Archive for Março, 2009
Liga dos Campeões – 1/8 Final (2ª mão)
10.03.2009
Juventus – Chelsea – 2-2 / 0-1 (2-3)
Panathinaikos – Villarreal – 1-2 / 1-1 (2-3)
Bayern – Sporting – 7-1 / 5-0 (12-1)
Liverpool – Real Madrid – 4-0 / 1- 0 (5-0)
11.03.2009
FC Porto – At. Madrid – 0-0 / 2-2 (2-2)
Barcelona – Lyon – 5-2 / 1-1 (6-3)
Roma – Arsenal – 1-0 / 0-1 (1-1) – 6-7 g.p.
Manchester United – Inter – 2-0 / 0-0 (2-0)
Cinco anos depois o FC Porto consegue alcançar novamente o apuramento para os 1/4 Final da Liga dos Campeões, fase da prova em que é acompanhado por 4 equipas inglesas (eliminando – para além do Real Madrid – as três equipas italianas, num excepcional resultado de conjunto no triplo confronto anglo-italiano), 2 espanholas (Barcelona e Villarreal – com as duas equipas de Madrid a serem eliminadas), e 1 alemã (Bayern).
Atlas das Línguas do Mundo em risco – UNESCO

A UNESCO disponibiliza um “Atlas Interactivo das Línguas do Mundo em risco” (Atlas of the World’s Languages in Danger) – compreendendo um total de cerca de 2 500 idiomas, dos quais 220 efectivamente já considerados extintos -, facultando pesquisas abrangendo todos os países do mundo, e incluindo blibliografia, artigos e links relacionados com esta temática.
Índia (196), EUA (192), Brasil (190), Indonésia (147), México (144), China (143), Rússia (131) e Austrália (108) estão entre os países com maior número de idiomas ameaçados.
Na Europa, destaque para a Itália (31 – nomeadamente: Alpino-Provençal, Corso, Emilio-Romagnol, Franco-Provençal, Friulano, Ladino, Ligúrio, Lombardo, Piemontês, Siciliano ou Veneziano) e para a França (26 – nomeadamente: Alpino-Provençal, Auvernês, Basco, Bretão, Corso, Franco-Condado, Franco-Provençal, Gascão, Languedoc, Limousino, Lorraino, Normando ou Provençal).
Portugal regista apenas uma língua neste “Atlas”, o Astúrio-Leonês, enquanto que a Espanha apresenta um total de 4: Aragonês, Astúrio-Leonês, Basco e Gascão.
(via Jornalismo & Internet)
Exposição “Arquivo Universal”
Numa colaboração com o MACBA – Museu de Arte Contemporânea de Barcelona, foi inaugurada ontem no Museu Colecção Berardo, em Lisboa, a exposição “Arquivo Universal – O documento e a utopia fotográfica”, apresentando uma evolução do documento fotográfico (a imagem enquanto testemunho histórico) desde 1851, a qual estará patente até ao próximo dia 3 de Maio.
Trata-se de uma mostra de mais de 200 colecções, de cerca de 250 autores (entre os quais se destacam Lewis Hine, Eugène Atget, El Lissitzky, Herbert Bayer, Edward Steichen, Berenice Abbott, August Sander, Weegee, Dorothea Lange, Walker Evans, Agustí Centelles, Xavier Miserachs, Franco Pinna, Allan Sekula, Robert Adams, Martha Rösler e William Klein), com um total de cerca de 1 200 fotografias, organizada em três partes:
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“As Políticas da Vítima” (surgimento do género documental na fotografia e no cinema, associado à representação das classes trabalhadoras);
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“Espaços Fotográficos Públicos”; e
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a fotografia como instrumento para as ciências sociais e para a criação de arquivos de imagens em projectos históricos, desde a “Mission Héliographique” francesa (1851).
PNETMoçambique
Numa iniciativa de José Pimentel Teixeira – visando «um registo o mais completo e actualizado possível do bloguismo em/sobre Moçambique » – foram integrados no portal PNETMoçambique (agregador de notícias) cerca de 140 blogues em actividade, para além de outros cerca de 50 blogues actualmente inactivos.
Rui Silva Tri-Campeão Europeu em pista coberta
O atleta português Rui Silva sagrou-se hoje tri-campeão da Europa dos 1500 metros, em pista coberta, em prova disputada em Turim, repetindo os triunfos obtidos em 1998 (Valência) e em 2002 (Viena) – tendo ainda, por outro lado, obtido uma medalha de prata (nos 3000 metros) em 2000 (Gant).
