciadas.
  • A memória, assim considerada como base do conhecimento, necessita portanto ser trabalhada / estimulada, facultando também a partilha entre indivíduos com essas vivências comuns, permitindo dessa forma a transmissão de experiências e valores entre gerações.

    * Arenga de 1260 (Viseu, Arquivo do Museu de Grão Vasco, PERG / 08)

    (publicado originalmente em 17.06.2008)

    29 Junho, 2013 at 11:00 am Deixe um comentário

    2008 – Memória

    MVR-10

    Conjunto de textos publicados a propósito do aniversário do Memória Virtual, retomando a sua matriz, tendo como tema em foco a Memória, em algumas das suas múltiplas vertentes.

    (Imagens via: 1 / 2 / 3)

    (publicado originalmente em 06.06.2008)

    29 Junho, 2013 at 9:00 am Deixe um comentário

    2005 – O pulsar dos Diários Virtuais em Portugal

    MVR-10

    O PULSAR DOS DIÁRIOS VIRTUAIS EM PORTUGAL

    O texto apresentado na presente página corresponde à comunicação que apresentei no II Encontro de Weblogs, na Universidade da Beira Interior, em 15.10.2005, procurando sintetizar as origens da blogosfera e início da sua expansão em Portugal, desde 1999/2000 até meados de 2005.

    Pode também consultar as retrospectivas anuais que tenho vindo a preparar sobre alguns dos aspectos mais em destaque na blogosfera portuguesa, nas páginas indicadas de seguida:

    1. Blogosfera em 2003
    2. Blogosfera em 2004
    3. Blogosfera em 2005
    4. Blogosfera em 2006
    5. Blogosfera em 2007
    6. Blogosfera em 2008
    7. Blogosfera em 2009

    RESUMO

    Tal como na génese dos blogues a nível mundial (a partir de 1996/1997), também o seu advento em Portugal, nos anos de 1999/2000, terá presumivelmente tido origem no seio de pessoas associadas ao meio informático e, numa fase imediata (a partir de 2001), profissionais da comunicação.

    Apenas no final de 2002 / início de 2003, com o aparecimento dos primeiros blogues assumindo ambos os pólos da tradicional dicotomia política direita-esquerda (inicialmente “personificados” por “A Coluna Infame” e pelo “Blogue de Esquerda”), numa conjuntura de eminente intervenção militar estado-unidense no Iraque, a blogosfera portuguesa despertaria, fervilhando numa rápida explosão (culminando no virar do primeiro para o segundo semestre de 2003), num “espiral círculo virtuoso”, potenciado pela forte mediatização proporcionada pela adesão de José Pacheco Pereira ao fenómeno, com a criação (em Maio de 2003) do Abrupto, associada a numerosas referências nos “media” tradicionais e atraindo novas figuras para a blogosfera, entre os milhares de anónimos que a ela afluíam diariamente.

    Neste período de cerca de 2 anos e meio, o pulsar dos diários virtuais em Portugal sempre foi bastante determinado pelo cruzamento entre a mediatização, que favoreceu a sua expansão, e a sua vertente política, assumindo peso predominante em termos dos principais “blogues de referência”, sem contudo retirar espaço a outros projectos, mais orientados para as áreas culturais ou de cariz humorístico ou irónico, de que são exemplos, nomeadamente, o Janela Indiscreta, o Blogue dos Marretas e o Gato Fedorento (com blogues “políticos” como o próprio Abrupto, Blogue de Esquerda e Dicionário do Diabo a não descurarem também uma vertente cultural).

    Depois de, em 2003, se ter processado a definitiva afirmação dos blogues, 2004 seria o ano da consolidação da blogosfera portuguesa, que, continuando a manter a tendência de crescimento da oferta, enfrentou um período de estabilização de audiências, passado o período de maior instabilidade da conjuntura política, retomando novamente uma fase crescente por ocasião da campanha autárquica de 2005.

    O futuro não deixará de ter como pano de fundo as múltiplas potencialidades que a ferramenta proporciona, com um progressivo alargamento do campo de intervenção, do texto à fotografia, passando pelo áudio e vídeo, com os blogues a tornarem-se cada vez mais multimédia.

