O Pulsar do Campeonato – Supertaça Dr. Alves Vieira
11 Junho, 2023 at 11:00 am Deixe um comentário

(“O Templário”, 08.06.2023)
Culminando um notável trabalho desenvolvido pela equipa técnica liderada por Eduardo Fortes, o Torres Novas somou, à vitória na Taça do Ribatejo, novo troféu, conquistando também a Supertaça Dr. Alves Vieira, a terceira do historial do clube (após os triunfos das épocas de 2007-08 e 2010-11), igualando o palmarés “record” de Riachense, Coruchense e Fazendense.
Defrontando, por coincidência, no seu reduto – tradicionalmente, a prova, em homenagem ao antigo dirigente, Dr. Alves Vieira, é disputada no Estádio que ostenta também o seu nome, na cidade do Almonda – o recém-sagrado Campeão Distrital, U. Tomar, os torrejanos venceram por 3-2, numa partida emotiva, em que o resultado subsistiu incerto até ao último minuto.
A equipa do União entrou a “mandar” no jogo, perante um adversário, como seria previsível, algo na expectativa – em clara aposta em poder tirar partido do erro do adversário – tendo os tomarenses criado, logo nos dez minutos iniciais, três boas ocasiões para inaugurar o marcador.
Pouco passava do quarto de hora quando Wemerson Silva, em plena grande área, terá sentido o contacto de um contrário, acabando por cair no chão. Os unionistas reclamaram grande penalidade, que, a ter sido sancionada, poderia, porventura, ter ditado um cariz substancialmente diferente do desafio. Sem debater questões de intensidade, tendo o árbitro, perto do lance, mandado jogar, será, neste contexto, de conceder o benefício da dúvida.
A toada mantinha-se, até que, aos 33 minutos, num momento infeliz do guardião tomarense – na sequência de um atraso de bola de um seu colega –, a rematar contra o corpo de um rival, vendo a bola anichar-se nas suas redes; um golo que surgia, notoriamente, “contra a corrente”.
A formação torrejana, animada com a vantagem adquirida, mais confiante, soltou-se no campo, e, apenas seis minutos volvidos, aproveitando bem o espaço, Miguel Miguel fez um “mini-slalom”, com um excelente remate em arco, para o poste mais distante, sem hipótese de defesa.
Como que atordoados pelo inesperada evolução do marcador, as coisas piorariam ainda bastante para os tomarenses, outros quatro minutos decorridos, quando, no seguimento de um canto, o defesa central, com um toque involuntário, introduziu a bola na sua própria baliza. Perplexos, os unionistas viam-se – num curtíssimo período de dez minutos – a perder por 3-0!
Se o jogo tivesse terminado ao intervalo, só havia que, assumindo as falhas próprias, dar os parabéns ao Torres Novas, pela extrema eficácia obtida. Há dias assim: em que tudo corre bem para um lado, e mal para o outro. Mas, no segundo tempo, (quase) tudo mudaria…
Marco Marques operou tripla substituição ao intervalo, fazendo sair três (!) defesas, tendo entrado dois avançados, num manifesto sinal de inconformismo. Mas, quando as coisas correm mal, podem ainda correr pior: aos dez minutos, o União via-se em inferioridade numérica.
Por muito estranho que pareça, a partir daí “só deu” U. Tomar. O Torres Novas, mesmo com todas as vantagens (deveras ampla margem no marcador e com mais um elemento), teve monumental “apagão”, incapaz de ripostar, sem conseguir ter bola, “desaparecendo” do jogo, denotando completo esgotamento físico e, em paralelo, também algum “temor cénico”.
Logicamente, os tomarenses reduziram para 1-2, e, quinze minutos depois (aos 78), para 2-3 (com Siaka Bamba, convertido em improvisado “ponta-de-lança”, sensacionalmente a bisar), colocando em causa o desfecho desta final. Até, quatro minutos depois, ficarem reduzidos a nove. E, depois, a oito (contra dez do adversário), continuando, não obstante, a dominar territorialmente… até acabar apenas com o mínimo regulamentar de sete jogadores em campo!
Ainda oito contra dez, já em período de compensação, o União esteve pertíssimo do 3-3, quando Fábio Luzio, desviando de cabeça, quase em cima da linha de baliza, fez a bola sair a rasar o poste. Por seu lado, o Torres Novas, tendo tido possibilidade de ensaiar dois ou três contra-ataques – contra uma defesa então reduzida a dois elementos, com um fantástico Zé Maria, apoiado pelo referido Luzio – não teria forças para levar até ao fim nenhuma de tais investidas, sempre mais apostado em procurar quebrar o ritmo de jogo, recorrendo a expedientes vários.
Revisto o “filme do jogo”, é incontornável falar da arbitragem, tema de melindre, mais quando se é derrotado. João Veríssimo será, necessariamente, um dos melhores árbitros do Distrito, por isso lhe tendo sido confiada a arbitragem deste jogo. Mas, no Sábado, teve um dia que não lhe correu bem… para lidar com o cariz da partida, terá faltado algum discernimento e bom senso.
Na primeira expulsão o jogador tomarense ripostou a uma provocação (encosto de cabeça) de um torrejano, não se compreendendo como tal terá podido passar sem qualquer admoestação. Na segunda expulsão, por duplo amarelo, não se colocando em causa a validade do 2.º cartão, tinham ocorrido, na primeira parte, situações similares, sem sanção. Terá residido aí o “pecado original” da arbitragem: a forma permissiva – a querer deixar jogar – com que abordou essa fase, em flagrante contraponto com a atitude adoptada ao longo do segundo tempo.
A terceira expulsão do União (em simultâneo com a do Torres Novas, já aos 92 minutos) só acontece devido à instabilidade emocional que então assolava já todos os intervenientes, em função das incidências da partida. O jogador torrejano, embrulhando-se com um adversário, agrediu-o, quando ambos caíam, não tendo sido perceptível motivo para a sanção do unionista.
O árbitro perderia, então, por completo, durante instantes, o controlo do jogo, tendo-se assistido a cenas deploráveis, com tentativas de agressão de parte a parte, que, a terem sido levadas “à letra” as leis do jogo, teriam determinado que o mesmo não tivesse chegado ao seu termo…
Por fim, a quarta expulsão, do capitão, ao 12.º minuto do período de compensação, de novo por duplo amarelo, por protestos, após não ter sido assinalada falta evidente contra o Torres Novas, teria sido, nessa circunstância, dispensável. Um óbvio indício de “anormalidade” foi a duração da segunda parte, de 60 (!) minutos, que, ainda assim, não compensou todo o tempo perdido.
Uma nota final muito positiva: após o derradeiro apito do árbitro, os jogadores dos dois emblemas, caindo em si, deram admirável sinal de desportivismo e “fair-play”, abrindo alas para saudar cada uma das equipas, felicitando, à vez, os novos Campeões e os vencedores da Taça e da Supertaça. Tudo está bem, quando acaba bem.
Parabéns ao Torres Novas, que jogou com os argumentos de que dispunha… e ganhou.
II Divisão Distrital – Ficou adiada para a última ronda, agendada para esta quinta-feira, a definição do terceiro clube que acompanhará o Moçarriense e o Forense na subida ao escalão principal. O Vasco da Gama, que visita o Espinheiro, só depende de si, com Riachense (5.º, a três pontos) e Tramagal (4.º somente a um ponto), a defrontar-se, ainda com ténues esperanças.
(Artigo publicado no jornal “O Templário”, de 8 de Junho de 2023)
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