Na prova de hoje – marcando o seu regresso ao mais alto nível, quase 5 anos depois de ter obtido a medalha de bronze nos Jogos olímpicos de Atenas, em 2004 -, Rui Silva venceu o espanhol Diego Ruiz e o francês Yoann Kowal.
Rui Silva foi também Campeão do Mundo de Pista coberta, em 2001, em competição disputada em Lisboa.
A atleta Sara Moreira conquistou também uma medalha, de prata, na prova dos 3000 metros, sendo batida apenas pela turca (de origem etíope) Almitu Bekele.
Público – 19 anos
No dia em que comemora o seu 19º aniversário, o jornal Público presenteia-nos com uma sessão especial de Bartoon online durante 24 horas, com um novo cartoon a cada hora.
Ao mesmo tempo que António Lobo Antunes (hoje assumindo o cargo de Director do jornal) escreve o editorial do dia, e que o jornal recupera um inventário de “gralhas e disparates” ao longo destes 19 anos e que reflecte sobre o futuro dos jornais em papel (ver também, a propósito, o Jornalismo & Comunicação).
Exposição “A Evolução da Bíblia”

Foi ontem inaugurada a exposição “A Evolução da Bíblia – do manuscrito ao digital”, patente na Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra até ao próximo dia 26 de Março, a qual, a pretexto da Bíblia, pretende apresentar uma evolução do livro em geral.
Via “De Rerum Natura“, aqui transcrevo o guião desta exposição, da autoria de António Eugénio Maia do Amaral:
Séculos XII-XV
A palavra Bíblia, no plural, deriva do grego bíblion (βίβλιον), que significa “rolo” ou “livro”. A Bíblia, de longe o livro mais traduzido e divulgado de sempre, serve-nos nesta exposição apenas como exemplo para mostrar a evolução de todos os livros.
Na época medieval, as bíblias eram copiadas nos “scriptoria” dos conventos e das catedrais, para o uso das respectivas comunidades. Devido ao tamanho da letra escrita à mão, dificilmente se podiam fazer Bíblias inteiras num só volume. Pertencente estilisticamente ainda ao ciclo românico (Séc. XII), a Biblioteca Geral tem uma das mais completas das chamadas “bíblias atlânticas” em Portugal, de que se mostra aqui o volume I, dos quatro que a compunham.
No período gótico (Séc. XIII), o tamanho da letra foi reduzido e o uso intenso das abreviaturas e do velino fino contribuíram para a compactação dos códices. Mesmo assim, raramente pesavam menos de cinco quilos. Os muito, muito ricos podiam oferecer-se cópias manuscritas destas grandes bíblias de aparato, mas contentavam-se a maior parte das vezes com os excertos escolhidos para os seus livrinhos pessoais de devoção chamados “livros de horas”, alguns belamente ilustrados. No livro, a grande novidade humanista do século de Quatrocentos é a leitura individual.
A primeira grande aventura comercial na história da imprensa ocidental foi a produção de uma Bíblia completa, concluída por Gutenberg em 1454 ou 1455. A Biblioteca Geral não tem nenhuma Bíblia de Gutenberg, mas possui uma ainda mais rara, um excelente exemplar em papel da Bíblia dada à estampa pelos seus sócios, Johannes Fust e Petrus Schoeffer, a primeira a conter uma data, local e nome dos impressores. É a chamada Bíblia das 48 linhas e também o primeiro livro na história da imprensa ocidental a conter um “colophon” com uma marca de impressor. Note-se a semelhança (imitação deliberada para não desvendar a sua origem mecânica) entre este incunábulo e os produtos manuscritos, até aí dominantes.
Século XVI
A imprensa desenvolveu-se rapidamente, produzindo em poucos anos “cimélios” de grande beleza e complexidade tipográfica, como a Bíblia poliglota complutense (de Alcalá de Henares), ainda hoje fonte de inspiração pela excelência dos seus tipos gregos, desenhados por Arnaldo Guillén de Brocar. Só veio a ser superada pela poliglota que o orientalista Benedito Árias Montano reviu e Filipe II patrocinou, impressa em Antuérpia pelo famoso Christophe Plantin. Para esta obra, Plantino empenhou a sua fortuna pessoal para comprar o melhor papel e mandou gravar os caracteres a Robert Granjon e Guillaume Le Bé, em Paris. Para o texto hebraico, recorreu aos caracteres já usados na Bíblia de Bomberg. A BGUC possui dois exemplares desta rara Bíblia (imprimiram-se apenas 500 e a maior parte naufragou na viagem para Espanha), que é ainda hoje um trabalho quase insuperável pela complexidade da sua paginação. Em cada página, as várias línguas disponíveis apresentam exactamente a mesma parte dos textos.