    1. INTRODUÇÃO

    A simplicidade de criação, a autonomia (autor e editor fundindo-se num único indivíduo), funcionalidade e prontidão (“em tempo real”) de edição que possibilita, a potencial universalidade de destinatários, o espírito de pertença a uma comunidade que propiciam, a sua estrutura “hipertextual” (com sistemáticas referências a outras páginas), torna os blogues numa ferramenta de comunicação pessoal ímpar, um meio de expressão pessoal sem paralelo na história, vivendo-se um momento similar àqueles em que novas ferramentas de comunicação tiveram a sua génese, como o livro impresso, o jornal, o telefone, a rádio, a televisão, a própria Internet.

    O seu carácter de publicação dinâmica (com frequentes actualizações), associado ao espírito comunitário que potencia – um “ponto de encontro diário” entre quem escreve e quem lê (agregando pessoas com interesses comuns) – será porventura o principal factor distintivo de outras páginas na Internet.

    Os weblogs – contracção de web (“rede”) e log (“registo / diário de bordo”) – são páginas na Internet, de carácter diarístico, regularmente actualizadas, com ligações (links) a artigos noutras páginas da web, disponibilizando frequentemente a faculdade de comentários por parte dos leitores (abrindo uma janela para a socialização). Os textos (designados de “posts” ou “entradas”), geralmente de curta extensão, são datados, sendo comummente apresentados por ordem cronológica inversa, dos mais recentes para os mais antigos, assim sublinhando a importância do imediatismo, sendo normalmente mantidos em arquivo por data de publicação, de periodicidade semanal ou mensal.

    (publicado originalmente entre 01.11.2005 e 30.11.2005 – o texto integral pode ser lido aqui, estando também disponíveis para consulta as resenhas anuais sobre a blogosfera, dos anos de 2003, 2004, 2005, 2006, 2007, 2008 e 2009)

    28 Junho, 2013 at 9:00 pm Deixe um comentário

    2005 – À conversa com Paul Auster

    MVR-10

    O resumo que a partir de agora aqui irei apresentando sobre a “conversa de Paul Auster” com os seus leitores portugueses baseia-se em breves notas que – “ao correr da pena” e de forma necessariamente sintética e abreviada – fui tomando ao longo dessa “conversa” de cerca de 50 minutos, na passada sexta-feira, na Culturgest.

    Aqui expresso portanto o meu antecipado pedido de desculpas pelas omissões ou incorrecções inerentes inclusivamente a uma “conversa” mantida em inglês.

    Releve-se-me também esta “longa” introdução, antes de chegar à conversa em concreto, mas, constituindo esta uma ocasião única, procurarei conservá-la na minha memória, pretendendo fixar também aqui, por via destes escritos, alguns detalhes do que foi uma noite inesquecível. (Evidentemente, como facilmente se depreenderá, Auster é, “apenas”, o meu autor contemporâneo preferido – de que, neste espaço, tenho tratado repetidamente, com referência às suas diversas obras).

    O ambiente era intimista, com três confortáveis sofás individuais, para o editor (Manuel Alberto Valente), para a escritora Luísa Costa Gomes (apresentada como um dos amigos portugueses do escritor, a par de Paulo Branco), que leu alguns excertos de “A Noite do Oráculo”, ocupando Paul Auster o lugar central, frente a uma sala repleta de público ávido de ouvir esta figura maior da literatura mundial; uma sala com excelentes condições, quer a nível de acústica, quer, inclusivamente, de luminosidade, contribuindo para o referido ambiente.

    Um público que representará uma “imensa minoria” de portugueses que comungam do privilégio de partilhar o gosto pela escrita especial de Auster, com um carácter distintivo que o torna único; uma “imensa minoria” (a qual terá – infelizmente – de ser ainda, de alguma forma, considerada uma “elite”) que tem interesses que vão para além dos produtos de “consumo imediato” a que alguns pretendem resumir a oferta que nos é disponibilizada, essencialmente via televisão.

    Após a meia hora inicial de leitura partilhada de “A Noite do Oráculo”, em inglês (pelo autor) e em português, Paul Auster começou por revelar o seu sentido de humor, ao dizer que, finda a leitura, não sabia exactamente o que era suposto ir passar-se de seguida, colocando-se naturalmente à disposição do público para as questões que lhe pretendesse formular.

