“A FILHA DO CAPITÃO" (III)
Na minha opinião, José Rodrigues dos Santos arriscou e ganhou.
Ganhou pela diversidade que caracteriza a sua obra, desbravando novos caminhos, enriquecendo o panorama literário português, colocando também a fasquia a um nível bastante elevado.
O seu romance, embora abrangendo um período temporal que intersecta a época tratada por Miguel Sousa Tavares em “Equador” (o reinado de D. Carlos), acaba por ter nesse período o ponto de partida para uma acção que se centra sobretudo na Flandres nos anos de 1917/1918, culminando com o comovente regresso a França em 1928, à (re)descoberta do seu passado.
A envolvente é diferente, assumindo a crueza da guerra de trincheiras um papel fulcral na narrativa, também com um intenso trabalho de reconstituição histórica.
E, não obstante tivesse por “matéria-prima” de trabalho, não o “calor tropical” do Equador, mas antes o frio gélido do Inverno da Flandres, a história não deixa de ser empolgante.
Através de Afonso e dos seus companheiros de armas, superiores hierárquicos e subordinados, é também um retrato de Portugal – de então, como de hoje… – que é esboçado, não deixando sem referência o laxismo, a ausência de orientação estratégica, de liderança e de organização, o alheamento ou desmotivação, o improviso, mas também o voluntarismo e a generosidade.
[1866]
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