A invenção ocidental da imprensa de tipos móveis refundou a história da leitura e estima-se que, em cinquenta anos, tenha multiplicado por cem o número dos livros em circulação. O século XVI será, sobretudo, o tempo das primeiras versões críticas do texto sagrado e das primeiras traduções do Latim para as “línguas vulgares”. Em 1516, Erasmo de Roterdão publicou uma edição crítica do Novo Testamento grego intitulada Novum Instrumentum omne, diligenter ab Erasmo Rot. Recognitum et Emendatum. Na segunda edição do texto, que ficará conhecido como o textus receptus, Erasmo usará no título o termo mais familiar “Testamentum“, em vez de “Instrumentum“. As traduções de Lutero, em alemão (N.T. 1522; A.T. 1534), de Jacques Lefevre d’Étaples, em francês (1528), de Casidoro de Reina, em espanhol (1569) e a tradução por um conjunto de 47 teólogos, conhecida como do Rei James (King James), em inglês (1611), inscrevem-se na profunda aspiração protestante de tornar o texto acessível ao “rapaz que maneja o arado” (William Tyndale) e de colocar uma Bíblia em cada casa. Foram estas traduções da Bíblia as obras que maior influência tiveram na fixação das respectivas línguas literárias, sejam elas o alemão, o inglês ou o checo.
O impressor francês Robert Estienne (1503-1559) foi o primeiro a imprimir (na sua quarta edição do Novo Testamento) a numeração dos versículos da Bíblia, como depois se tornaria habitual. A Biblioteca Geral não tem essa raríssima edição de 1551, mas do mesmo editor podemos mostrar duas Bíblias, sem (1545) e com (1557) a numeração dos versículos, por onde é fácil de avaliar a conveniência da “novidade”. Diz a lenda que o erudito impressor teria numerado os versículos da sua Bíblia durante uma viagem a cavalo entre Paris e Lyon, mas trata-se de uma fantasia, que não considera os trabalhos anteriores, por exemplo de Lefevre e de Panini.
No mundo de língua inglesa, a versão do Rei James (KJV), também com numeração dos versículos e impressa num formato portátil, será a Bíblia mais popular e ainda hoje continua a ser reeditada. Nesta exposição mostra-se um exemplar seiscentista, com vários pertences de família, manuscritos.
Séculos XVII-XVIII
O livro massifica-se e torna-se mais acessível porque passa a estar escrito em línguas que as pessoas conhecem. A primeira tradução para a língua portuguesa (feita a partir das línguas originais) é tardia, foi feita em Batávia (Jacarta) por João Ferreira Annes d’Almeida (1628-1691) e publicada em Amsterdam, em 1681 (Novo Testamento) e em Batávia, em 1748 e 1753 (Antigo Testamento), esta última terminada já após a sua morte (1691) por Op den Akker. Baseada no texto grego, a versão de Almeida discorda quase sempre da “Vulgata”. Tanto bastava para que o tribunal da Inquisição, não tendo podido queimá-lo vivo, o tivesse queimado em estátua, em Goa. A Biblioteca Geral não possui exemplares destas raras edições, mas possui a primeira, princeps, num só volume, feita em Londres, em 1819.
A segunda tradução do Antigo e do Novo Testamento, num português se não melhor pelo menos mais actual, baseia-se na “Vulgata” e consumiu 18 anos de trabalho ao Padre António Pereira de Figueiredo (1725-1797). Esta tradução só foi possível graças ao enfraquecimento da Inquisição em Portugal no século XVIII. A versão em sete volumes (Edição Nova), que é considerada padrão, foi publicada entre 1794 e 1819, e veio a ser condensada num único volume em 1821.