    E, num curtíssimo espaço, de cerca de vinte segundos, fez-se silêncio, até que alguém ousasse quebrar a natural barreira da inibição de estar em diálogo frente-a-frente com o admirado escritor.

    A partir daí, vencida essa “barreira”, sucederam-se as perguntas, interessantes, pertinentes e inteligentes, que terão concerteza constituído motivo de particular gratificação para o editor português.

    E, na sequência da parte inicial do encontro com o escritor, a propósito da leitura em voz alta, a primeira pergunta, abrindo da melhor forma a conversa, seria mesmo sobre a importância que a sonoridade da leitura terá sobre a forma de escrita; até que ponto, esse “teste” será importante para a fixação definitiva do texto.

    Auster, visivelmente satisfeito com esta pergunta inicial, respondeu que tinha a sorte de ser casado com uma escritora (Siri Hustvedt) e confirmou a importância da sonoridade da leitura. Afirmou proceder regularmente, a cada 30 ou 40 páginas escritas, à leitura oral, para a mulher, de excertos das suas obras, de que resultariam revisões ao texto, na procura de lhe dar a melhor forma, não só escrita, mas também em termos de oralidade.

    Ainda a propósito de ser casado com uma escritora, a pergunta seguinte foi a de se a personagem do seu livro seria uma continuação de uma personagem de uma obra da esposa.

    Responderia taxativamente que não; os livros que escreve são, naturalmente, independentes dos escritos por Siri Hustvedt!…

    Seguiu-se a referência à técnica peculiar de Auster, em cujas obras o protagonista vai contando a sua história e introduzindo outras histórias. Culminando em “A Noite do Oráculo”, em que, para além da história dentro da história, terá sentido a necessidade de recorrer a extensas notas de rodapé.

    O escritor afirma não pensar que se trate de um novo estilo, a desenvolver, mas sim de uma consequência natural de esta sua última obra compreender várias histórias paralelas que vão nascendo e que se vão entrecruzando dentro do enredo principal.

    A questão seguinte remeteu para um paradigma das obras de Auster: em todos os seus livros, em determinado momento da história, seja no início, a meio ou no final, os personagens acabam por “perder tudo”; até que ponto considera que a sorte é importante ou pode mesmo ser determinante na vida das pessoas.

    Auster sintetizou dizendo que os seus livros mais não são do que uma metáfora do que todas as pessoas passam na vida: momentos bons; momentos menos bons, de perda, até desespero. As suas histórias são sobre a vida (“that’s what this is all about”)…

    Foi de seguida questionado sobre se utiliza, na sua escrita, como método, uma técnica similar à da escrita de peças de teatro.

    Refutaria, afirmando que já escreveu argumentos para cinema, mas nunca para teatro e que os romances têm uma técnica distinta.

    A propósito: porque escreve tão frequentemente sobre a “escrita”?

    Diz Auster: “É um tema! Também faz parte do mundo”… e, com algum humor e ironia, “o que conheço melhor” (aquele de que estará mais à vontade para falar). Aprecia-o a tal ponto, que o potenciou em “A Noite do Oráculo”, contando histórias dentro de histórias, dentro de histórias…

    Retomando de alguma forma o tema inicial da oralidade da escrita, foi então questionado sobre a eventual perda que decorrerá para a escrita da necessidade de tradução.

    Mais uma vez apreciando a questão, o escritor faria aqui talvez a maior “dissertação” da noite…

    Começou por referir que vivemos num mundo global (“Ainda ontem estava em Nova Iorque; agora, poucas horas depois, aqui estou em Lisboa”), em que, naturalmente – e não obstante o predomínio do inglês como língua “comum” a nível internacional –, são necessárias traduções… e, portanto, tradutores.

    Más traduções podem “matar uma obra”; inversamente, algumas (boas) traduções dão nova alma ou mesmo nova vida ao livro; podem chegar inclusivamente ao ponto de ser melhores que o original!…

    É impossível replicar a 100 % um livro; cada língua é diferente, tem as suas especificidades próprias, os seus pontos de riqueza.

    Daria mesmo o exemplo de uma obra de Dostoiewsky (“Crime e Castigo”) que leu quando tinha cerca de 15 anos, naturalmente não em russo, mas em inglês, numa tradução feita um século após a escrita do livro e que, não obstante poder não traduzir eventualmente de forma fiel o original, lhe proporcionou tal prazer na leitura que contribuiu decisivamente para o seu gosto pela escrita.

