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Memória (I)
Porque é frágil a memória dos homens e para que, com o tempo, não caiam no esquecimento os feitos dos mortais, nasceu o remédio da escrita para que, por meio dele, os factos passados se conservem como presentes para o futuro. *



O que é a memória?
As definições de memória falam-nos da função ou capacidade de captar, gravar/reter, armazenar/arquivar, classificar e, num segundo tempo, evocar/recuperar informação.
Em termos gerais, e de forma subjectiva, uma faculdade cognitiva de recordação ou lembrança.
Dizem-nos também que não existe uma única memória genérica, mas sim várias dimensões da memória, decorrendo de diferentes fontes / estímulos, desde os associativos, aos emocionais, passando pelos conceptuais.
E, noutro prisma, (i) Memória de procedimentos, entendida como a capacidade de reter e processar informações não verbalizadas, de que será um dos exemplos mais cabais “aprender a andar de bicicleta”; e (ii) Memória declarativa, associada à capacidade de verbalizar determinado facto, compreendendo vertentes diversas:
A memória, assim considerada como base do conhecimento, necessita portanto ser trabalhada / estimulada, facultando também a partilha entre indivíduos com essas vivências comuns, permitindo dessa forma a transmissão de experiências e valores entre gerações.
* Arenga de 1260 (Viseu, Arquivo do Museu de Grão Vasco, PERG / 08)
Memória da escrita
E agora, como “descalço eu esta bota”?
Eu que gosto de escrever sobre temas que me interessam, sem que, muitas vezes, tenham particular interesse para outros… Num rápido flashback, sobre o que tenho escrito ultimamente? Eleições nos Estados Unidos; recordações dos 10 anos da EXPO’98; os decisivos jogos de futebol de final de época… enfim, nada realmente palpitante; nada mais que um mero fixar de memória(s), qual arquivista ou coleccionador.
E que, tendencialmente, me vou esquivando à análise da espuma dos dias, numa agenda mediática que vai desde a lei anti-tabágica aos preços dos combustíveis, passando pelas eleições partidárias; sem, todavia, conseguir evitar uma colherada na questão do acordo ortográfico… por isso mesmo, por ter também a ver com a “Memória”, no caso, da escrita.
Memória que começara por ser oral – com “homens-memória” como guardiões da história –, tendo os primeiros meios gráficos surgido há cerca de vinte mil anos, datando as mais antigas formas de escrita a cerca de seis mil anos, no que constituiria uma nova forma de preservação dessa memória e de comunicação, transpondo as barreiras do tempo e do espaço.
Somos ainda tributários dos escribas ou copistas que, no seu scriptorium, ajudaram a perpetuar a memória (da) escrita, escrevendo, primeiro sobre rolos de papiro, só mais tarde em pergaminho, precursores do que viria, com o advento dos caracteres móveis e da imprensa (apenas cerca de 1450), a tornar-se num meio de expressão de difusão universal.
E, assim, aqui aproveito também a oportunidade que me foi proporcionada para, publicamente, prestar uma singela homenagem aos que, ainda nos dias de hoje, continuam a dedicar-se ao estudo dos materiais de escrita, das formas gráficas, à leitura dos documentos e livros, assim como dos mais antigos testemunhos do português enquanto língua escrita, a partir da segunda metade do século XII.
Numa era em que a palavra escrita parece viver momentos de crise, chegando mesmo a projectar-se o hipotético eclipse de livros e jornais, com o hipertexto (forma de escrita não sequencial já antecipada por Leonardo Da Vinci nas múltiplas anotações aos seus textos) virtual a conquistar cada vez mais preponderância, são igualmente de louvar iniciativas como a da UNESCO que, preocupada com a preservação, criação e manutenção das diferentes instituições de memória e dos seus acervos, criou o Programa “Memória do Mundo”, propondo que se intensifiquem os esforços visando a preservação de documentos e arquivos históricos.
Também a preservação da memória virtual – a Internet como “memória colectiva da Humanidade” – não poderá deixar de constituir igualmente uma outra preocupação, nomeadamente no que respeita a questões como a longevidade dos suportes ou as restrições de acesso.
E, com dedicatória, assim completo o círculo; para que serve um blogue se nele não podemos escrever o que queremos?
Texto publicado originalmente no Corta-Fitas, em resposta ao amável convite que me foi dirigido por Pedro Correia, a quem reitero o meu agradecimento.
Memória


A 28 de Junho o Memória Virtual completa 5 anos.
Nos próximos dias – até lá -, retomando a sua matriz, o tema em foco será a Memória, em algumas das suas múltiplas vertentes.