A compactação extrema de grandes livros como a Bíblia só no século XIX se tornou possível, com a invenção de papéis extremamente finos (como o chamado exactamente “papel-bíblia”) produzidos mecanicamente, em contínuo e calandrados para permitir a impressão nítida de pequenos caracteres.Séculos XIX-XX
Os séculos XIX e XX são o período do chamado “livro moderno”, em que o objecto-livro irá atingir a estrutura e as características estilísticas e formais que hoje conhecemos. Passa a ser um produto industrial com a mecanização e explosão de novos impressos (revistas e jornais), traduções para línguas exóticas, edições ilustradas, livros para crianças e a interminável multiplicação das tiragens. Só as sociedades missionárias americanas distribuem por ano mais de 500 milhões de Bíblias.
Em 1803, Roque Ferreira Lobo publica em Lisboa uma adaptação da história sagrada em verso, destinada a meninas “na primeira idade”. O resumo em prosa do francês Martinho de Noirlieu teve entre nós tanta aceitação – numa época tão carecida de livros concebidos especialmente para a infância – que se conhecem, pelo menos, seis edições em português, até 1898.
Podem acrescentar-se a esta lista a Historia sagrada (1850) de José Inácio Roquete e o Mimo à infância (de 1859) do diplomata e pedagogo Aquiles Monteverde, já ilustrado com 50 estampas. A mais conhecida adaptação em diálogos feita pela Condessa de Ségur (La Bible d’une grand-mère,) só saiu na Hachette, ilustrada com 30 gravuras de Carosfeld, em 1869. Note-se que a primeira revista criada para o público infantil, O amigo da Infância, editada no Porto a partir de 1873, era especialmente dedicada à divulgação bíblica.
A imagem acompanhou desde sempre a história do livro: As bíblias latinas manuscritas (a Bíblia românica desta Exposição já é ilustrada) já tinham ilustrações ou pequenas letras capitais iluminadas. Entre os impressos, depois do Apocalipse ilustrado por Dürer, a mais conhecida das bíblias ilustradas (e a primeira toda ilustrada pelo mesmo artista) será talvez a de Gustave Doré, publicada em 1865. A imagem, com efeito, torna-se determinante, no século vinte, em todos os esforços de divulgação do texto sagrado para novos públicos, que passam pelas condensações ilustradas, por alguma aproximação à banda desenhada e pelos produtos multimédia.
O texto original da Bíblia foi escrito em hebraico e aramaico (Antigo Testamento) e em grego (Novo Testamento). A versão latina mais conhecida deve-se a S. Jerónimo, no século IV. É a chamada “Vulgata”. Depois dos séculos de evolução que esta Exposição nos permitiu acompanhar, eis onde chegaram as várias civilizações do “Livro”: Sem entrar na questão histórica da definição dos cânones da Bíblia, mostram-se algumas versões diferentes, nas várias crenças e culturas servidas pelo livro: A latina (um incunábulo ilustrado, de 1493), a hebraica (uma edição venesiana do século XVI, acompanhada de uma Tora actual em português), um Novo Testamento grego (que tem a curiosidade de ter pertencido ao cardeal Mazzarino), uma ortodoxa (facsimile de original seiscentista) em caracteres cirílicos e latinos, a “Bíblia dos Capuchinhos” e outra tradução alegadamente “interconfessional”. A quem estranhe a falta neste núcleo da “Nova Vulgata”, diga-se que ela pode ser consultada a seguir, em texto electrónico. Estes volumes representam o culminar de uma história de séculos na fixação do texto e no aperfeiçoamento da forma da sua divulgação, desde os manuscritos até aos suportes digitais.
Séculos XX-XXI
Com a invenção dos computadores e o início da Internet, o texto bíblico foi das primeiras obras a ser digitalizada e, assim, desmaterializada. Numa transcrição feita pelo próprio Michael Hart, a Bíblia fez parte do lote inicial do Projecto Gutenberg, e fará parte todos os sucessivos repositórios de obras no domínio público, nas suas várias formas. A explicação que o fundador do Projecto Gutenberg dá para a inclusão precoce da obra não deixa de ser curiosa: Estava-se em 1971 e foi por razões de espaço ocupado em disco que transcreveu “primeiro a Declaração da Independência dos EUA (apenas 5 k). A isto seguiu-se a Carta de Direitos — e depois toda a Constituição dos EUA à medida que o espaço começava a ficar maior. Depois veio a Bíblia (já nos anos 80), uma vez que os livros individuais da Bíblia não eram muito grandes, depois Shakespeare (uma peça de cada vez), e Alice no país das Maravilhas”.
As bases de dados textuais e as técnicas de hipertexto vieram permitir novas visões sobre a Bíblia e novas “leituras” do seu texto. Toda a recente polémica sobre a existência de “códigos” escondidos seria impensável sem o recurso ao digital.