    Rematou dizendo que “um livro não são só palavras, mas, principalmente, as emoções que pode transmitir”.

    Questionado a propósito da Trilogia de Nova Iorque, confidenciaria que demorou cerca de 15 anos a escrever esta obra (entre 1970 e 1985), tendo começado a sua escrita numa época em que Nova Iorque era uma cidade verdadeiramente caótica.

    Abrindo o coração à audiência, referiria o momento mais emocionante da sua vida como escritor quando, em 1992, encontrou um Bósnio, durante o cerco de Sarajevo, na guerra de secessão jugoslava, que se fazia acompanhar do livro.

    Seguir-se-ia o momento mais divertido da noite, quando foi questionado sobre “onde se podem comprar em Portugal os agora célebres cadernos portugueses?”.

    A resposta foi: “Se souberem, digam-me!…”.

    Voltando a “A Noite do Oráculo”, e ao momento em que a personagem (Nick) se encerra – sem levar consigo as chaves… – num quarto que é uma espécie de abrigo antinuclear, com uma porta que se fecha automaticamente, sem possibilidade de fuga, é colocada a questão se Auster pretenderá escrever um novo livro, retomando a história nesse ponto.

    Auster responde, de forma inequívoca, que não. E, novamente divertido, adianta que Nick ficará lá “preso para sempre”; não conseguirá sair de lá… “É um problema do Sidney (personagem do livro que escrevia, paralelamente, a história de Nick) e não meu!”. “Vamos lá deixá-lo sozinho”. “Eu seria capaz de dar uma continuação ao beco sem saída em que a história se transformou, mas o Sidney não tem essa capacidade”, concluiu com humor.

    A propósito de uma personagem que lê Fernando Pessoa, é-lhe perguntado se leu Pessoa.

    O escritor parece “acusar o toque” e responde que é claro que leu Pessoa, e já há muito tempo; senão, não o teria referido no livro… Conclui mesmo dizendo que o considera um dos mais estimulantes poetas que conhece.

    A pergunta seguinte teve como “preâmbulo” um agradecimento, na medida em que, sendo a leitura (tal como a escrita…) um acto de solidão, os seus livros proporcionam maravilhosos momentos a quem tem o privilégio de os ler.

    Auster agradece e responde com uma interrogação: “Porque continuamos a ler livros?”

    E dá ele próprio a resposta: “A razão é porque um livro é a única “circunstância” em que “dois estranhos” (autor e leitor) se podem “encontrar” de uma forma completa, sem reservas”.

    Cada leitor lê “um livro diferente”; trata-se de uma experiência muito pessoal; o escritor e o leitor “fazem” o livro em conjunto!

    Questionado sobre como se sente a nível de poesia, responde que não escreve poesia há mais de 25 anos; “Só para a família!…”.

    Seguiu-se então a pergunta sobre a sensação de estar prestes a finalizar um livro, ao que responderia que, ao escrever, está tão envolvido que não tem oportunidade de pensar: “Estou a acabar…”. E acrescenta que, eventualmente a par do “alívio” de concluir a obra, subsiste sempre uma sensação de algum “falhanço”, assim como a tristeza de dizer adeus a “pessoas” com quem, por vezes, “(con)viveu” anos!

    Pegando no mote, foi-lhe então perguntado se não passa por situações de bloqueio, ao que confirmou que são frequentes os bloqueios e paragens (que podem ser prolongadas); mas que, quase sempre, acaba por haver uma retoma.

    São momentos difíceis mas, com a experiência, vai-se aprendendo a ser mais paciente: “Hei-de conseguir encontrar uma saída para continuar a história…”.

    Refere ainda que, no período de escrita, se isola, “corta com tudo”, nem vê o que o rodeia: “É por isso que não tenho quadros nas paredes!… Estou concentrado no que estou a escrever e não a olhar para as paredes…”.

    Diversamente de todos os seus restantes livros, que têm como personagens pessoas, em Timbuktu escreve sobre um cão (ainda assim, de alguma forma “personificado”, como “Mr. Bones”).

    Em resposta, Auster revela a génese desse livro como resultado do início da escrita do que seria outra obra; no final do primeiro capítulo, gostou de tal forma de “Mr. Bones” que decidiu escrever um livro diferente, contando a sua história.

    A questão com mais conteúdo “político” da noite seria a de que diferenças vê entre Nova Iorque e a América.

    Depois de uma breve referência a Bush, Auster pegaria no tema pela vertente de que cerca de 40 % dos habitantes de Nova Iorque são imigrantes, com culturas variadas e falando uma grande diversidade de línguas. Considera notável que nela confluam e coabitem / convivam de forma harmoniosa, sem grandes problemas sociais, cerca de 8 milhões de pessoas (quase tantas como em Portugal!…), de diferentes raças e grupos étnicos, culturas e religiões.

    À pergunta sobre se os livros que escreve funcionam como “auto-análise”, responderia que não; são natural e necessariamente um produto / um resultado do que é como pessoa, das suas experiências e vivências, sem contudo serem auto-biográficos, nem constituindo nenhum género de “terapia”.

    A noite aproximava-se do fim quando foi questionado se “vivia para trabalhar ou se trabalhava para viver”.

    Retomaria uma velha ideia de que os americanos viveriam para trabalhar, enquanto que os europeus trabalhariam para viver, na qual diz não se rever. Em síntese, a escrita é (uma) parte (fundamental) da sua vida.

    E, à questão final, sobre que diferenças encontrava entre a poesia e a prosa, reafirmando que não tem experiência de escrita poética, disse entender os poemas mais como fotografias, enquanto que os romances (“com a sua multiplicidade de vozes a falar em simultâneo”) seriam mais como filmes!…

    (publicado originalmente entre 30.04.2005 e 02.05.2005)

    28 Junho, 2013 at 7:00 pm Deixe um comentário

    2004 – Jogos Olímpicos – Atenas

    MVR-10

    Thessaloniki (Salónica)

    Para quem teve oportunidade de acompanhar “in loco” os Jogos Olímpicos em Atenas, foi possível constatar um natural entusiasmo com as Olimpíadas – não no Torneio de Futebol, evidentemente… em que apenas a 1/2 final entre a Argentina e a Itália permitiu que o Estádio ficasse minimamente “composto” (com cerca de 30 000 espectadores); apesar de a Final ter ultrapassado os 40 000 espectadores, não chegou a alcançar uma ocupação de 2/3 do Estádio Olímpico.

    E, todavia, o problema de “bilheteira” não foi exclusivo do futebol; durante a primeira semana dos Jogos, as audiências nos locais de provas eram fracas e só as provas de atletismo levaram os espectadores a afluir em massa ao renovado e bonito Estádio Olímpico.

    Na minha deslocação à Grécia, tive oportunidade de visitar 4 das 5 “cidades olímpicas” (Atenas, Salónica, Heraklion e Patras – apenas não tendo visitado Volos); como já antes escrevi , nas cidades que albergaram o Torneio Olímpico de futebol, o “entusiasmo” pelo facto de poderem “viver” localmente os Jogos Olímpicos não foi muito significativo (apesar dos relativamente acessíveis preços dos bilhetes, entre 10 e 30 euros).

    A sombra do “terrorismo” não deixou de se fazer sentir, com uma forte retracção de adeptos de países como os EUA e a Grã-Bretanha; seriam os italianos e brasileiros a assumir – a par dos gregos – a festa.

    Porém, se na entrada para os recintos desportivos a segurança e controlo eram bastante “apertados”, já nos transportes se assistia a uma dualidade de situações de difícil compreensão: controlo absoluto (com detectores de metais) na estação de comboios de Salónica e na estação de Atenas onde chegavam os comboios do Norte da Grécia; nenhum controlo na estação de Atenas – situada a 100 metros da primeira – que faz a ligação com o Oeste (Peloponeso) e Sul da Grécia.

    Atenas foi uma cidade que “girou” nestas semanas em torno de dois núcleos olímpicos (o novo Complexo Olímpico, no qual se incluia o Estádio, na parte nordeste da cidade; o centro olímpico de Falira, na região do Pireu, a sudoeste da cidade), ambos enquadrando a região central de Plaka e da Acrópole (local de “peregrinação” de todas as comitivas, com os novos “deuses do Olimpo” a prestarem o seu tributo à história milenar da Grécia).