Os leitores de e-books (livros electrónicos) permitem-nos hoje transportar num aparelho portátil uma imensidade de livros, entre os quais – se o desejarmos – o texto bíblico. Ou transportar o som da sua leitura, num áudio-livro… Da grande diversidade de leitores disponíveis no mercado, mostram-se dois exemplos actualmente no mercado: o Papyre da empresa espanhola Grammata carregado com 500 obras integrais e um BeBook holandês que lê formatos diversos de texto e também de áudio. No entanto, acreditamos que este livro electrónico não poderá revolucionar o livro e a leitura sem a prévia massificação do “papel electrónico” (e-paper), flexível, escrevível e dobrável, de que também apresentámos um protótipo português, feito especialmente para esta ocasião pela investigadora Elvira Fortunato. Só tecnologias deste género nos podem remeter de novo para as formas de utilização mais cómodas, conhecidas e estabelecidas ao longo de uma história milenar do livro como suporte da informação. Independentemente dos suportes em que se apresentem, trata-se dos mesmos conteúdos pelo que, como Biblioteca, queremos continuar a conservá-los, sob qualquer das suas formas, durante os próximos 500 anos.
Guiné-Bissau – País de futuro (?)
A propósito do momento atribulado que, uma vez mais, se vive na Guiné-Bissau – um dos países mais pobres do mundo -, com os assassínios, em dias consecutivos, do Chefe do Estado Maior das Forças Armadas do país, General Tagmé Na Waié, e do Presidente da República, João Bernardo (“Nino”) Vieira (entre os quais haveria uma forte rivalidade), aqui recupero um texto que tinha já publicado no Memória Virtual, em Setembro de 2003. Infelizmente, cerca de 5 anos e meio (e quase 11 anos depois da minha estadia), a evolução do país pouco parece ter tido de positivo…
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Estive na Guiné-Bissau no ano de 1998, por duas vezes, nos meses de Janeiro e Abril (regressei cerca de um mês antes do “golpe de Estado” de Ansumane Mané), prestando colaboração profissional na EAGB – Electricidade e Águas da Guiné-Bissau, em missão ao serviço do Banco Mundial.
O Banco Mundial concedera financiamento ao Estado da Guiné-Bissau, a afectar especificamente ao investimento em infra-estruturas de distribuição de água e energia eléctrica. A missão seria recorrente, caso não se tivesse seguido uma época conturbada na história do país, com a paralização quase integral da economia, que terá levado a que o Banco Mundial tivesse de vir a perdoar a dívida.
No segundo semestre de 1998, e também na primeira parte de 1999, as instituições bancárias na Guiné-Bissau estiveram inoperacionais; na época, foi Cardoso e Cunha (antigo Comissário Europeu e depois responsável de primeira linha na EXPO98) que investia numa fábrica de cervejas, a qual viria a funcionar como “banco”, pela intermediação que proporcionava, a nível da disponibilização de fundos.
A EAGB reflectia um pouco a realidade do país: fora dirigida nos anos anteriores por responsáveis franceses (da EDF – Electricité de France), que haviam contribuído para que a empresa se organizasse e equipasse, nomeadamente, em termos administrativos, a nível informático, mas com elevados custos decorrentes das “comissões de gestão” impostas. Encontrava-se em processo de reestruturação, com avultados investimentos em grupos geradores eléctricos (operando a fuel/gasóleo, uma fonte de produção de energia extremamente dispendiosa, uma vez que, na ausência de barragens, o país não dispunha de produção hidro-eléctrica) e em infra-estruturas de distribuição de água.
A gestão francesa acabara de partir (a meio de 1997) e deixara os guineenses um pouco “entregues à sua sorte”. Previa-se a abertura de um processo de privatização da empresa, ao qual se supunha viessem a concorrer, pelo menos, a EDP (portuguesa) e a EDF (francesa); projectos que ficaram adiados.
Os franceses tinham uma presença importante, inclusivamente a nível cultural, mas os resultados da sua intervenção não eram efectivamente visíveis. Podia talvez sublinhar-se como intervenção mais “desinteressada” a cooperação prestada pela Suécia.
As infra-estruturas do país, não obstante os então recentes investimentos em curso, transitavam ainda, em larga medida, da época colonial; o país parecia ter parado nos últimos 25 anos, com traços visíveis de degradação, nomeadamente nos próprios edifícios mais importantes de Bissau.