    Acrópole

    A circulação na cidade – de dimensões relativamente reduzidas – era bastante fácil, com os “autocarros olímpicos” e um sistema de metropolitano (sobretudo de superfície – apenas com 3 linhas), que, com facilidade e rapidez permitia o acesso às diversas áreas desportivas.

    Nestas semanas, Atenas viveu naturalmente num ambiente de festa, num contexto quase “irreal”, recuperando o seu ancestral estatuto de “centro do mundo”.

    Mas, no mundo mediatizado dos dias de hoje, os Jogos foram também um grande espectáculo televisivo, com os três canais estatais da televisão grega a apresentarem uma ininterrupta emissão “olímpica”, de manhã à noite, vibrando com os feitos dos atletas gregos, com um novo “herói” / “deus do Olimpo” a cada dia.

    A Grécia acabaria por registar uma excelente presença competitiva, com um total de 16 medalhas (6 das quais de ouro), mas a grande vitória foi – sublimada com a belíssima cerimónia de abertura – a demonstração de que um país “pequeno” foi capaz (apesar das “reticências do mundo”) de organizar uns Jogos Olímpicos que, não sendo perfeitos, não deixaram de constituir motivo de orgulho para todos os gregos – num projecto mobilizador, envolvendo milhares de voluntários que, orgulhosamente, “passeavam os seus uniformes” pela cidade -, podendo constituir um exemplo para outros “pequenos países”…

    (Acompanhamento dos Jogos Olímpicos de 2004 – publicado originalmente entre 25.07.2004 e 04.09.2004 – e slideshare dos Jogos Olímpicos de 2008)

    28 Junho, 2013 at 5:00 pm Deixe um comentário

    2004 – Mãe Coragem

    MVR-10

    Tendo por mote a proposta de lei de alargamento da licença de parto, de 4 meses “pagos”, para 5 meses com remuneração a 80 % (e, “desvendando um pouco mais do véu”)…

    Profissionalmente, tenho o privilégio de coordenar uma jovem equipa de cerca de 20 colaboradores, com uma média de idades a rondar os 26/27 anos. Para tal, disponho do directo apoio de 4 colaboradoras, que asseguram uma interligação diária com os restantes.

    Temos, todos, uma actividade aliciante, recompensadora e, simultaneamente, muito exigente, de grande pressão e de momentos de grande “stress”; enfim, de “desgaste rápido”.

    Das referidas 4 colaboradoras (num “escalão etário” na faixa dos 30/35 anos), uma foi mãe há cerca de 1 ano e meio; outra, há 2 meses (pela segunda vez); uma terceira será mãe daqui a 3 meses; a mais nova, concerteza a seguir.

    Embora tal nem seja aplicável no caso concreto, na generalidade, para alcançarem o mesmo grau de reconhecimento, não chega às mulheres assegurarem o mesmo nível de desempenho dos homens; é-lhes normalmente requerida a superação dessa fasquia.

    O papel de mãe tem de ser necessariamente compatível com a carreira profissional; muitas vezes – e com toda a propriedade nos casos de que vos falo – terão de ser verdadeiras “mães-coragem”: aliar as duas vertentes implica sacrifícios de ordem pessoal que não estarão ao alcance de todos, apenas “suportáveis” pela procura de uma plena conjugação da realização pessoal e profissional.

    Não esquecendo nunca a hierarquização das prioridades (e a primeira será sempre a de “ser mãe”), aqui lhes tributo o justo agradecimento que lhes é devido pelo permanente envolvimento e colaboração sempre prestada.

    Concluindo, sobre o mote. Concordo plenamente com a filosofia da proposta de lei; não obstante, lanço três pistas de reflexão: (i) é provável que, em muitos casos, quem exerça uma profissão que lhe permita usufruir desses cinco meses de pausa, não disponha eventualmente de condições financeiras para poder abdicar (nesse período) de 1 mês de remuneração; (ii) ao invés, quem possa ter essas condições, terá tendencialmente uma carreira que talvez não lhe facilite tal flexibilidade (de ausência “tão” prolongada); (iii) o papel e a presença do pai não poderão também ser negligenciados.

    (publicado originalmente em 18.02.2004)

    28 Junho, 2013 at 3:00 pm Deixe um comentário

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