A chegada a Bissau – para quem contactava pela primeira vez com a realidade africana – foi um “choque”, começando pelo clima tropical (um “bafo” extremamente quente, à saída do avião, no início de Janeiro, com o “ar pesado” devido ao elevado nível de humidade), pelas sumárias “infra-estruturas” do aeroporto; a primeira visita à cidade de Bissau não deixou de ser uma experiência “enriquecedora”: a singeleza da cidade, os seus edifícios degradados, em contraste com a “agressiva” dinâmica do trânsito automóvel (talvez com cerca de 60 % de “táxis”) e com a imensidão de gente que se acumulava à beira da estrada (entre o aeroporto e a cidade) e no “Mercado do Bandim” (se bem me lembro do nome), vendendo de tudo um pouco (principalmente produção agrícola básica, nomeadamente frutas tropicais).
Mas, ao mesmo tempo, a simpatia calorosa do povo guineense, a sua “reverência” para com os portugueses e o instinto de “portugalidade” que transportavam ainda (durante a semana, era fácil ouvir em espaços públicos a RDP Internacional; ao fim-de-semana, toda a gente vibrava com os relatos de futebol; na segunda-feira, discutiam-se as exibições do Benfica, Porto e Sporting como em qualquer localidade portuguesa…).
Um povo que aparentava contentar-se com pouco; não dispondo de uma infinidade de recursos materiais que temos normalmente no nosso dia a dia, mas, não obstante, um povo “feliz”. A esplanada da “Baiana”, numa das principais praças (“Che Guevara”, mesmo ao lado da EAGB) era o ponto de encontro da comunidade portuguesa, assim como o restaurante “Asa Branca” (se bem me recordo dos nomes, a esta distância temporal). Havia até uma discoteca “Kapital”!
A Guiné era um país absolutamente tranquilo, onde era possível, sem qualquer tipo de receio, andar sozinho na rua à noite (por exemplo, na estrada que ligava o aeroporto à cidade, tendo o Hotel a “meio do caminho”), sem qualquer iluminação pública, ou seja, completamente às escuras.
Nada indicava que, cerca de um mês depois, fosse desencadeada uma guerra, nunca completamente esclarecida, mas que terá sido despoletada tendo por motivação a defesa de interesses de um conjunto de militares. Foi um processo doloroso, em que a Guiné terá sofrido grande destruição.
Procurou-se depois instaurar um regime democrático, mas o processo tem sido muito complexo, desde logo com as divergências entre o primeiro-ministro do governo de transição e o Presidente da República (Kumba Ialá) e, mais tarde, com a morte do líder dos revoltosos de 1998 (Ansumane Mané).
Passaram cinco anos. Em que o país esteve “parado”. Um compasso de espera demasiado longo para quem tem tanto (quase tudo) por fazer.
Ontem, novo “golpe de Estado”, como sempre partindo dos militares; que interesses estarão na sua base? Quais os seus objectivos e consequências? Haverá condições para a realização de eleições minimamente livres? Poderemos esperar alguma evolução na democracia guineense no curto prazo?
Para que a Guiné-Bissau possa vir a singrar no contexto dos países da África Ocidental, para que seja um “país de futuro”, é absolutamente imprescindível (passe o pleonasmo e a evidência que se segue) que possa ser “bem governada”; não dispondo de particulares recursos naturais, é essencial que a cooperação internacional seja utilizada em proveito de todos os guineenses e do real desenvolvimento do país. É fundamental que haja estabilidade política que permita criar as condições para atrair o investimento estrangeiro. Não será uma tarefa fácil, mas depende principalmente dos guineenses!
(ver, a propósito, o artigo de Francisco Seixas da Costa no seu blogue Duas ou três coisas, “A Tragédia da Guiné“).
Biblioteca Virtual de Prensa Histórica
Numa iniciativa do Ministério da Cultura espanhol – decorrendo de convénios celebrados com várias Comunidades Autónomas e outras instituições, como a Hemeroteca Municipal de Madrid -, foi hoje apresentada a “Biblioteca Virtual de Prensa Histórica“, facultando o acesso livre a cerca de 2 000 jornais publicados em Espanha desde o século XVIII (datando o exemplar mais antigo de 1777), num total de cerca de 4,3 milhões de páginas digitalizadas, incluindo igualmente publicações de imprensa clandestina, nomeadamente cerca de 90 000 páginas do Partido Comunista de Espanha.








